Era um final de tarde qualquer e lá estava eu, menino ainda, sentado nas cadeiras das arquibancadas no campo do Ferroviário Esporte Clube para assistir mais um treino do Ferrinho.
O coletivo estava para iniciar e no time reserva estava faltando um atleta. Foi convidado, então, um senhor já de certa idade que estava sentado nas arquibancadas, que aceitou o convite, só que impôs uma condição, treinaria na ponta esquerda. Começou o treinamento e percebeu-se que o toque na bola dado por ele era diferenciado, elegante e com refino. Lembro que, no decorrer do treinamento, o goleiro do time reserva, que estava na meta dos fundos, deu um balão e a bola foi em direção ao referido senhor, que estava posicionado em frente as arquibancadas. Ele de chaleira dominou a redonda e sem que ela caísse começou a fazer embaixadas com os dois pés e com a cabeça. Lembro que fiquei contando, sei que passaram de duzentas e eu e os demais jogadores ficamos atônitos olhando.
Após o término do “espetáculo”, o senhor pegou a bola com as mãos e a colocou no chão, reverenciou a todos os presentes e se retirou de campo. Pegou sua bicicleta, colocou o boné na cabeça e foi embora. Diante do fato lindo e inusitado fui perguntar às pessoas presentes quem era aquele homem. Responderam-me com uma pergunta. “Você não conhece o Cabrita? Este senhor esteve até no Atlético Paranaense e não quis ficar”. Fui investigar e descobri que o homem era um cracaço de bola. O pessoal da velha guarda lembra.