A TAÇA DE BRIGA DE GALO

A TAÇA DE BRIGA DE GALO

Sempre no afã de ganhar mais um dinheirinho, enquanto meu pai atendia a sua freguesia na barbearia, eu virei treinador de galos de brigas. Além de sempre limpar as oito gaiolas que estavam localizadas no nosso antigo paiol, cortar as penas das coxas e atrás do pescoço, fazer massagens com álcool misturado com mentruz (mastruço) e aplicar exercícios físicos para que as aves tivessem maior resistência, também, duas vezes por semana, eu fazia com que os bichos fossem testados em uma briga. Era como se fosse o treinamento coletivo realizado pelas equipes de futebol. Lógico que, para preservar a integridade física, eram colocadas esporas e biqueiras de borracha nas aves. Religiosamente, eu treinava os galos do meu pai, sempre aplicando os métodos ensinados pelo dono da rinha, que era localizada nos fundos da raia de corridas de cavalos, na beira do Rio Iguaçu, fundos do Estádio Bernardo Stamm, no Bairro São Bernardo.

Numa sexta-feira, levantei bem cedinho, alimentei os galos de briga e os coloquei para tomar sol dentro dos passeadouros. Separei o galo índio Branco dos demais e comecei o treinamento dele. Exercícios físicos leves e massagem nas coxas eram o que estava programado para a ave. Ele não iria treinar com outro galo porque no domingo participaria de um torneio na cidade de Palmas – Pr. Após o treino, o galo Branco foi colocado em sua gaiola, recebeu uma alimentação especial e ficou como estivesse em concentração. Domingo pela manhã, no clarear do dia, eu e meu pai, de ônibus, nos dirigimos até a cidade de Palmas e, no rinhadeiro palmense, inscrevemos o galo para a competição. No final da tarde já estávamos com o troféu. A nossa ave deu um show, foi a que venceu em menor tempo e foi considerada campeã. Nos comentários dos donos de galos a pergunta que se fazia era sobre a força física do galo Branco, pois em poucas passadas o seu adversário tinha ido literalmente beijar a lona, e eu, no meu íntimo, sabia que era o responsável pelo desempenho daquele campeão. A taça era linda e o meu pai, era uma alegria só.

No outro final de semana, eu e meus colegas, todos na fase da pré-adolescência, organizamos um torneio de futebol no campinho situado do outro lado da rua, em frente da minha casa e da estrada de ferro. Era uma competição individual de travinha livre. Apareceu uma chusma de piás para participar. Sem que o meu pai soubesse, coloquei a taça ganha na briga de galo para ser disputada, pois, tinha certeza que seria campeão. Só que não fui. Outro menino ganhou e tive que dar a taça. Quando meu pai soube do “feito” ficou possesso comigo. Chamou o menino que tinha ganhado e ofereceu um galo pela taça. O menino aceitou e, após eu ter levado uma surra de vara de marmelo e ter prometido que nunca mais faria coisa parecida, a situação ficou em paz.

Texto publicado no livro de autoria do Craque Kiko: Apócrifos da biografia de um desconhecido.

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