Mais uma decisão de campeonato no domingo. Já no sábado as atenções ficaram voltadas para o ponta de lança, artilheiro da equipe, que gostava de passar a noite jogando um carteado junto com as “damas da noite”. Normalmente fugia da concentração e muitas vezes a diretoria fazia de conta que não percebia, pois no dia de jogo o craque sempre resolvia, jogava bem e guardava os seus gols. Mas essa decisão era especial e inusitada e a diretoria não queria correr o risco de um fracasso. Então, para garantir que o boleiro não ia amanhecer na gandaia, de comum acordo com o delegado de polícia, simularam um flagrante por desacato a autoridade na antiga Estância Gaúcha. Levado para a cadeia, ali na rua Matos Costa, o atleta disse para o delegado que não podia ficar preso, que era armação dos policiais militares e que domingo jogaria na decisão e tinha que descansar. O delegado se fazendo de inocente disse que era para ele ir dormir que na manhã seguinte o soltaria por bom comportamento. Só que nessa noite houve um sururu com os presos batendo panelas nas grades. Como represália todos os presos, inclusive o artilheiro, foram retirados de suas celas e colocados numa repartição chamada de solário, que era onde os detentos tomavam sol durante o dia. Após mais ou menos uma hora na repartição os presos se acalmaram e ficou um silêncio “ensurdecedor”. O delegado estranhou, e do andar superior, viu que todos no solário estavam de cócoras e em circulo. Pegou um binóculo e começou a observar. Percebeu que o boleiro já tinha dominado a situação. Como todos tinham perdido o sono, arrumaram uma forma de passar o tempo, improvisaram um jogo e começaram a fazer apostas. A aposta se baseava no pouso da mosca, ou seja, cada um dava uma cuspida no chão, ganhava aquele que tivesse o seu cuspo escolhido pela mosca. E vararam a noite torcendo para a mosca escolher o seu cuspo.
Quanto ao jogo de futebol, a encomenda saiu melhor que o desejado. O ponta de lança fez a pelota beijar duas vezes o fundo das malhas do guapo adversário e “fomos campeões”.
