Com 91 anos bem vividos, o amigo e conhecido desportista e taxista Benedito Ferreira nos deixou desta vida terrena. Seu passamento aconteceu no dia de ontem, 05 de setembro, às 13 horas e 30 minutos. Foi sepultado na cidade de Canoinhas-SC. Por muitos anos trabalhou como taxista com ponto na Rua Cruz Machado, em frente da antiga Farmácia Moderna. Deixou esposa, dois filhos e uma filha.
De bom papo e amante do esporte, na década de 1960 fundou um esquadrão de futebol chamado de Botafoguinho do Benedito. Teve o privilégio de acompanhar ao longo dos anos aquela piazada que atuava em seu quadro, acompanhando-os na trajetória de vida, vendo todos, sem nenhuma exceção, se formarem homens de bem. Com certeza absoluta, os ensinamentos do treinador e dono do time do Botafoguinho, Benedito Ferreira, ajudou a nortear o caminho daqueles guris, que hoje são pais e avôs.
Para homenageá-lo vou contar um fato ocorrido na década de 1960 no antigo Estádio Municipal de Porto União:
Era meado da década de 1960 e naquele domingo haveria um torneio de futebol amador no Estádio Municipal de Porto União. As equipes rivais, Botafoguinho do Benedito e Guarani do Darci Bocudo se inscreveram para participar daquela competição, em que pese, serem times formados só de meninos com idade inferior a 14 anos.
De manhã, antes que o responsável pelo campo, senhor Olegário, abrisse os portões de entrada para o Estádio, a piazadinha dos dois esquadrões já estava por lá.
Os demais times participantes, que contavam com a nata dos boleiros das cidades irmãs menosprezaram os dois quadros daqueles guris, que ao longo do torneio foram derrubando um a um os elencos contrários. Já na boca da noite, após terem passado por cima de mais de vinte agremiações, os craques do Botafoguinho do Benedito e Guarani do Darci Bocudo chegaram para decidir o torneio. Um aspecto emocionante foi que as equipes eliminadas, em sua maioria, permaneceram até o término da competição e prestigiaram aquela porfia decisiva entre os dois verdadeiros escretes de guris, que começavam a fazer história nas beiradas dos trilhos do grande entroncamento ferroviário.
Em um prélio bastante acirrado, aguerrido ao último, o escore ficou em zero a zero. Com a igualdade no tempo regulamentar o caneco seria decidido através das batidas de penalidades máximas. De comum acordo entre os treinadores/presidentes a meta escolhida para os tirambaços decisivos foi a de entrada do Estádio, tendo em vista que já estava escurecendo e os carros poderiam ficar posicionados na parte mais alta e alumiarem a cidadela. A claridade natural se foi e, Kiko, pelo Botafoguinho, Roberto Pereima, pelo Guarani, foram os batedores incumbidos para aquela tarefa considerada de muita responsabilidade para um piá. A cada estufada dos cordéis a gurizada se abraçava e vibrava. O Darci Bocudo se ajoelhava. O Benedito jogava o seu pequeno chapéu para o alto e vibrava com os punhos cerrados. E assim foi por vinte e quatro vezes de cada lado. Os goleiros já estropiados, em nenhum dos chutes deixaram de voar na tentativa de catar a redonda. Mas não deu para eles.
No vigésimo quarto arremate, devido a portentosa bomba, o dianteiro Kiko fazia um coador na rede. Ouvindo em coro as palavras, vai errar… vai errar…. vai errar…. o ponta de lança Roberto desferiu um torpedo e levou azar. Caprichosamente a “deusa branca” beijou a parte baixa do poste esquerdo do goleiro e foi para a linha de fundo. Aos gritos de campeão, campeão, campeão, os meninos do Botafoguinho, com o Benedito no meio da roda, o homenageavam.
Em comemoração pelo cetro máximo, o senhor Benedito Ferreira, dono e treinador do Botafoguinho, brindou todo o seu elenco com refrigerantes e xixo que foram consumidos no bar quiosque, ao lado do campo.
Equipe do Botafoguinho do Benedito Ferreira:
Em pé da esquerda para direita: Benedito Ferreira (treinador), Florindo Bloot, Odilon Rochembach, Fernando Ferreira, Pedro Rocha, Davi Cardoso e Altivir dos Reis da Silva Tivico.
Agachados: Jair da Silva Kiko, Vander, Alceu Schavalinha, Mario dos Anjos Boca, Paulinho Ferreira, Luiz Amaro Bagre e Rudi.