Com a arquibancada ainda parcialmente pronta, em construção, totalmente abarrotada de público torcedor, bem como, o barranco no lado contrário, apinhado de amantes do ludopédio bretão para fitar aquele que seria um prélio epopeico, onde os finalistas, em igualdade de condições duelariam. Mesmo sem estar totalmente liberado e inaugurado oficialmente, o Estádio Municipal de Porto União foi o palco do desfecho final do certame do Torneio Relâmpago e, no seu tapete verde, a massa torcedora foi brindada com uma fabulosa disputa.
Chegaram para litigar na grande final do primeiro certame da L.D.N.C – Liga de Desportos Noroeste Catarinense no ano de 1949, os esquadrões do Juventus F.C. e Avahi F.C. Pelo desempenho dos dois quadros ao longo do certame, imaginava-se que seria uma contenda bastante renhida e equilibrada tamanho o poderio e técnica dos elencos, e foi, tanto é que o fator decisivo no desenlace da peleja, foi a desastrada mediação do homem do apito e de um bandeirinha.
Nem bem estavam com as canelas quentes a marcha da contagem foi iniciada, logo de cara, aos 03 minutos, quando o ponteiro esquerdo juventino, Jair Mendonça (Baiano), escapou na ligeireza, deixando o seu contendor Hernand, na poeira, e entrando em diagonal, do bico da área grande desferiu um arremate com a parte de dentro do pé, de rosca, fazendo com que a pelota fizesse uma parábola e, numa curva sensacional, ultrapassasse a risca da meta pela gaveta superior direita do arqueiro Genésio, que somente escutou o “chuá” das malhas junto com o grito de golo dos torcedores da turma comandada pelo Sr. Armando Marcos Sarti, o tricoplor Pó de Arroz Juventino.
Aos 06 minutos, novamente Jair Mendonça (Baiano) derruba a cidadela avaiana, após um lance individual de Edgar Alves (Ratinho). Escapulindo pela direita ofensiva, bem pela marginal, Ratinho quase quebrou a espinha do seu marcador ao dar-lhe uma meia lua por baixo das pernas e, da linha de fundo, com mais categoria ainda, centrou o balão de couro na zona do agrião da cozinha contrária, achando o ponteiro esquerdo Jair Mendonça (Baiano), totalmente solto, que como bom testador que era, deu uma cabeçada certeira, fazendo 02 a 00 para o Juventus.
Mesmo atrás no placar as ações eram equilibradas e o Avahi também fustigava a cozinha contrária, tanto é, que o beque juventino Ivo Hercilio Wolff, conhecido pela sua categoria apurada, não se fazia de rogado e dava bicão para todo lado tentando limpar a sua zona de perigo. Como o combate estava lá e cá, aos 20 minutos, numa investida do ponteiro direito do Juventus, Romeu João Savi, na linha de fundo ao tentar dar um chuveirinho para a área inimiga, pegou mal na redonda e conseguiu fazer aquilo que ninguém esperava, um tento espírita, pegando o guardião Genésio de calça curta, pois já estava saindo da meta para interceptar o cruzamento e, quando deu por si, a pelota já tinha se alojado no fundo da sua rede. O escore de 03 a 00 com somente vinte minutos peleados, não condizia com a realidade do duelo, porque os esquadrões estavam guerreando bem e em igualdade de condições, e o placar justo, teria que ser um empate, mas no futebol tudo pode ser surpresa.
Já aos 22 minutos, era o Avahi que estufava os cordéis dos contrários. Em uma incursão pelo centro do seu ataque, o baixinho Alceu Smaniotto (Ceceu) roubou uma bola dominada do centro médio do Juventus, Arnoldo Roque, e desembestou num arranque alucinante em direção à cidadela contrária, deixando os beques de miolo da cozinha do Juventus sentindo em suas caras o vento de seu deslocamento e, nas barbas do guarda valas Bohdan Kuritza, no contrapé dele, Ceceu rolou a bola de capotão para o fundo da goleira, diminuído a diferença para 03 a 01.
Aos 27, o dianteiro avaiano, Manoel Fogaça, na meia lua da defensiva litigante, ao tentar driblar o beque do tricolor Pó de Arroz Juventino, Raul de Oliveira Quadros, foi obstruído levando como chega para lá uma forte peitada. Junto, no ato do fato, o Sr. Ivanové Gaspari (Vaninho), mediador da contenda, trilou o seu referee, assinalando a infração. Encarregado da execução, o mesmo Manoel Fogaça efetuou o tiro livre direto. Como não tinha fama de ter um tiro forte e nem de ser um bom batedor de faltas, o arqueiro Bohdan Kuritza fez pouco caso e de forma displicente se posicionou mau embaixo dos três paus e, quando deu por si, o seu “véu de noiva” tinha sido balançado pela bola venenosa desferida contra sua baliza. Com 03 a 02 para o Juventus ainda da primeira metade, o duelo pegou mais fogo e os dois goleiros fizeram defesas portentosas para garantirem aquele resultado parcial. Sem nenhum desconto no tempo, Sr. Vaninho encerrou a metade do prélio.
