Naquele 12 de março de 1975, uma quarta-feira, a Associação Atlética Iguaçu se apresentaria em seus domínios pela segunda vez, enfrentaria o Clube Atlético Paranaense pelo campeonato. No domingo anterior tinha empatado com o Grêmio Maringá (quando o treinador iguaçuano furou uma das bolas com um canivete – história já publicada).
A preparação para esse embate, tinha sido puxada e bem feita. A preleção do técnico Juvenal foi diferenciada naquele dia, pois mudou o sistema de jogo e, nós deveríamos jogar sufocando o Furacão o tempo todo. E foi o que aconteceu.
O confronto estava bem disputado e vinha agradando a grande massa torcedora, principalmente, porque o nosso quadro estava se portando bem na peleja. Logo no início do cotejo, o nosso ponta esquerdo, Didi Maravilha, em uma arrancada fenomenal, deixou sentados dois beques de contenção do time da capital e aninhou a redonda no fundo das redes do guapo atleticano. Sem sabermos o porquê, sua senhoria, o árbitro Célio Silva, anulou o tento. A massa torcedora já começava a se “ouriçar”, quando logo em seguida o avante Tadeu, do Atlético, fazia um gol na banheira, que foi validado pelo apitador. Para resumir um pouco o acontecido dentro das quatro linhas, nós tivemos três gols marcados e somente um validado.
Aos 10 minutos da segunda metade, em um lance considerado normal, o assoprador de apito, mandou para o chuveiro o apagado beque direito atleticano, Almir, e o nosso melhor atacante, Renato, ficando o prélio paralisado por 15 minutos. Se o torcida já estava por um triz, foi ao delírio extremo da raiva, quando a sua senhoria o árbitro, aumentou somente de 5 minutos os acréscimos. Mas o pior ainda estava por vir. E veio, aos poucos.
Após trilar o seu apito e terminar a contenda, o árbitro e bandeirinhas foram para o grande circulo e, nesse momento, um diretor-torcedor iguaçuano, pulou o alambrado em frente das cadeiras numeradas e se dirigiu correndo até o mediador. Quando estava próximo, resvalou, caiu e, levou um chute no focinho, desferido pelo Sr. Célio Silva. A massa torcedora foi à ojeriza total e ameaçava pular o alambrado, quando então, o árbitro tirou de sua cintura uma arma de fogo, levantando-a em direção à torcida. Um sargento, juntamente com um soldado da polícia adentraram correndo ao gramado e, solicitaram que a arma fosse entregue. Alegando que um dos bandeiras era uma “autoridade” a arma foi entregue a ele.
A partir daí, o pau comeu solto nas arquibancadas e ao lado de fora do alambrado, polícia contra assistência. Muitos torcedores, sem merecer, apanharam. Tudo porque o Sr. Célio Silva, teve uma atuação facciosa e premeditada.
O pior na totalidade absurda, aconteceu fora do estádio quando a polícia perdeu o controle da situação, fez vários disparos, dizem que foi para o alto, mas um jovem estudante de 15 anos teve a sua vida ceifada com um balaço na nuca.
Diante de todos os fatos acontecidos, uma coisa tem que ficar clara. Em momento algum houve briga entre nós atletas. O gerador de toda a confusão foi a péssima atuação da autoridade máxima da partida, o “apitador”.
Em decorrência do acontecido, as quatro linhas do Estádio Enéas Muniz de Queiroz ficaram interditadas por sessenta dias e a A Associação Atlética Iguaçu foi multada em cinco mil cruzeiros.
Um dos fatores que pesou sobre a punição imposta à Pantera Azul Dourada foi o sensacionalismo dos jornais e canais de televisão da capital paranaense, que mexeram com o emocional de todos os torcedores paranaenses e dos julgadores do TJD que aplicaram a pena já citada.
Outro fato que também influenciou na decisão, foi a proximidade do acontecido com o dia do julgamento, onde o emocional tomou conta da razão, pois a confusão aconteceu dia 12 e já no dia 17 foi julgada.
Como estratégia de sua defesa, o famoso advogado contratado, Cadille, tentou de todas as maneiras impedir a interdição do campo, usando como principal alegação, que a morte ocorreu fora do estádio. Não logrou êxito.
A partir de então, o mando de jogo do Iguaçu passou a ser na cidade de Irati-PR.
Vale destacar que depois da tragédia, quando atuávamos fora de casa, nós jogadores éramos chamados de bandidos e assassinos.
Baseando-se nos fatos julgados, a massa torcedora iguaçuana e a imprensa de nossas cidades, de modo geral, acharam que a pena imposta foi muito rigorosa.
E você amigo torcedor! Diante só desses fatos fidedignos relatados por mim e, por parte da imprensa escrita, acha que a pena imposta foi justa?