FERROVIÁRIO ESPORTE CLUBE – 1964 – ESTE TIME TEM FLÂMULA

FERROVIÁRIO ESPORTE CLUBE – 1964 – ESTE TIME TEM FLÂMULA

50 ANOS DA PRIMEIRA E MAIOR GLÓRIA DO FUTEBOL AMADOR DE PORTO UNIÃO DA VITÓRIA

Antes tarde do que nunca. Sempre que possível devemos homenagear as pessoas em vida. Ainda é tempo.

1ª Taça Paraná de Futebol de Campo – 1964/1965

Sentado naquela travessa de concreto da caixa d’água do Estádio Enéas Muniz de Queiroz, assistindo os maiores e mais fantásticos jogos de futebol, aquele vivente de oito anos jamais pensaria que 50 anos mais tarde escreveria sobre aqueles fatos inéditos, e que, anos mais tarde também seria laureado com uma conquista daquele naipe (foi campeão da Taça Paraná em 1987 pelo 7 de Setembro de Dois Vizinhos).

Através de pensamentos arremetidos ao passado foi buscar lembranças para escrever sobre uma conquista tão bela e inusitada. Para conseguir acesso àquele lugar tão privilegiado, pois, ficava na altura do travessão e bem atrás do gol de entrada do Campo do Ferroviário Esporte Clube, necessitava da ajuda de pessoas adultas. Quem sofria era o goleiro adversário que ficava ouvindo xingamentos como frangueiro e fila boia. Estou lembrando dos meses finais de 1964 e início de 1965 quando foi disputado a 1ª TAÇA PARANÁ DE FUTEBOL AMADOR.
Em uma idealização do saudoso Capitão Hugo Weber, diretor superintendente da Federação Paranaense de Futebol, o campeonato foi realizado premiando as equipes campeãs das várias ligas de futebol vinculadas à Federação. Dezessete equipes participaram divididas em Grupo Sul e Norte.
Por ter sido campeão da LERI – Liga Esportiva Regional Iguaçu em 1963, o Ferroviário Esporte Clube ganhou o direito de representar nossas cidades no primeiro campeonato fazendo parte do Grupo Sul.

CHAVE Sul 1
Araucária Futebol Clube (Araucária)
Associação Esportiva Porcelana Steatita (Campo Largo)
Clube Atlético Seleto (Paranaguá)
Real Esporte Clube (Curitiba)
XV de Novembro Esporte Clube (Antonina)

CHAVE Sul 2
Esporte Clube 7 de Setembro (Dois Vizinhos) à confirmar
Ferroviário Esporte Clube (União da Vitória)
Isal Esporte Clube (Irati)
Pavão Esporte Clube (Guarapuava)

CHAVE Norte 1
Clube Atlético Paranavaí (Paranavaí)
Clube Atlético Loandense (Loanda)
Grêmio Esportivo Maringá (Maringá)
União dos Estudantes (Apucarana)

CHAVE Norte 2
Associação Atlética Portuguesa (Londrina)
Azul Clube (Cornélio Procópio)
Clube Atlético Platinense (Santo Antonio da Platina)
Esporte Clube Agroceres (Jacarezinho)

CAMPANHA DO FERROVIÁRIO ESPORTE CLUBE
Em Irati – Isal 0 x 4 Ferroviário
O atacante Nico fez os quatro gols.

Em União da Vitória – Ferroviário 0 x 0 Isal
Na primeira partida em Irati a equipe foi dirigida pelo Sr. Salim Yared que por motivo de doença passou o cargo para o Sr. Azalmor de Almeida.

Em União da Vitória – Ferroviário 3 x 1 Pavão
Marcaram pelo Ferroviário Nelsinho (2) e Aguinaldo (1)
Xereta (1) pelo Pavão.

