Após muitas reivindicações, enfim, foi organizado um campeonato de futebol para o interior de Porto União da Vitória. Seria um campeonato de futebol sete. Após reunião, foi realizado o sorteio para ver onde seria a primeira rodada. Coube a uma localidade de União da Vitória, naquele domingo ensolarado, ser a anfitriã dos jogos da largada do certame.
Enquanto os prélios corriam soltos dentro das quatro linhas, com lotação total de público, torcedores e amigos vibravam e batiam papo ao lado do tapete verde. E foi, em frente de um chiqueiro, próximo do campo, onde eram criados javalis, que um amigo que fazia parte da organização da competição, foi abordado por um senhor que supostamente era dono dos javalis. O papo principal entre os dois girou em torno dos porcos, onde o homem explicou que os animais possuíam uma carne muito saborosa e tinham um preço acessível. Já com a proximidade de comemorar a data de seu aniversário, o meu amigo, devido a propaganda feita sobre a carne, acertou a compra de dois javalis, que deveriam estar carneados e prontos para o consumo no próximo sábado. Deixou pago e, ficou combinado, que na próxima sexta-feira viria buscar os animais.
Na sexta-feira da semana seguinte, ele se dirigiu ao interior para buscar os porcos que seriam assados na sua festa, segundo a receita de um Chef, em papel alumínio. Chegando ao local, foi recebido por uma pessoa, que se identificou como dono da casa. Então, explicou para ele, que tinha comprado e deixado pago dois javalis e que viera buscá-los, conforme o combinado no domingo anterior. Surpreso, o dono da casa respondeu: Tem alguma coisa errada nessa prosa. Eu não vendi nenhum javali e não recebi nada de ninguém. Diante do imbróglio e das explicações de ambas as partes, chegaram a seguinte e verdadeira conclusão: Os javalis foram vendidos por um malandro que se aproveitou da oportunidade e ”entrouxou” no meu amigo. O problema maior não foi o tipo de carne ter que ser substituída por outra na festa de aniversário, e sim, que o meu amigo não se conformava em ter sido logrado “na cara dura”. Acompanhando todas as rodadas do certame do interior, o amigo vivia “caçando” o malandro, até porque, o meliante não lhe era estranho, mas não conseguia lembrar-se de onde o conhecia.
Passado uns meses, já no ano seguinte, enquanto o meu amigo atendia a sua clientela em seu restaurante, eis que do nada, na fila para se servir, estava o tão procurado “vendedor dos javalis”. Após ter enchido o bucho, o homem se dirigiu ao caixa para pagar e, ficou surpreso pelo valor cobrado, principalmente quando viu relacionado na papeleta de consumo a cobrança de dois javalis. Quando quis reclamar, viu e reconheceu ao lado, com um trinta e oito apontado em sua direção, o meu amigo que tinha levado a “entrouxada” lá no interior. Baixando a cabeça, o sem vergonha tirou um talão de cheques e ao tentar preenchê-lo, ouviu, junto com o clic do engatilhamento da arma a frase, “somente em espécie”. Guardou o talão de cheques, pagou em dinheiro e saiu dançando do restaurante tamanha foi a saraivada de tiros que lhe era dado nos pés.
Matéria publicada no Jornal Caiçara em 17/01/2020.