CLÁSSICO DOS TRENS – DERBY ÉPICO – 1952

CLÁSSICO DOS TRENS – DERBY ÉPICO – 1952

Na década de 1950, o futebol amador, bem como o profissional, tiveram um papel muito importante na socialização e desenvolvimento do nosso país. Aqui nas cidades das terras beira Rio Iguaçu, o ludopédio era praticado por craques que não ficavam devendo nada para ninguém, tanto é, que o Ferroviário E.C. andava dando show dentro dos tapetes verdes. Campeão no ano de 1951 e vencendo em 1952 praticamente tudo o que disputava por aqui, seus dirigentes, resolveram atar o confronto revanche com o esquadrão profissional da capital paranaense, Clube Atlético Ferroviário, que no dia 23 de março, mês anterior, tinha massacrado o Ferroviário de União da Vitória no Estádio Durival de Britto e Silva, vencendo por 06 tentos a 01, onde o seu dianteiro, Afinho, só faltou fazer chover.

O prélio revanche era esperado por todos, pois o Clube Atlético Ferroviário também estava ganhando tudo por lá, deixando os demais componentes do Trio de Ferro, Coritiba e Atlético Paranaense, na rabeira.

As quatro linhas escolhidas para aquele, que já era o primeiro grande Derby entre os quadros dos Trilhos Ferroviários foi o Estádio Municipal de Porto União, conhecido como Gigante de Madeiras e a posteriori como Maracanã do Oeste, praça esportiva que mais tarde, devido ao descaso de alguns políticos, talvez por serem caneludos e nem saberem quantos lados tem uma bola, destruíram a praça esportiva no início da década de 1970, deixando hoje, os atuais vovôs, remanescentes jovens à época, furibundos.

A tarde esportiva prenunciava um baita duelo, onde o esquadrão local, sem outra opção, teria que se agigantar ante os visitantes, principalmente porque a goleada sofrida na contenda lá na capital paranaense ainda estava entalada no papo. Totalmente tomado de torcedores, inclusive do belo sexo, para verem os mais famosos craques dianteiros do Boca Negra, alcunha do Clube Atlético Ferroviário, principalmente porque no seu onze, tinha ele, Afinho, dianteiro artilheiro do campeonato paranaense de profissionais, que dificilmente passava um prélio sem derrubar uma cidadela contrária e, no combate em Curitiba tinha massacrado o centro médio Mansani Bragado, obrigando o seu treinador tirá-lo do gramado para não ser desmoralizado. Afinho, muito habilidoso, lépido e com muita capacidade na memória, desestruturava qualquer cozinha contrária, deixando os beques litigantes, muitas vezes batendo cabeça.

Embora o Ferroviário local, que anos mais tarde com a construção do seu belo estádio, ficaria conhecido com tricolor da Vila Famosa (fazendo alusão aos pavilhões onde moravam os funcionários da REDE FERROVIÁRIA) tivesse um elenco de primeira, para muitos, sucumbiria  novamente por uma sacola de tentos, tanto é, que nas táticas ensinadas pelo seu experiente treinador, no vestiário que se localizava embaixo da arquibancada, orientava especialmente o seu centro médio, Mansani Bragado, para que  dessa vez não desgrudasse do corisco Afinho, pois se ele fosse tomar água ou ir fazer pipi era para acompanhá-lo, ser sua sombra, o homem não poderia pegar na peca, senão seria um Deus nos acuda.

Com mediação de sua senhoria Sr. Max Müller na primeira parte e Nestor Gonçalves na segunda, o balão de couro começou a ser judiado já no início do cotejo, devido a superação, muita vontade, raça e garra, principalmente pelo bando do Ferroviário local que queria encarar de igual para igual o quadro da Vila Oficinas, bairro da grande capital do Estado do Paraná. Para tanto, aos 21 minutos, a turma de União da Vitória abriu a contagem através do center alfo Deco, conseguindo essa façanha parcial até o final de primeira etapa.