Em Guarapuava – Pavão 3 x 2 Ferroviário – na prorrogação houve empate em 1 a 1 e o Ferroviário se classificou por saldo de gols.
Pela equipe do Ferroviário marcaram Guina e Assunção no tempo regulamentar e Nico na prorrogação.
Segundo o relato dos atletas Aguinaldo (Guina) e Nilson Gilson Parisi (Nico) a equipe do Pavão foi o melhor time que o Ferroviário enfrentou. “Jogavam um futebol coeso, muito bonito, com grande qualidade técnica e conjunto admirável”.

Tendo sido campeão da CHAVE SUL 2 a equipe do Ferroviário enfrentaria a equipe do Real Esporte Clube da cidade de Curitiba campeão da CHAVE SUL 1.

Em Curitiba 13/12/1964 – Real 1 x 1 Ferroviário
O gol do Ferroviário Esporte Clube foi marcado por Edélson Jipão.

Em União da Vitória 20/12/1964 – Ferroviário 2 x 2 Real – Na prorrogação houve empate em zero a zero. A classificação foi decidida nas penalidades máximas. O Ferrinho ganhou por 7 a 6.
A partida foi jogada sob intensa garoa e, a equipe curitibana dominava as ações no primeiro tempo, quando aos 40 minutos fez 1 a 0. Após ter tomado o segundo gol aos 23 minutos do segundo tempo, a equipe do Ferrinho acordou e aos 24 minutos Bepe descontou. Novamente aos 35 minutos, Bepe empatou o cotejo terminando o tempo regulamentar em igualdade. A decisão seria, então, na prorrogação.
Quando a prorrogação estava no final o treinador Azalmor percebendo que a decisão seria na cobrança de penalidades máximas efetuou uma substituição na equipe. Sacou o goleiro Paulinho e colocou o Bertolotti que era bom pegador de pênaltis. Para que a substituição fosse processada o goleiro Paulinho pegou a bola e deu um balão para o mato. O pessoal da imprensa criticou tal substituição, temiam, pois o goleiro Bertolotti entrou sem estar no calor do jogo. Terminada a prorrogação em empate a decisão foi para cobranças de penalidades.

Quem tinha um coração fraco sentiu o efeito, como o meu vizinho Coelho que foi parar no hospital, pois as cobranças foram emocionantes. Foram cobrados quatro séries de três penalidades para que fosse conhecido o time que iria disputar a final com a equipe do Agroceres (vencedor da chave norte), que já tinha se classificado um domingo antes. Cada batedor batia os três pênaltis seguidos.

Na primeira série de cobranças houve empate em 2 a 2. O goleiro Bertolotti pegou uma penalidade e nosso batedor Joanides chutou um pênalti para fora.

Na segunda série o Bertolotti pegou as três penalidades e se dirigiu para o vestiário pois contava com a classificação, já tinha tirado as meias, quando foi chamado para voltar ao campo. O nosso batedor Joanides tinha desperdiçado as três cobranças, sendo que uma dessas cobranças quase me atingiu, pois, foi por cima do travessão na direção onde eu estava sentado na travessa da caixa d’água.

Na terceira série o nosso goleiro pegou uma penalidade e o nosso batedor perdeu uma, portanto mais um empate em 2 a 2.

Na quarta série o Bertolotte pegou mais um e o batedor Joanides converteu em gol as três cobranças.
Resultado final das penalidades, 7 a 6 para o Ferroviário Esporte Clube.
Segundo palavras do Bertolotti, ele pegou sete penalidades e não seis como estão relatados em súmula e jornais da época.
Tendo em vista que os batedores oficiais não se julgaram com condições de cobrar as penalidades, o Joanides ficou encarregado de executá-las. O nosso batedor Joanides é pai do Gilson Parabólica.

Como o Ferroviário tinha sido campeão da CHAVE SUL e o Agroceres campeão da CHAVE NORTE a grande decisão seria entre os dois times das cidades localizadas geograficamente nos extremos sul e norte, respectivamente.
Já era 1965 e a decisão da 1ª TAÇA PARANÁ aconteceria naquele janeiro que ficou marcado como o ápice da grande conquista.

