Naquele tempo ainda vivíamos o auge da madeira e o transporte ferroviário era o principal meio de escoamento de nossas cidades. Grandes indústrias com suas chaminés soltando fumaça, trens saindo e chegando a todo momento eram corriqueiras. Empresas de grande porte, como Madeireira Miguel Forte, Tomazi, Bordin, Fernandes, Dissenha, Rutemberg, Selectas e tantas outras, alavancavam a nossa economia. No lado esportivo, tínhamos um futebol amador de primeira grandeza e a competição entre empresas era esperada pelos trabalhadores. As empresas contratavam para seu quadro de funcionários pessoas que jogassem futebol, escolhiam os melhores jogadores e montavam verdadeiras seleções. A competição esperada era o campeonato organizado pelo SESI que tinha sua sede na rua 7 de Setembro, onde hoje é o Cartório Costa. Sempre priorizando pela organização e regulamento rígido, a instituição SESI promovia competições, sempre obedecendo ao que estava escrito no regulamento e é baseado nisso que conto uma pequena história.
O campeonato de futebol de campo daquele ano estava pegando fogo. Os times das empresas eram verdadeiras seleções. Como nunca, aquele ano não tinha nenhum favorito, a classificação estava embolada. Já chegando na reta final várias equipes tinham condições de serem campeãs. Tinha uma equipe que todo ano chegava na final e não conseguia levar o caneco. E não foi diferente nesse ano, a equipe chegou novamente na final.
A partida foi realizada no Estádio Bernardo Stamm. Já nos vestiários, que eram embaixo das arquibancadas, os atletas das equipes estavam se fardando, ou seja, colocando os uniformes. Foi aí que surgiu o primeiro problema. O roupeiro daquela equipe que sempre chegava na final e nunca ganhava comunicou ao treinador que tinham roubado parte das meias, só tinham sobrado nove pares, portanto faltava um par de meia para fardar os dez atletas, pois o goleiro poderia jogar com uma meia diferente. As meias eram personalizadas, ou seja, não existiam iguais. O juiz trilava o apito chamando a equipe. Os adversários já estavam em campo. O regulamento era claro. A equipe que não estivesse com uniforme completo perderia os pontos e seria eliminada. E agora o que fazer? O que se viu a seguir foi o treinador sair correndo, ir até o seu fusca, pegar um facão e voltar para o vestiário. Como as meias eram bem compridas, estilo meião, o treinador cortou com o facão o cano de um par de meias, com isso um atleta adentrou ao gramado com as meias mais curtas e outro atleta usou os canos simulando que estaria com meias iguais.
A equipe, enfim, conseguiu ser campeã, ganhou por 4 x 3. Então, surgiu o segundo problema, o adversário descobriu a mutreta e entrou com protesto. Não se sabe como conseguiram, anexaram ao protesto os canos das meias cortadas. O regulamento, é claro, diziam, os adversários não estavam uniformizados corretamente, por isso perderiam os pontos e seriam eliminados. Diante do fato inusitado, foi criado uma comissão especial para julgar o caso. Ficaram uma semana discutindo e não chegaram a nenhum veredito. Foi aí que entrou o bom senso da equipe que perdeu em campo, retirou o protesto e a equipe vencedora da partida foi declarada campeã.