Com a fundação da L.E.R.I – Liga Esportiva Regional Iguaçu no ano de 1932, essa entidade esportiva promoveu o primeiro certame futebolístico em União da Vitória com vinculo na F.P.D. – Federação Paranaense de Desportos, ainda nesse ano. Participaram nessa primeira competição citadina os esquadrões do Palestra Itália S.C., União E.C., Guarani F.C., Rio D’areia E.C. e Caxias F.C.
Por ter sido o grande campeão da Liga, o Palestra S.C. ganhou o direito de representar União da Vitória no Campeonato Estadual Paranaense. Conforme a tabela, em data acertada, a embaixada palestrina foi até a cidade de Irati e debutou no certame duelando fora de seus domínios contra o campeão daquele povo, que representou a Liga Regional Linha Sul, o forte esquadrão do Iraty S.C.
Terminado o prélio sopa, pouco antes de ser travado o duelo oficial, o céu escureceu e com rajadas de ventos acompanhados por relâmpagos, debulhou um aguaceiro. Enquanto o público que afluiu, todo molhado, esperava ansioso e reclamava para que rolasse o balão de couro, no vestiário dos locais, juiz e capitães dos dois litigantes discutiam com qual bola de capotão jogariam. Mesmo que a redonda usada no cotejo aperitivo, velha, surrada e estando meio murcha, alegavam os da casa, que por serem os mandantes, peleariam com ela. Já o capitão do Palestra, meio nervoso com o atraso do início da pugna, argumentou que a redonda deles estava igual ao futebol por eles praticados, “murcho e xoxo” e, com o gramado igual a um charco, os muitos sapos daquela cidade adorariam chutá-la. Quando ouviu a depreciação do seu futebol e do seu campo, o capitão do Iraty virou num “sapenga” e foi para cima do capitão do Palestra. Ferveu o tempo. A “dona justa” intercedeu e já desceu o cassetete para separar os dois. Com os lombos ardidos, os dois capitães chegaram ao aprazimento, para que no mínimo fosse soprado mais ar na redonda. Surgiu outro entrevero, não tinham uma bomba para colocar ar na bola. Resumindo, foram para o combate com aquela peca meio murcha, até porque, não se sabe como e nem quem, fez sumir a bola do Palestra.
Passado o temporal, com meia hora de atraso, deu-se o pontapé inicial. Num palco enlameado, o que se viu foi uma luta brilhante e muito cavada, principalmente por terem os dois quadros elementos cobras e catimbeiros. Melhor ajeitado no palco encharcado, o onze do Iraty lutava incansavelmente em busca da retumbante vitória. De forma impenitente, a turma palestrina excursionava esporadicamente na sua linha de frente, atuava numa retranca nunca visto. Na sua cozinha era só “bicão pro mato”, até porque, com aquele balão meio mole teria que ter lances daquele tipo, era perigoso sair com ele rolado.
Fustigando durante todo o combate, com os nervos à flor da pele, onde a emoção estava bem acima da razão, o bando de Irati era só chuveirada na pequena área do Palestra Itália. Quando os beques do Palestra já estavam com a cabeça inchada de tanto testar a esfera, vacilaram e, um dianteiro contrário, o de menor estatura, de cocuruta derrubava o arco do quadro das margens do Iguaçu e fazia funcionar o placar pela vez primeira, decretando 01 a 00 para os da casa.
Na saída de bola para reinício da peleja, com a cozinha iratiense avançada e ainda comemorando o tento, foi efetuado um lançamento no costado dos beques e, um dianteiro do Palestra, na velocidade arrematou para a meta. Pegou na orelha da bola e o tiro saiu fraco, mas a sorte lhe sorriu, pois o guapo estava encostado e batendo na parte inferior do poste direito com as solas das chuteiras para retirar o barro encravado. Quando ele quis se atirar para praticar a defesa, não deu tempo, só teve o trabalho de ver a redonda ultrapassar a linha divisória da sua meta, que sem força nem chegou a ninar no fundo da rede. O placar tinha sido mexido novamente, só que dessa vez pelos visitantes, empatando a porfia em 01 a 01 e, isso, foi nos 40 minutos da fase complementar.
Faltando dois minutos para o desenlace da contenda, o Iraty derrubava a cidadela novamente. Enquanto a assistência comemorava ainda com as vestimentas molhadas devido à chuva, S.S., o mediador, invalidava o tento instalando-se o primeiro sururu dentro das quatro linhas. Com muita personalidade do apitador, manteve-se a anulação. Pressionando de todas as maneiras possíveis, nos últimos segundos, no peito, na raça e na marra, com bola e tudo num carrinho, o ponta de lança destaque no prélio, balança a rede do Palestra. Com a torcida fazendo a festa e, mesmo antes dos jogadores começarem a comemorar, incontinentemente, o homem do apito desvalidava, alegando que ao dar o carrinho o avante levou a bola com a mão. O segundo e mais forte sururu foi botado dentro do campo de jogo. Não teve jeito, mesmo levando várias peitadas, o apitador manteve o posicionamento. Logo após o reinício, o prélio foi encerrado com o placar de 01 a 01. A partir daí, o que se viu foram todos os jogadores do Palestra se abraçando, comemorando e indo correndo para o vestiário, o que causou estranheza em todos os presentes, pois o duelo teria que ser decidido em uma prorrogação.
Acionados no vestiário pelo representante da Federação Paranaense de Desportos, o elenco do Palestra, já de banho tomado para retornar, protestou e não voltou para continuar o prélio, alegando que não sabia da dita prorrogação. O delegado da máxima entidade futebolística paranaense, então, mandou o esquadrão do Iraty dar a saída na redonda e proclamou o triunfo iratiense.
Os protestos dos desportistas das margens do Iguaçu foram muitos, mas de acordo com o regulamento, era o que estava previsto. Alguém não ficou a par por não ter lido e, o Palestra Itália, na sua estreia no certame estadual, foi eliminado de cara.