Lá pelos idos de 1944, mais precisamente, 27 de janeiro, tentando atar um prélio futebolístico com o Juventus F.C. de Porto União para o dia 07 de janeiro de 1945, autorizado pelo presidente do União Sport Club de Felipe Schmidt, José Santa Clara, o seu secretário, Lourival Ribeiro, encaminhava uma missiva ao Sr. Armando Sarti, presidente do já famoso esquadrão juventino. Vale lembrar que o contato via carta só foi efetuado porque os fios que interligavam o sistema de telégrafo Felipe Schmidt/Porto União estavam interrompidos, tinha caído um poste de madeira. Acertados os principais detalhes, principalmente, garantindo as passagens de trem de ida e volta, bem como o almoço para 22 jogadores, a contenda foi atada via telégrafo, já recuperado.
E naquele domingo, 07 de janeiro, às 06 horas com todos embarcados no comboio, após o “pode” (sino badalado pelo Agente de Estação) e apito da Locomotiva Maria Fumaça autorizado pelo Chefe de Trem, partiu da Estação Ferroviária União o trem para São Francisco, levando a delegação do tricolor pó de arroz com destino ao distrito de Felipe Schmidt.
Duelando ainda pela manhã, os elencos de aspirantes ficaram em igualdade, quando o escore não foi aberto. No confronto dos quadros principais, já no período vespertino, prevaleceu o esquadrão da casa, de virada, na segunda metade do tempo regulamentar. Após estar em desvantagem por um tento a zero, o União virou o cotejo para dois a um e saiu triunfante da peleja. Derrubando a cidadela do guardião visitante, brindou o grande povaréu torcedor do quadro de Felipe Schmidt, com dois tirambaços do meio da rua, o ponta de lança matador, Lulo, que teve uma atuação exuberante, dando um banho de bola no jovem beque juventino, Ivo Hercílio Wolff (ao longo dos anos se consolidou como o melhor beque de área que Porto União da Vitória viu atuar).
Após a contenda da tarde, enquanto aguardavam o trem que vinha de São Francisco do Sul, conhecido como Bananeiro, os jogadores participavam da domingueira (dança de salão) organizada pela turma da casa para os membros da comitiva visitante. Nesse ínterim, ao sair do salão para fazer pipi no mato, um jogador do Juventus, não vou escrever o nome porque já “secou a quirera” (finou-se) e não pode confirmar ou tentar desmentir, roubou 10 voltas de linguiça que estavam penduradas numa peça ao lado onde o pessoal estava saracoteando.
Já passados uns minutos das 19 horas e todos embarcados no trem que acabara de chegar, antes que fosse dado o “pode” pelo Chefe de Estação para o comboio partir, alguém começou a gritar dizendo que tinham roubado todas as voltas de linguiça, afirmava que fora visto um jogador do Juventus entrando no local onde elas estavam penduradas, mas que não tinha como identificá-lo. O mal estar pela acusação gerou um sururu e, após todos descerem do vagão de passageiros, as bolsas foram revistadas, e como as linguiças não apareceram, os jogadores foram autorizados a tomar novamente os seus assentos no vagão. Com um pedido de desculpas dos dirigentes do time de Felipe Schmidt o comboio teve autorização para partir.
Chegando a Porto União da Vitória, já passados das 21 horas, ao descerem todos os passageiros, um dos atletas do Juventus, às gargalhadas, com os dois braços abertos, exibia em cada um, cinco voltas de linguiça. Diante do presenciado, também ficou elucidado o fato ocorrido num treinamento do Juventus no campo do Colégio São José (nem existia o projeto para construção do Estádio Municipal de Porto União que foi inaugurado em 1949) onde o tricolor pó de arroz realizava seus treinamentos. No treinamento, disputaram a bola pelo alto dentro da pequena área, o guarda metas dos aspirantes e um novo dianteiro dos titulares (o mesmo que roubou as linguiças). O guapo estava treinando com um relógio de pulso e, ao cair com a bola catada, percebeu que o seu marcador de horas tinha sumido misteriosamente. Analisando friamente os dois fatos, o sumiço do relógio e furto das linguiças, após forte pressão de todos na estação, o dianteiro confessou o delito. Diante da confissão, o jogador larápio foi excluído do esquadrão juventino. Então, foi passado um telegrama para Felipe Schmidt em que a diretoria contava os acontecidos na chegada em Porto União da Vitória e, pedia sinceras desculpas se colocando a inteira disposição para ressarcir o valor das linguiças.
DESDE ANTIGAMENTE, FOI MAIS QUE CHUTAR UMA BOLA (1)
Coisas da bola
Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.
Qualquer semelhança será puro acaso.
“Jair da Silva Craque Kiko”
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