Era a última rodada daquela fase octogonal do campeonato paranaense de 1976. A Pantera Azul Dourada ia para o choque contra o quadro do Tubarão Londrinense. De comum acordo, as duas diretorias acertaram que o prélio fosse realizado naquele domingo pela parte da manhã no Estádio VGD – Vitorino Gonçalves Dias, o que favoreceria ao Londrina para um maior público e a Associação Atlética Iguaçu que poderia retornar para União da Vitória mais cedo.
O quadro do Tubarão tinha um interesse especial naquele clássico, tendo em vista que estava disputando uma vaga para o quadrangular final contra o escrete do Grêmio Maringá, pois ambos estavam embolados na tabela e, inclusive, minutos antes do início do choque, o Grêmio tinha acionado o homem da “mala branca”, que ofereceu um “bicho” para nós boleiros do auri anil para que derrotássemos o Tubarão Londrinense. Nós só estávamos cumprindo tabela, mas se obtivéssemos uma vitória ficaríamos melhor na tábua classificatória e ganharíamos o dinheiro da “mala branca”.
Na partida do domingo anterior, contra a equipe do Grêmio de Maringá, o nosso principal atacante que usava a camisa 10 estava gripado e não reunia condições de jogo. Como era peça chave no esquema do treinador e queria atuar, pois já estava sendo sondado pelos esquadrões considerados grandes da capital paranaense, o nosso camisa 10 foi “forçado, induzido e por vontade própria” à tomar um estimulante (doping). Tomou e, mesmo que tenhamos perdido essa contenda, o nosso craque arrebentou com o cotejo. Só faltou fazer chover dentro das quatro linhas.
Diante da sua atuação no embate anterior contra o Grêmio Maringá, o nosso craque, contra o Londrina, já no vestiário, exigiu novamente o comprimidinho mágico. Foi aí que surgiu o problema. Como a partida era de pouco interesse para nós, os “comprimidinhos não viajaram”. E agora o que fazer? Foi aí que o capitão do elenco entrou em ação. Afinal, o capitão deve ser um líder dentro e fora do gramado. Usando da sua criatividade, o capitão (dono da camisa de n° 3), pegou um comprimido conhecido como Melhoral Infantil da bolsa do massagista Casquinha, enrolou em um pedaço de papel e deu para o craque tomar. Pensando que era um doping, novamente o craque tomou e, por incrível que pareça, teve uma atuação de gala, jogou o fino da bola. Novamente fez chover dentro de campo. Só foi contido na base da pancada. A partida foi interrompida antes do final do tempo regulamentar, pois o pau comeu solto. Tivemos duas expulsões e três atletas tiveram que deixar o gramado sem condições de terminar a contenda, além de que, a arbitragem errou muito contra nós. O placar do combate foi de 2 a 0 para o Londrina, dois tentos de pênaltis mal marcados no final da segunda metade, que foram a causa da confusão e expulsões dos atletas iguaçuanos.
Embora a equipe londrinense tenha ganho o desafio, a sua torcida ficou furiosa pelo término antecipado e protestou ao lado do nosso ônibus. Enquanto nós boleiros nos abaixávamos e deitávamos no corredor do busão para nos protegermos, o nosso diretor de futebol, Otto Conrado Gruber, abriu a sua janela e foi pedir calma, quando então, levou uma tijolada de um torcedor.
Após passarmos em um hospital para um curativo no diretor, iniciamos a viagem de retorno, sem almoço, só com um lanche oferecido dentro do ônibus.
Se alguém tiver curiosidade e quiser saber quem era o capitão e o craque camisa 10 é só consultar a súmula da peleja.