EU E O MEU AMIGO ANÃO ARTIMINO

EU E O MEU AMIGO ANÃO ARTIMINO

Coisas da bola

Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.

Qualquer semelhança será puro acaso.

“Jair da Silva Craque Kiko”

Após ter findado o campeonato 1977 e, por ter passado em um concurso, resolvi rescindir o meu contrato de atleta profissional com a equipe do Tabú de Clevelândia e fui trabalhar na Copel – Companhia Paranaense de Energia no interior do município de Dois Vizinhos, também no sudoeste paranaense. Trabalhava de operador de usinas em regime de escalas e morava em uma vila residencial com mais ou menos umas 100 famílias. Nas horas de folga tinha somente duas opções de lazer, ir no clube beber cachaça e jogar um carteado ou jogar futebol. Como o futebol sempre esteve enraizado nas minhas veias foi o lazer escolhido. Nem sempre as minhas folgas aconteciam em finais de semana, quando as tinha, eram durante os dias em que todos estavam trabalhando. Como não queria beber cachaça eu ia para o campo sozinho bater uma bola. Mandei fazer uma taipa de madeira que simulava cinco atletas em uma barreira e no campo ficava treinando como cobrar faltas.

Nos fundos da trave onde eu treinava as cobranças das faltas, do lado de fora do alambrado do campo, morava um anãozinho de nome Artimino. Como sempre estava por ali ele presenciava os meus treinamentos e, muitas vezes quando eu errava as cobranças, ele jogava as bolas de volta para dentro do campo. Eu ficava muito agradecido, até porque, o anãozinho tinha uma perna mecânica.

Às vezes  acontecia da minha folga de trabalho ser em um domingo em que tinha jogo de futebol, então, eu participava da partida e era escalado como o batedor oficial de faltas. Quando acontecia uma falta e que eu me preparava para efetuar a cobrança, sempre ouvia lá na arquibancada, que ficava em um barranco, a voz do Artimino, provocando os torcedores para apostar com ele. Com uma nota de dinheiro na mão ele dizia: “ Aposto o valor dessa nota como vai ser gol”. Na maioria das vezes era “caixa”. Vale ressaltar que o anãozinho ficou um fã incondicional do meu futebol e ficamos grandes amigos.

Como os dirigentes do time de futebol do município de Dois Vizinhos estavam querendo fazer uma equipe forte para disputar a Liga de Futebol de Francisco Beltrão e depois a Taça Paraná e, ficaram sabendo que na Vila da Copel tinha um ex-jogador profissional que estava jogando um bolão, segundo alguns, procuraram-me.

Após o acerto do contrato, nas minhas folgas lá ia eu, sempre levando comigo o amigo Artimino, defender as cores do 7 de Setembro de Dois Vizinhos.

Com o andar da carruagem macia e, com os ventos batendo em popa fomos campeões do campeonato beltronense.

Para comemorar o título, nós jogadores fizemos uma festa em uma “casa das primas”, chamada de Se que Sabe, tudo ao preço de custo. Era o prêmio oferecido pelo dono da “bocada” aos atletas campeões.

Conversa vai, conversa vem e, as quengas chegando pedindo “paga mais uma benhe”  e, como já estávamos pra lá de Bagdá, quando a cerveja vinha para a mesa era uma festa só. Devido ao adiantado das horas, os demais atletas já tinham ido para suas casas. Os últimos presentes eram eu e o meu amigo anão Artimino.

Os inteligentes sabem que quando se abusa da “marvada”, com certeza vai ter confusão. E não deu nega naquela já tarde da noite. O meu amigo meio “cuzido” estava num arreto com uma mariposa em um canto do salão. Nisso chegou o cafetão da dita cuja e exigiu que ela o acompanhasse. O meu amigo disse que ela não ia embora, pois estava bebendo com ele até aquela hora, e ela só iria depois que fizessem “ nheco nheco”. Quando terminou de falar já estava no chão tamanho foi o sopapo que levou. A turma do deixa disso interveio e eu e o anãozinho meu amigo saímos rapidamente pela porta dos fundos. Tínhamos que atravessar um banhado para conseguir escapar, só que a cada passada as pernas ficavam atoladas até a altura das canelas. Como o meu colega tinha uma perna mecânica, a mesma se soltou e ficou entalada no barro.Tirei a perna mecânica atolada, coloquei o amigo nas costas e quando saímos do banhado, paramos e encaixamos rapidamente a perna no corpo. Nessa altura do campeonato, o macho da puta já estava quase nos alcançando. Saindo em uma correria alucinada eu consegui  safar-me, mas o amigo levou mais uns bofetões do cafetão. O que aconteceu foi o seguinte: Devido aos goles tomados, colocamos a perna mecânica de maneira errada, com o pé virado para trás, portanto, o amigo dava um passo para frente com a perna boa, a perna mecânica dava um passo para trás, por isso é que ele foi alcançado pelo macho da dama da noite.

Se quiser acredite. Se você não acreditar te passo o telefone do amigo Artimino, só não sei se ele vai confirmar.

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