Acordamos cedinho naquele domingo de decisão. A noite mal dormida revelava a ansiedade pela qual estávamos passando. Eu e mais dois ex-jogadores da Associação Atlética Iguaçu, agora, militávamos no esporte profissional da divisão de acesso da Federação Paranaense de Futebol, jogando pela equipe do Tabu de Clevelândia do sudoeste do Paraná. Após boa campanha, ganhamos o direito de decidir o título da competição e éramos favoritos. O nosso adversário seria um time do centro norte paranaense, mais precisamente o Apucarana. A expectativa era grande e animadora. Os comentários antes do jogo eram em relação as condições da equipe, se ela teria cacife para disputar a divisão principal do estado se fossemos campeões, tamanha as dificuldades financeiras.
Chegou a hora da disputa. O estádio Max Stahlscmidt estava completamente lotado. A bola rolou e a nossa vontade de ganhar era maior que a do nosso oponente. O jogo teve dois tempos distintos. No primeiro só deu nós, massacramos e achamos que eles não teriam chance naquele dia. Só que o gol não saiu. Na segunda etapa, a coisa mudou. Os atletas do time do norte voltaram com uma disposição fora do normal. Armaram uma correria e nos colocaram na roda. Nós não conseguíamos pegar na bola. Tomamos um gol no final da partida. A bola mal passou a linha divisória da meta, nem chegou a tocar nas redes. Perdemos a partida por 1 x 0.
Saímos de campo tristes, pois aquilo não era normal. O nosso time não poderia ter caído tanto de produção e o adversário também não poderia ter melhorado daquele jeito. Não dava para acreditar no acontecido.
Quando entrei no vestiário para trocar de roupa notei que nem todos estavam tristes, achei estranho mas não dei muita importância para o fato. Só pensava no que poderia ter acontecido com a nossa equipe, e após muito pensar cheguei às seguintes conclusões: ou os caras tinham voltado para o segundo tempo todos dopados ou o nosso time tinha feito corpo mole.
Mais tarde, durante o jantar, correu a notícia que a nossa diretoria havia entrado em contato com o “Homem da Mala Preta” e tinha vendido o jogo no intervalo, pois não teria condições de bancar o time na divisão especial, e que, o dinheiro seria dividido entre os jogadores. As reações foram as mais diversas, uns tristes e outros alegres.
Durante a semana seguinte a diretoria percebeu que tinha levado um “migué”. Foram cobrar o cheque recebido do pessoal de Apucarana e o mesmo não tinha fundos, bem como, a assinatura não estava correta. O cheque era do presidente do time nortista e tinha sido assinado pelo massagista.
Quem sabe em uma outra vida o referido cheque seja compensado.