Para a etapa derradeira, quem ficou muito alegre foram as duas torcidas, pois o combate foi ao delírio extremo. Com lances em alto nível, os dois quadros se superaram, principalmente o Avahi que escondeu o capotão, tocando de pé em pé fazendo os jogadores juventinos correrem atrás. Mesmo tendo um alto domínio, os avaianos não conseguiram furar a retranca do Juventus, que buscando forças não se sabe da onde, garantiram que sua meta não fosse derrubada e, era bola para o mato que o prélio é de campeonato, ainda mais, que o guarda valas, Bohdan Kuritza estava agarrando tudo operava milagres embaixo dos três paus, isso quando a peca não beijava o travessão ou era arrepiada já quase ultrapassando a risca da meta. Por outro lado, quando os juventinos conseguiam a posse da mexerica, em estocadas rápidas chegavam nas barbas do guapo Genésio, que igual a um serelepe pulava para todo lado para encaixar a redonda.
Mesmo sofrendo tanta pressão e o cotejo indo para os instantes finais, todo mundo do lado juventino já estava vislumbrando o caneco e, foi nesses instantes, que foi gerada a grande fuzerca, onde o mediador que viera tão bem até ali, passou a ser um protagonista que influenciou na decisão do certame.
No frigir dos ovos, cravados 45 minutos, o ponta de lança avaiano, Serafin Raul Caus, investiu perigosamente à defensiva contrária, tendo pela frente somente o último beque que saia na cobertura, Ivo Hercílio Wolff. Sem outra opção, pois também estava sendo ultrapassado, Ivo esticou a perna e numa alavanca deu o “rapa” derrubando o dianteiro avahiano, que foi ao chão da risca para dentro da grande área. Incontinenti, o juiz, Sr. Vaninho, cotado nas cidades Porto União e União da Vitória como o melhor homem do referee, acertadamente trilou o seu apito e colocou a redonda na marca da cal. Pressionado pelos juventinos e por um dos bandeirinhas, que afirmavam que a infração fora cometida antes do ponta de lança adentrar a área grande, voltou atrás. Tal atitude foi considerada muito estranha, pois ele estava junto do lance e tinha visão mais privilegiada que o bandeirinha que estava lá do outro lado, portanto, bem distante. Quanto a reclamação dos jogadores juventinos, eles fizeram o que todos estão acostumados a fazer quando tem uma infração, levantam as mãos para catimbar e tentar influenciar o apitador, principalmente se ele for um “maria vai com as outras“.
Sem mais tempo para nada foi encerrado o cotejo, o maior duelo visto até aquela data, no qual o Juventus F.C. festejou bastante, comemorando o seu primeiro título pela L.D.N.C. onde a maior injustiça fora cometida e ficará para todo o tempo registrada.
Pós-jogo, o árbitro reconheceu o seu erro e tentou desculpar-se, alegando que não quis desmoralizar o bandeirinha, opinando que o empate seria o resultado justo. Mas como diz o ditado, depois do mal feito, chorar não é proveito…o Avahi chorou, mas de nada adiantou e o caneco o Juventus levou.
Ficha do confronto decisivo:
Juventus F.C. 03 x 02 Avahi F.C.
Estádio Municipal de Porto União – Mário Fernandes Guedes – 15/05/1949.
Juiz – Ivanové Gaspari (Vaninho).
Renda – Cr$ 4.338,00.
Marcaram pelo Juventus: Jair Mendonça (Baiano) (02) e Romeu João Savi (01). Pelo Avahi balançaram as redes: Alceu Smaniotto (Ceceu) (01) e Manoel Fogaça (01).
O Juventus formou com: Bohdan Kuritza, Raul de Oliveira Quadros e Ivo Hercílio Wolff. Nei Baby, Arnoldo Roque e Cristiano Clausen. Romeu João Savi, Edgar Alves Ratinho, João Colita Junior, Paulo Ivo Rodrigues Paulinho e Jair Mendonça Baiano.
O Avahi jogou com: Genésio, Jofre Mansur Dim e Russinho. Ernand, Mansur e Edu. Alceu Smaniotto Ceceu, Orlando, Serafim Raul Caus, Mallet e Manoel Fogaça.