Em um feito inédito, honrando o esporte bretão de União da Vitória, a embaixada do Ferroviário E.C., campeão invicto em 1949 do certame da L.E.R.I. – Liga Esportiva Regional Iguaçu, rumou com destino à cidade Princesa dos Campos, Ponta Grossa – PR, para o sensacional tira teima frente o Operário Ferroviário S.C., campeão pontagrossense. Os esquadrões dos trens do interior da terra dos pinheirais, Ferroviário E.C. e Operário Ferroviário S.C. saíram do certame de 1949 laureados pela conquista máxima e, como contra os fatos não há com que argumentar, tiveram uma performance invejável nas suas plagas. Mesmo sendo campeão invicto de União da Vitória, ninguém cria num triunfo fora dos domínios, ainda mais, que o seu oponente vinha precedido de uma estrondosa fama. Entretanto, refutando todos os prognósticos possíveis, o esquadrão do Dr. Enéas Muniz de Queiroz, foi, viu e triunfou. Deixou o quadro da casa a ver navios. Simplesmente os cobras do Ferroviário, deitaram, rolaram e esbanjaram categoria dentro do gramado. Foi um feito tão maiúsculo, que não se admite contestações, dadas as reais condições em que foi conquistado, fora de seus domínios, em terra alheia.
Heitor Pinto pela meia esquerda e Valdevino de Jesus (Faísca) pela marginal direita, tocaram o horror na cozinha do Operário, tanto é, que os asas médios contrários, o direito e o esquerdo, tiveram que abrir a caixa de ferramentas para tentar conter as investidas em seus setores. Não conseguiram. Com um Heitor escondendo a bola nos pés e um Faísca armando uma correria pelo seu lado, deu o que deu, o Ferroviário venceu (parece trova).
Soberano e altivo dentro do tapete verde, jogando como se fosse o quadro mandante, já aos dezessete minutos o esquadrão visitante fazia mexer o marcador. Heitor, na entrada da grande área, após receber um centro da intermediária ofensiva direita, inflou a caixa torácica e quando a redonda ia se chocar com seu peitoral, soltou o ar e ela foi amortecida, na caída, em um sem pulo rasante de perna esquerda, num tiro cruzado, fez um coador da rede do esquadrão princesino. O guapo voou só para tentar aparecer na foto ou para justificar a sua presença no arco, mas só escutou o “chuá” quando a redonda bateu às malhas. Mandando e com as rédeas do cotejo, o Ferroviário, aos 41 minutos, novamente através do ambidestro Heitor, que entrando em diagonal, da quina esquerda da grande área arrematou com firmeza de pé direito, indo caprichosamente o balão de couro ultrapassar a linha da meta pelo ângulo superior direito. Outro golaço. Em vantagem por dois tentos a zero, o Ferroviário continuou fustigando, contra um onze oponente totalmente incrédulo. Em cima do laço, o apitador Sr. João Stacoviak encerrou a primeira parte do duelo com a façanha parcial de 02 gols a 00 para Ferroviário E.C.
Ao voltarem para a segunda parte daquele cotejo que ficaria registrado nos anais da história e, lembrado agora por esse repórter esportivo, Craque Kiko, para homenagear os cobras que passaram pelo futebol da querida terra, o elenco do Ferroviário voltou arrasador. Mais corisco do que já era, Faísca voltou querendo mais jogo. Armando uma fumaceira pelo seu setor, deixava o asa médio esquerdo toda hora na saudade. De tantos lances que ganhou, não demorou muito tempo, logo aos 10 minutos Faísca fez o seu tento. Ao receber uma esticada no costado do seu contendor, em velocidade, num toque só, tirou o beque central Domingos que vinha na cobertura e ficou de frente para o perigo. Buscando se agigantar e tirar o ângulo de arremate, o guarda redes, Raio, com os braços abertos tentou um abafa. Só tentou. Com maestria, Valdevino de Jesus, mais faísca que nunca, rapidamente desferiu um chute colocado no contrapé do camisa número um. Era o terceiro tento do Ferroviário E.C. de União da Vitória. Continuando não entendendo como o esquadrão visitante era tão bom de bola, pois lances em triangulação rápida, em 1949, já era praticado pelos união-vitorienses, o quadro do Operário Ferroviário fez o seu tento solitário no instante de 41 minutos, através do dianteiro Nelson, num chute despretensioso, que o guarda valas Bohdan Kuritza aceitou, talvez por estar frio no cotejo, pois raras bolas chegavam até o seu arco. Com o escore de 03 tentos a 01 para o tricolor visitante (uniforme nas cores verde, vermelha e preta), o mediador encerrou a porfia.
Com primorosa atuação, também salientaram-se no palco verde das Oficinas da Rede em Ponta Grossa, o beque central Tcheco, uma muralha, Dário, Heitor, Zildo, Azamor, Deco e Birole, todos esplendorosos.
Durante o farto jantar junto com os oponentes, os craques Heitor e Faísca receberam uma proposta para defenderem as cores do Operário, que disputaria o Campeonato Estadual do Paraná, mas como tinham bebido água do Rio Iguaçu e, como medo de sentir sede dela, recusaram o convite. Já noite adentro, para retornarem, a embaixada vencedora seguiu até a Estação Ferroviária, para apanhar o trem que fazia a linha Itararé/Montevidéu e passaria pelas cidades irmãs.
Ficha da pugna
Operário Ferroviário S.C. (Ponta Grossa) 01 x 03 Ferroviário E.C. (União da Vitória).
Campo das Oficinas (Germano Krüger) – 19/03/1950 – domingo.
Renda – Cr$ 4.300,00.
Mediador – João Stacoviak, com desempenho regular.
Operário Ferroviário S.C.: Raio, Bonato e Domingos. Pila, Chico Mula e Lourival. Nelson, Hélio, Dirceu, Sielski e Chico.
Ferroviário E.C.: Bohdan Kuritza, Zildo e Tcheco. Mansani (Azamor), Dário e Ernesto. Wilson, Faísca, Deco (Julinho), Birole e Heitor.