Decisão
Jogo de Ida – Jacarezinho – 03/01/1965 – Agroceres 1 x 0 Ferroviário
Embora a equipe do Agroceres fosse de Santo Antonio da Platina, o jogo foi realizado no Estádio Pedro Vilela em Jacarezinho por reunir melhores condições para um jogo especial e decisivo.
Segundo relato de atletas e pessoal da imprensa falada, durante a viagem até o norte Pioneiro do Paraná a animação era por conta do atleta Brandina cantando sambas inesquecíveis.

Jogo de Volta – União da Vitória – 13/01/1965 – Início às 15:07 minutos
Ferroviário 2 x 0 Agroceres
Com este resultado a partida foi para a prorrogação e a equipe do Ferroviário venceu por 1 x 0.
Marcaram para o Ferroviário com gols de cabeça na etapa final do tempo regulamentar, Assunção e Edélson Jipão. Na prorrogação Luis Jorge Côas, que foi considerado o melhor da partida, segundo relato do representante da federação (ver relatório do Delegado da Presidência da Federação- em anexo), após uma tabelinha com o meia esquerda Nico Parisi, arrematou de fora da área.
Como o excelente centroavante Nelsinho tinha machucado o tornozelo e não reunia condições de jogo, o técnico Azalmor, em dúvida de quem escalaria, consultou um atleta mais experiente, Aguinaldo, que deu o aval. Azalmor então lançou o jovem Luis Jorge Côas que vinha arrebentando nos treinamentos e fez o gol do título.

Normalmente em casa a equipe jogava num esquema 4-2-4 com Aguinaldo e Assunção no meio de campo e, na decisão não foi diferente. O time foi para cima e no decorrer da partida conforme o adversário se posicionava o esquema passava para um 4-3-3 com o ponteiro Bepe fazendo o terceiro homem na meiúca.

Dados da Campanha :
Ferroviário Esporte Clube – Campeão da 1ª Taça Paraná de Futebol Amador
22 jogadores faziam parte do grupo de atletas
Goleiros – Paulo, Bertolotte e Itorzinho (Pombo Seco)
Defesa – Julinho, Rui, Joanides, Nenê, Pedrinho e Ítalo Pasqualin
Meio Campo – Aguinaldo, Assunção, Feijó e Bepe
Atacantes – Edélson Jipão, Faísca, Nelsinho, Nico Parisi, Luis Jorge Côas, Odair Bertolotte, Pingue e Brandina.
Massagista – Marcondes
Técnicos – Salim Yared (primeira partida) e Azalmor de Almeida
Presidente: Ireno Vicente.

Artilheiros
Nico Parisi com 05 gols – Aguinaldo, Edélson Jipão, Nelsinho, Assunção e Bepe com 02 gols. Luis Jorge Côas com 01 gol.

Para essa disputa o Ferroviário emprestou os atletas:
Bepe (Avahi) era técnico e de muita movimentação – tinha fôlego de gato, após a conquista ficou definitivamente no Ferroviário.
Assunção (União) muito técnico com qualidade no passe além de muita raça, dizem, uma sumidade na posição.
Feijó (União) era técnico e tinha qualidade no toque de bola.

Foram disputados 08 jogos
16 gols marcados
09 gols sofridos
Saldo de 07 gols.

Curiosidades:
Árbitro da Final – Rui Chaves
Início da partida – 15:07 minutos do dia 13/01/1965
Renda – Cr$ 720.000,00 considerada excelente
Conforme consta no borderô do Delegado da Federação, a LERI doou os 10% da renda a que tinha direito para a equipe do Ferroviário Esporte Clube.

Contou-me um atleta que fez parte daquele elenco, que após a conquista do título recebeu um envelope com certa quantia em dinheiro, era o prêmio pelo título. Ele juntamente com mais dois amigos chegados foram então para a esbórnia, uma bocada ali na Rua Cruzeiro, conhecida pelos amantes da fuzarca com Xiringa. Juntamente com quatro mariposas ficaram três dias vivendo na luxúria. Quando o dinheiro estava nos finalmente, no terceiro dia, de madrugada, foram embora. Sairam da Zona e foram a pé até o centro de Porto União, na praça Hercílio Luz, onde, com o restante do dinheiro comeram três pastéis e foram para suas casas só com o pó no bolso.

