COSTUMES DE UMA ÉPOCA.

COSTUMES DE UMA ÉPOCA.

Do escritor da periferia – Craque Kiko.

A cerimônia do casório foi maravilhosa. A festança mais ainda. O enorme barulho dos tiros para o ar em comemoração esquentou os canos dos trabucos e chamou a atenção por quilômetros naquele quase sertão. Enquanto todos festejavam, a conjunção carnal confirmando a união teria que ser realizada.

A sós sob a luz do lampião, cara a cara no quarto de núpcias, ela se pelou. O marido foi a uma ojeriza total, pois ela não entrou no biombo para se trocar colocando as vestes para o coito. Aquele ato de nudez na sua frente contradizia os bons costumes. Fazendo ela se vestir quase que na força, puxando-a pelos cabelos, o marido se dirigiu até a casa dos seus pais e a devolveu, dizendo que ela não era uma pessoa direita e era uma depravada.

Frente a frente com a filha, aquele pai fez uma trouxa dos seus trapos e a expulsou de casa, também, não mais a queria por ali. Chorando, a ex-noiva, sem outra opção, se bandeou para o mundo. Quando deu por si, estava pelos cantos das “Curitiba”.

Os anos andaram. Naquele local onde os costumes eram menos rígidos ela se amasiou com um fulano. Teve um rebento e vivia quase feliz. Carregava nos peitos a chama da vingança. E, em uma manhã de céu carrancudo, deixando sobre a mesa da cozinha um bilhete de despedida contando parte do que tinha tramado, ela pulou clandestinamente em um comboio, e pelos trilhos ferroviários deu o “ar da graça” perto do seu chão de nascença. Trazia consigo uma navalha, que para executar a sua intenção, era escondida dentro da sua luva, o que facilitaria o intento.

Tendo pulado do vagão em uma localidade próxima, já no lombo de um cavalo, andando a passos de calmaria por entre os pinheirais perto daquela morada que deveria ter sido sua, deu de focinho com aquele que a devolveu para os pais. Sem que ele a reconhecesse, em uma prosa tranquila, quando ele se descuidou, com um nó de pinho o fez ir à lona. Deixou-o igual a Adão no paraíso, e tirando a navalha escondida na luva extirpou suas partes baixas. Teve a calma, fria, de deixá-las espetadas em uma estaca fincada bem no meio daquele caminho.

Como fumaça ela desapareceu. Sem nunca se saber de fato o acontecido, muitos causos foram criados naquele ainda sertão, até que, apareceu aquela carta que deixara sobre a mesa, onde ela contava partes de como realizaria a sua vingança.

A entrada do inverno se aproximava. Os pinheirais estavam bem apinhados. Com uma peia nas pernas, para retirar pinhas, aquele jovem ganhou a altura naquele grosso pinheiro. Já na copa, como um passe de mágica encontrou uma navalha cravada em um galho. Atou os fatos, fora aquela navalha que capara o seu finado pai.

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