Naquele ano não estávamos indo bem no campeonato paranaense. A nossa equipe, Associação Atlética Iguaçu, não conseguia manter uma regularidade e, muitas vezes, apresentava um futebol de péssima qualidade. A nossa única chance de prosseguir no torneio teria que ser com uma vitória frente a equipe do Operário de Ponta Grossa.
Durante a semana, os treinamentos foram intensificados e, na sexta-feira anterior ao jogo, ficamos concentrados na sede da equipe. Na noite de sábado, todos os atletas foram chamados para uma reunião na sala do massagista Casquinha, que, segundo os crentes, era um médium e mexia com coisas do além. Após nos acomodarmos, deu-se início a uma sessão de “saravá”. O nosso massagista foi “possuído” (dizem, quem estava na sala e acreditava, não era o meu caso) pelo Preto Velho. Inquirido sobre o resultado da partida, o Preto Velho disse que ganharíamos, mas que era preciso fazer uma oferenda. Teríamos que providenciar velas vermelhas e um frango preto para ofertarmos aos entes, que deveriam ser depositados em uma encruzilhada. O nosso goleiro titular se encarregou da tarefa.
No domingo, quando nos deslocávamos até o Estádio do Ferroviário, pudemos perceber o grande fluxo de torcedores que lá se dirigiam para assistir ao embate. Quando chegamos ao vestiário já estava afixada na porta a relação dos atletas que sairiam jogando. Um a um os jogadores eram massageados e liberados para se uniformizar e ir fazer suas orações na capela que existia naquele local. Fizemos a reza final, o tradicional Pai Nosso, descemos ao túnel de acesso ao campo e antes que pudéssemos passar por ele, o massagista disse que iria fazer uma sessão de descarrego, pois estava sentindo um clima negativo. Jogou sal grosso em nós atletas e acendeu chumaços de algodão com pólvora que estavam depositados nos cantos do túnel. Tamanha foi a quantidade de fumaça que entramos em campo em uma correria só. A partida terminou em zero a zero e fomos desclassificados.
Outro fato que aconteceu nessa partida, foi a atuação inusitada de um dos nossos atacantes, que tinha sido contratado junto ao Bangu do Rio de Janeiro, pois devido a importância da partida ele foi sugestionado pela comissão técnica para tomar um certo estimulante. Ele tomou e, o efeito foi superior ao desejado. Começou a “plantar bananeira” e tentar se equilibrar em uma das bandeirinhas que marcavam o lugar da cobrança de escanteios. Foi substituído logo no início do jogo e foi internado em um hospital no centro de Porto União.
O goleiro titular e o massagista já não fazem parte deste mundo. O atacante mora no Rio de Janeiro.
Se orações, sessões de sarava e descarrego ganhassem jogo não existiria time perdedor.