O LADRÃO DE TOALHAS

O LADRÃO DE TOALHAS

Coisas da bola

Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.

Qualquer semelhança será puro acaso.

“Jair da Silva Craque Kiko”

Disputávamos o campeonato paranaense e jogaríamos no norte do Paraná naquele domingo da década de 1970. Ficamos concentrados em um hotel cinco estrelas em uma cidade que ficava a poucos quilômetros do local do jogo. Jogamos e levamos os dois pontos (cada vitória valia dois pontos). Retornamos até a cidade vizinha para o jantar e efetuar o fechamento da conta do hotel.

Quando retornávamos para nossa cidade e já tínhamos viajado uns 30 km, o nosso ônibus foi parado pela polícia. Os policiais queriam revistar a bagagem, pois tinham recebido uma queixa do dono do hotel, que alegava que haviam roubado uma toalha de rosto e uma de banho, toalhas personalizadas com o nome do hotel. Após discussões, chegou-se a um acordo. Para evitar constrangimento caso a bagagem fosse revistada e encontrassem as toalhas, o chefe da delegação resolveu ressarcir o valor das toalhas. Retornamos até o Hotel para pagar, só que o dono não queria dinheiro referente às duas toalhas, ele queria que todas as toalhas dos 25 apartamentos fossem ressarcidas, pois alegava que o referido hotel era padrão em organização e todas as toalhas teriam que ser iguais e, o jogo de toalhas estava desfeito. Após muita conversa e, para que pudéssemos retornar logo, foi pago o valor referente a 50 toalhas, 25 toalhas de rosto e 25 de banho.

Durante a viagem de volta novo sururu foi instalado no ônibus, pois a maioria dos atletas sugeria que fossem revistadas todas a malas para descobrir quem tinha roubado, até porque ficou no ar que todos eram ladrões. Com intervenção do diretor de futebol, os ânimos foram serenados e não houve revista nas malas, até porque, o ambiente do time era muito bom e estávamos nas cabeças da competição e, numa possível revista nas malas as toalhas apareceriam e o ambiente e união dos jogadores poderia ser afetado.

Tempos mais tarde foi descoberto o larápio. Ele assumiu o delito após ter enchido a cara de cachaça em uma festa. Contou para um atleta recém-contratado e, disse ainda, que continuava a roubar toalhas nos hotéis, só que havia mudado a tática. Contou que logo que a delegação chegava para se hospedar, ele roubava as toalhas. Em seguida ligava para a portaria pedindo toalhas, alegando que não havia nos aposentos. Normalmente lograva êxito no seu intento e levava para casa as toalhas. Após o meliante ter aberto o bico, o fato chegou ao conhecimento do presidente do Clube, que no ato, convocou o ladrão para uma reunião em seu escritório. Após fazer o larápio confessar o ilícito, mesmo com dor no coração, pois o autor da proeza era considerado uma pessoa ilibada, bem referenciada e era o principal responsável pelas ótimas campanhas que o time vinha fazendo, o presidente o demitiu. Para que seu nome não fosse divulgado no episódio, na rescisão contratual, ficou definido que ele é quem rescindiu com o clube por ter uma proposta irrecusável, abrindo mão de todos os seus vencimentos e direitos trabalhistas. Então, foi contratado um novo profissional para comandar o elenco.
Anos depois, já em final de carreira fui contratado por outra agremiação. Ao chegar ao novo clube para ser apresentado para os demais jogadores, dei de cara com o fulano. Na primeira oportunidade, a sós, ele me pediu para não contar nada daquele ocorrido. Como o meu objetivo era atuar dentro das quatro linhas e não tinha nada a ver com a vida dos outros, disse para ele que não sabia de nada. Mesmo em final de carreira, talvez por ser um dos mais experientes daquele elenco, durante aquele certame ele me fez titular em todos os prélios, bem como, no braço esquerdo também me fez levar a braçadeira de capitão.
Quem acompanhou a minha história como atleta de futebol, que, aliás, começou em décadas passadas e terminou num tempo não muito recente, talvez possa imaginar quem foi. Eu é que não vou dizer o nome dele. Nunca disse.

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