E LÁ FUI EU PARA CLEVELÂNDIA

E LÁ FUI EU PARA CLEVELÂNDIA

Coisas da bola

Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.

Qualquer semelhança será puro acaso.

“Jair da Silva Craque Kiko”

Levantei cedinho, tomei o café preparado por mamãe, com lágrimas nos olhos, pois seria a primeira vez que me ausentaria por bastante tempo, despedi-me. Fui até a estação rodoviária e tomei um ônibus para me dirigir até a cidade de Clevelândia no sudoeste paranaense, onde defenderia  o quadro do Tabú no campeonato paranaense de futebol profissional. Devido à grande expectativa e o trajeto ainda ter uma estrada sem asfaltamento, a viagem parecia que não acabava nunca.

Lá chegando, olhei pela janela do ônibus e imaginei que estava no velho oeste americano. Deparei-me com casas que pareciam saloons, em que na frente tinham traves para amarrar cavalos, pessoas trajando chapéu, poncho e usando botas com cano até os joelhos. Pensei comigo: “Meu Deus!  O que estou fazendo aqui?” Então, desci do busão e me dirigi até a pensão da dona Rosa, informado que fui por um taxista. Lá encontrei três atletas que seriam meus companheiros de time e, após as devidas apresentações, sentamos para almoçar. Notei que o atleta que estava sentado à minha frente, de nome Clidão, não tirava os olhos de mim. Perguntei para ele se havia algum problema e recebi como resposta um sim. O rapaz, então, deu um escarrada (catarro) na palma de uma das suas mãos e com o braço estendido mostrou para todos e perguntou quem ia querer engolir. Feito isso ele engoliu o próprio catarro. Diante do fato, o meu vômito foi inevitável. E foi um riso só das outras pessoas. Eles já estavam acostumados com aquilo.Toda vez que chegava algum boleiro para fazer parte do elenco, o espetáculo era apresentado. Fiquei com tanto nojo que durante uma semana não consegui me alimentar direito.

Passado o impacto negativo, na parte da tarde, junto com o treinador e diretor Enio Simonato, fomos à loja do Sr.Valdir Arruda, onde foi comprada uma cama com colchão de mola, que foi entregue na república dos boleiros, uma casinha de madeira localizada nos fundos do Estádio Max Sthlschimidt. Ainda na parte da tarde, no fusca amarelo do treinador, fomos até a empresa Barzenski, que ficava além do Parque de Exposições, local onde eu exerceria a função de responsável pela parte fiscal e de recursos humanos, chamado na época de Setor de Pessoal. Travado conhecimento com o gerente geral da empresa, ele solicitou que eu começasse a trabalhar na manhã seguinte, pois era final de mês e os serviços estavam atrasados. Informou-me que o expediente começava às 7 horas e que o café era servido na empresa.

Já instalado na república, iniciei a vida de boleiro do Tabú e funcionário daquela empresa madeireira. Foram nesses primeiros dias que quase joguei tudo para o alto, com o pensamento só em retornar para a casa de meus pais, porque além das saudades, o ambiente na república estava se tornando insustentável. Dos seis boleiros que moravam na casa, somente eu trabalhava fora, os demais só eram atletas, portanto, iam dormir tarde e não tinham a obrigação de levantar cedo e, com eu tinha que levantar às 6 horas para ir trabalhar, muitas vezes, sem querer eu os acordava. Após terem perdido o sono e, não tendo outra alternativa no momento, a boleirada pegava no meu pé, cantando: “Trabalha, trabalha bobo”. E lá ia eu, cerca de seis quilômetros, a pé, até o meu local de trabalho. Tudo isso suportei até começar o campeonato.

Quando começamos a jogar e, com todo mundo pegando junto dentro das quatro linhas, o respeito e admiração entre os boleiros moradores da república começou a ser posto em prática. Basta dizer, que a partir daí, o grupo fechou fora e dentro de campo e, nós  fizemos uma baita campanha naquele campeonato paranaense e fomos para muitos, a melhor equipe que o Tabú já teve.

Um outro fator muito importante era a amizade que nós boleiros da época fizemos com diretores e torcedores, tanto é, que vários jogadores se radicaram na cidade. Não foi o meu caso, que fui atrás de novos horizontes.

Esta resenha é para matar a saudades dos amigos boleiros: Clidão, Agenor, Bila, Pelezinho, Zico, Milton, Dirceu, Paulinho, dos  diretores e do povo clevelandense que muito bem me acolheu.

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