Nas minhas andanças atrás da “Deusa Branca” (naquele tempo a bola de futebol era branca) muitos fatos hilários presenciei. Convivendo com pessoas das mais variadas classes sociais, e por ser desde jovem, um bom observador, adquiri condições que me proporcionam em pouco tempo traçar um perfil psicológico das pessoas.
As décadas de 1970/80 ficaram marcadas, para mim, como uma época de muitas conquistas na área esportiva. Sempre participando em competições importantes, convivi com pessoas do mais alto gabarito, bem como pessoas que nunca tomavam o “chá de mancômetro”, e sempre queriam aparecer, estar em evidência, não importando o que os outros pensavam ou sentiam. Todo esse prólogo é para contar um fato acontecido envolvendo um atleta que estava em fase de testes na Associação Atlética Iguaçu, uma pessoa com as características acima mencionadas.
Tínhamos jogado uma partida pelo campeonato paranaense na cidade de Paranaguá e, na viagem de retorno, paramos para jantar em um restaurante beira de estrada na cidade de Contenda. A fome era tanta que os petiscos para aperitivos foram consumidos rapidamente e, quando o espeto corrido foi servido foi um alívio. Foi aí que o boleiro metido deu as caras. Querendo aparecer, reclamou em tom alto com o garçom, dizendo que aquele churrasco de alcatra estava cru e frio. Meio sem jeito, o garçom pediu desculpas e disse que providenciaria uma carne melhor. Em pouco tempo, o jovem rapaz trouxe outro churrasco bem passado. Mais uma vez, o metido reclamou, dizendo que queria uma carne frigindo. Sem ter o que dizer, o rapaz retornou à churrasqueira e trouxe um churrasco de filé mignon bem passado. Ainda querendo aparecer, o boleiro xingou o garçom e, aos gritos, chamou-o de incompetente, reiterando que queria um churrasco frigindo. “Não seja por isso”, respondeu o nobre garçom, já sem paciência. Tirando uma garrafa de álcool do bolso do jaleco, derramou-o na carne e com um palito de fósforo acendeu. Com aquela labareda, agora quem gritava era o garçom: “Você não queria carne frigindo? Agora coma!”, gritava, apontando um revólver para o metido. Mesmo assim, não querendo baixar a bola, o boleiro comia aquela carne queimada e afirmava que agora, sim, o churrasco estava bom. Após boleiro ter comido todo aquele churrasco queimado, o garçom, que era o dono do restaurante, ordenou que nós fôssemos embora e que nunca mais retornássemos.
Como resultado pelo fiasco feito, o boleiro, após o retorno da viagem, foi dispensado pela diretoria iguaçuana.