“XEQUE” EM PAULA FREITAS – “BIXEQUE” NO PORTO
Lá pelos idos de 1969, com 14 anos de idade já estava na labuta. Sempre viajando de rural nos finais de semana, junto com um libanês conhecido como Turco Armando Sati, mascateava vendendo roupas e acessórios nas empreiteiras que estavam construindo a BR 476, trecho entre União da Vitória e São Mateus do Sul.
Como gostava muito de futebol fez um acordo com o Turco para agilizarem o trabalho de domingo, só assim poderia assistir ou praticar o esporte bretão, que adorava.
Sabedor que todo domingo tinham jogos em Rondinha e o patrão colaborava com uma equipe, em poucas passadas já era titular desse time. Fez sua estreia entrando no segundo tempo, onde atuou pela lateral direita e se tornou titular absoluto, pois arrebentou na partida. A presidente do time, Dalva Bueno e os diretores naquela data oficializavam a contratação do Xeque, nome do atleta estreante.
Em quase dezoito anos atuando em Paula Freitas o Xeque (alcunha em Paula Freitas) e Bixeque em União da Vitória, se sente muito orgulhoso e honrado de ter feito parte do esporte daquela localidade. Perguntado por mim o porquê de ter escolhido Paula Freitas em detrimento das cidades irmãs, respondeu sem pestanejar que foi o carinho daquele povo, além dos mimos recebidos ($$$$$$$).
Baseado nas histórias contadas pelo Xeque, cujo nome é Aramis A. Fernandes, fui conferir in loco e procurei saber mais do esporte de Paula Freitas.
Tive a alegria de ser recebido na residência da presidente do Palmeiras Futebol Clube, a Sra Dalva Bueno, que com os olhos marejados confidenciou a saudades daquele tempo e relatou vários fatos pertinentes a época.
Percebendo que a equipe do Palmeiras estava praticamente acabando e por ter quatro sobrinhos que defendiam as cores, Dalva Bueno resolveu assumir o time. Como primeira atitude se dirigiu até União da Vitória e comprou todo o fardamento para os atletas. Calções verdes com listas brancas, camisas e meias verdes. Para fazer frente as despesas da equipe muitas vezes foram organizados bailes, concursos de rainha e rifas. Para reforçar o seu elenco contratou quatro atletas do “Porto”, nome dado para quem morava em Porto União da Vitória. Nos dias de jogos esses atletas faziam as refeições no restaurante da presidente.
Contou-me que o time sempre tinha algum dinheiro em caixa, pois necessitava fazer um mimo aos seus atletas, para não correr o risco de perdê-los para equipes adversárias.
Ainda fazendo parte dos relatos da presidente, disse ter lembranças vivas como se fossem hoje, do Xeque, chegando na Rondinha com sua mochilinha nas costas. Era uma raça pura, tamanha a vontade dentro das quatro linhas.
Também o Miguel Dolene arremeteu os seus pensamentos para àquela época gloriosa e disse ter a viva lembrança do Xeque limpando a sua área defensiva, era o meu zagueiro e jogava muito, disse.
Para quem não sabe vários times fizeram história em Paula Freitas. Equipes como Palmeiras, Botafogo, São Carlos e Jarivá (Rondinha de Cima) se enfrentavam proporcionando verdadeiros clássicos de futebol. Mas indiscutivelmente, a rivalidade grande era entre Palmeiras e Botafogo. Pena que através dos tempos só sobreviveu a equipe do Botafogo.
Um dos torcedores mais apaixonado e fanático pelo Palmeiras era o Sr. Nardo Procópio, pois quando a equipe fazia um gol ele tirava o chapéu e bradava: “ E foi a Rondinha Velha”.
Um fato, também inédito na Rondinha, foi o embate entre o Palmeiras e a Associação Atlética Iguaçu. Dois a dois foi o placar final. A equipe iguaçuana tinha em seu elenco os melhores jogadores que passaram pela Associação. Diante disso da para se prever a qualidade que tinham os atletas do Palmeiras. Mais de 2000 pessoas se aglomeraram ao redor do campo para assistir ao famoso jogo.
Entre tantos, passaram pelo Palmeiras os atletas: Roberto, Miguel Dolene, Xeque, Pelé, Lucio, Estefano Senkiv, Jeca Bueno, Juja, Serginho, Bagre, Arisinho, Nestor Dolene, Nelson, Pavoski e Valdir.
Para muitas pessoas, o maior craque que passou pelo Palmeiras foi o Jeca Bueno e o melhor zagueiro foi o Xeque..
Com o advento do futebol suíço o futebol de campo foi deixando de existir e hoje em Paula Freitas não existe mais campo de futebol. Também sucumbiram as tradicionais equipes e, somente o Botafogo, como relatei anteriormente, sobreviveu.