3ª COPA DO MUNDO – 1938 NA FRANÇA
Numa tentativa de amenizar o clima de guerra existente na Europa, Jules Rimet fez questão de levar a Copa para a França, em detrimento aos interesses da Argentina e Alemanha em sediar a competição. Segundo os argentinos deveria ser na América do Sul tendo em vista que a Copa anterior foi na Europa. Já o interesse da Alemanha era propagar o nazismo. Foi um mundial dos europeus, pois, somente três países de outros continentes se fizeram presentes. Contando com a participação de 15 países, sob tensão e medo pela grave situação internacional e pelo prelúdio de uma guerra mundial, aconteceu a 3ª Copa do Mundo. Essa competição propiciou através do futebol jogado, momentos de alegria durante praticamente quinze dias, e esse grande evento do esporte foi o último antes da guerra que viria no ano seguinte. Em virtude da crise política as presenças das seleções alemã e italiana geraram protestos pelos franceses contra o fascismo e nazismo, pois, ainda não se tinham esquecidos os acontecimentos da copa de 34 onde muitos questionamentos persistiam. As duas primeiras edições tinham sido ganhas pelas seleções anfitriãs e nessa copa seria diferente. Além de ter vencido a Copa anterior e ganho a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, a Itália era a equipe a ser batida. O regime fascista aproximava-se do auge e conquistar o bicampeonato mundial era uma questão de honra para o ditador italiano.
O BRASIL NA COPA
Com as brigas dos cartolas deixado de lado e sem bairrismos o nosso selecionado foi o melhor convocado antes da segunda guerra mundial. A equipe foi confiante para a França. O Brasil só se classificou para a Copa devido a desistência da Bolívia. Logo na estreia uma vitória sofrida na prorrogação contra a Polônia por 6 a 5, onde se destacou o atacante Leônidas.
Já nas quartas de final contra a Tchecoslováquia que ainda contava com o artilheiro da Copa anterior, Nejedlý, o Brasil precisou de 210 minutos para passar para a outra fase. A partida e a prorrogação terminaram empatadas em 1 a 1 e foi necessário um jogo extra para definir o semifinalista. Com as duas equipes desfalcadas devido a violência do jogo anterior, quarenta e oito horas depois entraram em campo. O Brasil venceu de virada por 2 a 1, gols de Leônidas e Roberto. Contam que quando estava 1 a 1, no começo do segundo tempo, o goleiro brasileiro Walter se atrapalhou e deixou a bola passar da linha da meta, num chute do atacante tcheco, por sorte o árbitro não percebeu.
A semifinal seria jogada no dia de Corpus Christ o que propiciou que milhares de torcedores pudessem acompanhar a partida através da transmissão via rádio por Gagliano Netto, o único locutor brasileiro no mundial. Quem acompanhou a partida diz que o nosso escrete entrou de salto alto. Além disso o nosso treinador Adhemar Pimenta em uma decisão errada resolveu poupar o Leônidas, alegando uma contusão no mesmo, quando na realidade o atacante tinha plenas condições de jogo. Resultado, Itália ganhou por 2 a 1. Existe a alegação do zagueiro brasileiro Domingos da Guia, que o pênalti feito por ele, foi numa falta fora do lance e com a partida parada. A verdade é que ele perdeu a cabeça e chutou o atacante adversário. Romeu marcou o único gol do nosso selecionado nessa partida.
Depois da vitória italiana sobre o time brasileiro o jornal La Gazzetta dello Sport, de ideologia fascista escreveu: “Saudamos o triunfo da inteligência branca italiana sobre a força bruta dos negros”. Na decisão do 3° lugar, contra a Suécia, Leônidas foi escalado e a seleção venceu por 4 a 2 terminando sua participação até aquela data, a melhor em uma Copa.
Seleção brasileira:
Afonsinho, Argemiro, Batatais, Brandão, Brito, Domingos da Guia, Hercules, Jau, Leônidas, Lopez, Luizinho, Machado, Martins, Nariz, Niginho, Patesko, Perácio, Roberto, Romeu, Tim, Walter, Zezé Procópio e técnico Adhemar Pimenta.
