Estava lendo um livro editado pelo amigo Homéro Schwartz sobre os campeonatos de futebol de salão, organizados pelo Clube da Lagoa, na cancha da Capela do Bairro São Bernardo. Eis que na página 33 encontro o relato do amigo que escreve sobre o jogo entre as equipes da Casas Buri X Madeireira Guarujá, citando que foi um dos jogos mais sensacionais e mais bem disputados daquele ano de 1974. Diante de tal relato, meus pensamentos foram arremetidos para aquela época num voo quase real, pois eu era atleta das Casas Buri e participei daquele jogo.
O público vibrava com as jogadas sensacionais e no desfecho delas os aplausos se faziam presentes. No tempo regulamentar, a partida terminou empatada em 3×3. Seguindo o regulamento, houve prorrogação de cinco minutos divididos em dois tempos de dois minutos e meio. Persistiu o empate. A decisão então foi para a cobrança de pênaltis. Foram cobradas duas séries de cinco penalidades. Lembro que durante as cobranças os batedores estavam levando vantagem em relação aos goleiros, porque a cancha era de cimento, o que dificultava a vida dos guapos. Chegou, então, a minha vez de efetuar a cobrança. Tinha de fazer o gol para que o jogo continuasse, era a última batida daquela série. Ajeitei a bola na marca, afastei-me até quase o centro da quadra, corri e dei um petardo com o peito do pé direito. O goleiro da Madeireira Guarujá estava no meio do gol com os braços abertos já pronto para voar e tentar a defesa. Não deu tempo para que ele se mexesse. Tamanha foi a força e velocidade do chute, que o goleiro fez a defesa levando o tirambaço no meio da testa, caindo dentro do gol, desmaiado. A equipe da Madeireira Guarujá foi a vencedora e o guarda-meta levado com urgência até o Hospital Farah no centro de Porto União, onde foi socorrido.
Outro fato pitoresco daquela partida era que eu e mais dois atletas das Casas Buri estávamos prestando serviço militar e, como estávamos de serviço no horário daquela partida, conseguimos dispensa para aquele jogo, só que em tal horário teríamos que estar no quartel. Como o jogo foi para a prorrogação e cobrança de penalidades, nós extrapolamos o horário. Como castigo pelo atraso, fomos obrigados a fazer flexões, rastejar na areia e dar duas voltas em volta do quartel. Para completar o castigo, fomos escalados para levantar às 04 h da manhã seguinte para passar margarina nos pães que seriam servidos no café da manhã. O castigo foi pouco, disse o comandante do pelotão, porque eramos boleiros e peixes do Coronel comandante, mas se houvesse reincidências iriamos tirar alguns dias de cadeia.