Para tentar sepultar de vez os acontecimentos daquela noite fatídica (12-03-1975), quando um jovem perdeu a vida e, a posteriori a rivalidade chegou a um ponto cruciante de uma inimizade, que num futuro próximo, poderia trazer mais dissabores entre a Associação Atlética Iguaçu e Clube Atlético Paranaense, que os seus presidentes, Alcides Fernandes Luiz e Aníbal Curi, Iguaçu e Atlético, respectivamente, resolveram aparar as arestas selando a paz através de um cotejo de futebol que ficou conhecido como o “Clássico da Paz”.
O principal objetivo era por um fim nas desavenças entre diretores, atletas e torcedores das duas agremiações. Vale ressaltar, que os embates entre a Pantera Azul Dourada e o Furacão, sempre foram protagonizados por uma guerra dentro e fora das quatro linhas, principalmente por suas torcidas, além do fanatismo, serem extremamente vibrantes.
Antes do início do desafio, eu como capitão da Pantera naquela jornada, entreguei um ramalhete de flores ao atacante Caio, do Furação, para simbolizar a paz entre as duas instituições. Paz que só foi antes do início da contenda, pois dentro das quatro linhas ninguém queria perder e o bicho pegou.
Culminando com o Clássico, também, fazia estreia na Associação Atlética Iguaçu o novo treinador, Iraci Martins, que durante os treinamentos e preleções na semana que antecedeu o prélio, mostrou que era diferenciado, dizendo sempre para nós boleiros: Não importa se o oponente é da capital ou do interior do estado, em casa o meu esquadrão sempre vai atuar estrangulando e fungando no cangote.
Então, naquela tarde de domingo, 19 de outubro de 1975, com o Estádio Enéas Muniz de Queiroz lotado, a mexerica (como diz meu amigo Aramis) rolou e a Associação Atlética Iguaçu e Clube Atlético Paranaense se enfrentaram em uma peleja como se fosse uma final de campeonato. Confronto pegado, com jogadas viris, muitas vezes ríspidas, mas sempre acompanhada de perto pelo mediador, Leandro Facco, que teve excelente atuação.
Obedecendo à risca as orientações do técnico, nós sufocamos o Furacão o tempo todo e, após o término da primeira metade, o placar não tinha sido mexido, mas tivemos mais chances de inaugurá-lo.
Quando do término do primeiro tempo e saíamos de campo, o meia atacante atleticano Sicupira (cracaço de bola) veio até mim e perguntou: Vocês só podem estar dopados para tamanha correria? De pronto, respondi: Que nada, é você que está sentindo por estar em final de carreira, você vai ver a correria maior na segunda etapa. Ele me respondeu: Oh loco! Vou então deixar para os meninos…e saímos rindo.
E veio a segunda etapa e, orientados para continuar na mesma pegada, só que agora com mais movimentações no setor ofensivo, dizia o treinador, que o nosso gol sairia normalmente. E foi o que aconteceu. Em uma jogada pela direita, o centroavante Ali, aos três minutos, quase sem ângulo arrematar, na trave da caixa d’agua, inaugurava o placar. O que se viu a partir dali, foi uma correria maior dos dois quadros, nós, tentando ampliar e o adversário, em busca do empate. Os goleiros Romeu e Clarino, do Iguaçu e Atlético, respectivamente, estiveram em um patamar mais elevado em comparação aos demais atletas. Pegaram até sombra. Também estiveram num plano superior o Gelson Scott e Rotta (Iguaçu) e Sicupira (Atlético).
O resultado do encontro, com a vitória da Associação Atlética Iguaçu por 1 tento a 0, quebrou um tabu, pois até então o azul dourado não tinha vencido o rubro negro da capital paranaense.
Diante do feito, correu a notícia que seria pago um bicho no valor de 50 cruzeiros para cada atleta. Até hoje estamos esperando para ver a cor da mufunfa, grana, boró, tutu, gaita, faz me rir…