No elenco tinha um atleta com o apelido de Pingue. Perguntado sobre a origem da alcunha ele deu a seguinte explicação: Como era um avante de velocidade gritava para os meias armadores para pingarem (lançar a bola) nas constas dos zagueiros. Daí veio o apelido de Pingue.

Nas viagens quando a equipe pernoitava em outras cidades tinha um atleta que repetia várias vezes o café da manhã. Perguntado ao mesmo para onde ia aquela comida, pois ele era fininho, ele respondia que aquela comida ia para a perna, dizia que tinha uma perna oca.

Tinha um atleta que antes de todas as partidas comia um sanduíche. Inclusive no intervalo do jogo comia mais um sanduíche com bananas. A diretoria já estava ao par e sempre a merenda estava lá para ser degustada pelo jogador. O mesmo tinha um fôlego de gato e corria como se tivesse um motorzinho nas pernas.

Existem relatos contraditórios em alguns fatos acima citados. Preferi me ater nas palavras das pessoas envolvidas diretamente, até porque, foram as protagonistas. Também levei em consideração os relatos das súmulas e notícias dos jornais da época.

Segundo o regulamento da competição a taça era rotativa. Ficaria de posse da mesma a equipe que ganhasse três vezes .Esta Taça Paraná ficou em definitivo com a equipe do Trieste da capital paranaense.

Os seis primeiros vencedores dessa competição até que a referida taça ficasse de forma definitiva foram:
1964 – Ferroviário Esporte Clube
1965 – Trieste Futebol Clube (Curitiba)
1966 – Trieste Futebol Clube (Curitiba)
1967 – Corinthians Londrinense (Londrina)
1968 – Fanático Futebol Clube (Campo Largo)
1969 – Trieste Futebol Clube (Curitiba).

Em todo o tempo gasto em pesquisas, deslocamentos e entrevistas com pessoas envolvidas na grande conquista, o momento mais emocionante foi quando consegui reunir cinco atletas vivos que residem em nossas cidades. Nos encontramos todos em frente da residência do Bepe. Os abraços fraternos e as muitas lágrimas destas pessoas foram de arrepiar.
Pelas pesquisas foram encontrados nove atletas vivos, sendo que, seis deles residem em nossas cidades :
Aguinaldo F. de Souza – Guina (meia armador)
Nilson Gilson Parisi – Nico (meia atacante)
Almir Domingos Silva – Pingue (atacante)
Odnir Bertolotti – Bertolotti (goleiro)
José Tusset – Bepe (Ponta esquerda e meia atacante)
Itálo Pasqualin – Pasqualin ( jogava nas duas laterais, zagueiro e meio campo)
Paulo Schwartz – Paulinho (goleiro – reside em Francisco Beltrão – PR)
Julio Frost Junior – Julinho (lateral direito, volante e meia esquerda – reside em Barra do Sul – SC)
Valdevino de Jesus – Faísca (atacante – reside em Telêmaco Borba – PR)

Através dessa conquista, quando se pesquisa sobre o futebol amador do estado do Paraná, o primeiro nome que surge é o do Ferroviário Esporte Clube de União da Vitória, que sem sombra de dúvidas faz com que a nossa cidade seja conhecida e reconhecida em todos os rincões.

Agradecimentos:
Agradeço a todas as pessoas que prontamente colaboraram com informações, fotos e jornais da época, que propiciaram a pesquisa para homenagear os grandes vencedores através desta matéria.
Agradecimento ao Sr. Antônio Xavier Paes, presidente do Ferroviário Esporte Clube, pela disposição em ajudar na confecção desta matéria, emprestando a taça da conquista que está na sede clube.
Agradecimento todo especial ao amigo e atleta Aguinaldo F. de Souza que não mediu esforços em me auxiliar nesta empreitada.

O vereador de União da Vitória Carlos Humberto Topolski entrou com um pedido na Câmara Municipal e os atletas foram homenageados com uma Menção Honrosa.

 

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