Mansani Bragado, beque viril, com uma estrutura forte, como um trator, já tinha o costume de chegar “arrepiando” nos avantes contrários, ainda mais agora, com o assentimento do técnico e com a espinha meio arcada pelo vareio de bola que tomou no duelo na capital, chegou o “reio” no franzino Afinho, jurando para si mesmo que não o deixaria pegar na redonda. E, assim o foi, debulhou o cacete durante toda a contenda e em cada lance, quando não conseguia antecipar a jogada, acertava as canelas do coitado do artilheiro Boca Negra. Praticamente tinha anulado o astro Afinho, foi um leão dentro do palco gramado, mas, na única soltura de sua contenção, Afinho em liberdade, desequilibrou e magistralmente derrubou a cidadela guarnecida por Bohdan Kuritza, fazendo a redonda dormir no fundo das malhas decretando a igualdade no escore.

Já não suportando levar tantas pauladas e com parte das canelas na cor de carvão aceso, escorrendo em líquido vermelho, Afinho, sem outra opção foi reclamar com o mediador, mas de nada adiantou ao ouvir que futebol era para homens. Diante da resposta foi eivado à ira, se vingaria, mas não na quantidade de pau que tinha levado, seria em uma só, mas deixaria a marca das travas da sua chanca nas pernas do seu algoz, que o subjugou e massacrou durante toda a porfia.

Enquanto o beques do Ferroviário de União da Vitória tinham atenção especial com o artilheiro Afinho, pela beirada direita do tapete verde, entrando em diagonal, Casnock, solto e soberano, faria o tento que daria a vitória ao onze do Boca Negra da capital paranaense.

O duelo se encaminhava paro o desenlace e, mal sabia o Mansani Bragado, que o que era dele estava guardado e seria devolvido. Afinho esperou que acontecesse um lance bem em frente da arquibancada, onde estava localizada a cabine de rádio e, já bem perto do trilo final, no esgotamento dos últimos segundos, coisa rara no combate, conseguiu dominar a moganga sozinho, e de propósito, deixou-a escapulir, adiantando-a. Quando o centro médio Mansani Bragado foi dar o rapa, fingindo chegar atrasado na pelota, Afinho, dando um jacaré por cima do balão de couro rasgou a canela direita do defensor local. Após ouvir o ai… ai… ai… do becão, que ficou com a canela “estoporada”, o artilheiro matador do elenco do Clube Atlético Ferroviário arrancou com as mãos um punhado de grama e ofereceu ao beque que estava estatelado no gramado, dizendo que era para ele levar para casa e saborear no seu jantar. O sururu foi pequeno, pois o mediador após a rasgada na canela do centro médio do Ferroviário E.C. encerrou o desafio. O resultado do prélio não foi um saco de tentos como na contenda lá no Durival de Britto e Silva, mas os cobras da capital paranaense saíram novamente triunfantes, só que, pelo escore de 02 tentos a 01.

Ficha técnica da batalha

Ferroviário E.C (União da Vitória) 01 x 02 Clube Atlético Ferroviário (Curitiba).

Estádio Municipal de Porto União (Mário Fernandes Guedes) – 13 de abril de 1952.

Renda – Cr$ 6.000,00

Mediador – Primeira metade: Max Müller. Segunda metade: Nestor Gonçalves. Ambos com atuação regular.

Tentos:  Deco (Ferroviário E.C.). Afinho e Casnock (Clube Atlético Ferroviário).

Ferroviário E.C.: Bohdan Kuritza, Ruski e Pioli, Trajano, Mansani Bragado e Dário, Deco, Faísca, Azamor (Wilson), Heitor e Cará.

Clube Atlético Ferroviário: Benato, Tico e Zé Carlos, Nelsinho, Lalo e Alceu, China (Arnaldo), Rubinho, Casnock, Afinho e Negro (Yanes).

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