DECISÃO DA COPA
O rival italiano seria a Hungria que até aquela data vinha fazendo uma excelente campanha. Seu ataque já tinha feito 15 gols na competição. Mesmo tensa com a pressão do ditador Mussolini, após receber mais um telegrama com a mensagem “vencer ou morrer”, o time da Azzurra foi para o jogo. Levava em conta o retrospecto contra os húngaros, tinha três vitórias e um empate nos últimos quatro anos. A partida foi bastante movimentada e com muitos gols. A Itália venceu por 4 a 2. Surgiu então a primeira seleção bicampeã mundial. Os destaques dessa partida foram os italianos Colaussi e Piola, ambos com dois gols.
CURIOSIDADES DA COPA
O jogo Brasil e Tchecoslováquia ficou conhecido com Batalha Campal. Os jogadores abusaram das jogadas duras devido a fraca arbitragem do húngaro Paul Von Hertzka. O goleiro tcheco saiu com um braço quebrado e o artilheiro Nejedlý contundido, foram parar no hospital. Machado , Zezé Procópio (Brasil) e Riha (Tcheco) foram expulsos.
Participaram 15 países: Alemanha, Bélgica, Brasil, Cuba, França, Holanda, Hungria, Índias Holandesas, Polônia, Itália, Noruega, Romênia, Suécia, Suíça e Tchecoslováquia.
A Áustria anexada a Alemanha pouco antes do mundial não pode se apresentar contra a Suécia em seu primeiro jogo. Foi o único WO das histórias das Copas. Seus jogadores foram incorporados pela seleção alemã. O judeu Mathias Sindelar, um dos craques da extinta seleção austríaca se recusou a defender uma seleção anti-semita e se suicidou após o término da Copa.
Em 18 partidas foram efetuados 84 gols – média de 4,67 gol por partida
Média de público – 26.833 (existe controvérsia – 20.888) pessoas
Artilheiro – Leônidas do Brasil com 7 gols.
Craque da competição – Leônidas do Brasil
Melhor goleiro – Planicka (Tcheco)
Campeã – Itália
Vice-campeã – Hungria
3° lugar – Brasil.
No jogo contra a França a Itália se apresentou com o uniforme todo preto. Camisas, calções e meias pretas, a cor do fascismo.
Em sua partida de estreia o selecionado alemão empatou em 1 a 1 com a Suíça. No jogo de desempate a Alemanha chegou a abrir um placar de 2 a 0. Foi enviado um telegrama a Adolf Hitler informando o resultado, só que os suíços viraram o placar e venceram por 4 a 2, eliminando a equipe alemã.
A Espanha era uma das favoritas ao título mas não participou devido a guerra civil em seu país.
O Brasil pela primeira vez usou camisas azuis. Utilizava na época camisas brancas.
A Itália era a única seleção que se deslocava de avião entre as sedes da competição.
Foi a primeira Copa do Mundo com transmissão via rádio para vários países.
Niginho, centroavante brasileiro, descendente de italianos em 1933 foi contratado pelo time italiano da Lazio. Em 1935 foi convocado para servir o exército da Itália. Fugiu para o Brasil onde defendeu as equipes do Palmeiras e Vasco. Foi convocado para a seleção brasileira em 1938 para ser reserva do Leônidas. Quando o Diamante Negro não pôde atuar na semifinal contra a Azzurra, Niginho foi escalado. A Itália protestou alegando que Niginho era italiano, tinha trabalhado no país e tinha fugido do serviço militar. A comissão técnica do Brasil optou por não utilizar o atleta para não correr risco.
Na prorrogação contra a Polônia a chuteira do atacante Leônidas rasgou, ficou como uma boca de jacaré. Como não tinha outra de número 36, seu número, tirou o calçado e num rebote da cobrança de uma falta o craque brasileiro fez o gol com o pé descalço. O árbitro só não percebeu porque chovia e a lama mascarou a falta da chuteira. Gol validado.