Não sei se por sorte ou porque eu jogava um pouco melhor, tive o privilégio de jogar em equipes que sempre estavam nas cabeças dos campeonatos. Na maioria das vezes, sempre estávamos decidindo as competições, mas nem sempre conseguíamos ser campeões, pois o velho jargão do futebol às vezes se fazia presente: “O futebol é uma caixinha de surpresas” . Baseado nesse contexto, vou contar um fato ocorrido na década de 1980. Foi no sudoeste do Paraná. Disputávamos o campeonato da Liga de Francisco Beltrão e vínhamos arrebentando naquela competição. O nosso time, 7 de Setembro (Dois Vizinhos-PR) estava voando. Com a espinha dorsal escolhida a dedo pelo nosso inteligente treinador, éramos disparadamente a melhor equipe, com defesa menos vazada, melhor ataque e melhor números de pontos ganhos. Se alguém apontasse um campeão antecipado, com certeza, seríamos nós, que já estávamos garantidos na final.
Rezava o regulamento que as duas melhores equipes classificadas decidiriam o título em uma partida única e o mando de campo sairia por meio de um sorteio.
Brigavam pela segunda posição e, consequentemente, por outra vaga para final, duas equipes. Uma delas, tradicional rival, o União (Francisco Beltrão-PR), que sempre nos impunha dificuldades, pois quando nos enfrentávamos o bicho pegava, era pau a pau. A outra equipe que pleiteava a classificação, o Palmeiras (Ampere-PR), era considerada mais fraca e já fora goleada por nós na nossa casa por 5 x 0.
Faltando uma rodada para o final da fase classificatória tínhamos que cumprir a tabela. O jogo seria em Ampere, sendo que, a equipe da casa necessitava nos vencer pelo placar de 9 a 0 para ganhar o direito de fazer a finalíssima conosco. Diante dessa possibilidade e para derrubar o União, os diretores e comissão técnica da nossa equipe, resolveram escalar para essa partida o nosso time juvenil, e assim o fizeram. O nosso juvenil foi goleado por 9 a 0 e a equipe contrária ganhou a vaga para a final.
Com protestos da equipe beltronense desclassificada, a semana foi bastante agitada nos bastidores, só se falava na mutreta feita. Em uma quarta-feira foi feito o sorteio para a grande final. Levamos azar, a finalíssima seria em Ampere, mas como eles já eram fregueses de carteirinha não houve preocupação alguma.
Antes de nos deslocarmos para a cidade da final, a diretoria deixou tudo pronto para a festa do título que seria comemorado quando voltássemos. A certeza do título era tanta que pela manhã um boi e dois leitões foram mortos. Vários barris de chopp seriam colocados em pontos estratégicos para que a torcida pudesse comemorar na volta. A nossa massa torcedora acompanhou a delegação e os poucos que ficaram presenciaram uma cidade quase que deserta.
Tudo pronto para começar o jogo e no que a bola rolou começou a ventar prenunciando literalmente uma tempestade. A medida que o tempo de jogo passava, o vento que era contrário ao nosso ataque, aumentava. Em uma reposição de bola, o goleiro adversário deu um balão e a bola levada pelo vento chegou até o nosso goleiro que tentando efetuar a defesa jogou-a para dentro da meta. Um a zero para o time da casa terminou o primeiro tempo.
No início da etapa final, o vento parou, mas começou a chover, dificultando a nossa equipe que era muito leve e técnica. O que parecia impossível começou a acontecer. A bola batia na trave, parava na água e o goleiro fazendo defesas antes nunca vistos, parecia que estava com diabo no corpo e nada da bola entrar no gol adversário. Perdemos a partida por 1 x 0. Gol de goleiro com de um balão, parece impossível, mas foi isso que aconteceu. O adversário não acreditava no acontecido, pois antes do início da peleja já dava como perdida.
Perder um título para uma equipe muito inferior acontece no futebol. Por isso é que o jogo é jogado. Ninguém ganha na véspera. Dentro das quatro linhas é onze contra onze e o Impossível Futebol Clube às vezes atua.
E quanto à festa que estava preparada? Bem! As comidas e o chopp foram consumidos mas tinham um gosto amargo, ainda mais quando alguém falava que o castigo veio a cavalo.