PAPAI NOEL E O MELHOR NATAL DO MUNDO

PAPAI NOEL E O MELHOR NATAL DO MUNDO

Coisas da bola

Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.

Qualquer semelhança será puro acaso.

“Jair da Silva Craque Kiko”

Natal sim e Natal também. Aqueles quatro meninos, pelos vãos da cerca de madeira, ficavam com as vistas esbugalhadas cobiçando e sonhando com os presentes ganhos pelos filhos dos vizinhos. O Papai Noel para eles sempre vinha com o saco abarrotado.

De toda a vizinhança, aquela família tinha uma vivência dura, de fiapo de bolso. O seu rango dependia da entrada de fregueses da barbearia do patriarca. Os trocados que entravam dos cortes de cabelos e barbas eram a garantia de boia nas panelas. Na lida diária, aquele pai de família tentava dar o melhor para sua prole, até aquele tempo, quatro bacurotes, sendo que os dois mais nenéns deram o ar da graça no mesmo parto.

Como toda criançada, eles esperavam naquele dezembro a chegada do Bom Velhinho. Com vizinhos bons de bolso, seus filhos ganhavam presentes que pareciam um sonho. Muitas vezes nessa época natalina, os filhos do barbeiro ficavam chupando o dedo, imaginando o Papai Noel aparecer por ali com uns presentes daqueles. Já estavam acostumados a ficar felizes com pouco, por mínimos que fossem os presentes, isso quando ganhavam, era a maior festa.

Nas raras vezes que o Papai Noel marcou presença na humilde casa, ele chegava na surdina e deixava o saco de presentes atrás do portão de entrada. Por várias vezes, quando os raios solares começavam a se esconder no horizonte, aqueles piás iam na correria verificar se ele já tinha deixado o saco por lá. E, quando deixava, eram presentes simples, mas que, aliado aos ensinamentos da sua mamãe, que o importante era o nascimento do Menino Deus, não se preocupavam se o presente era de valor ou não. O sonho era ganhar alguma coisa.

Mesmo pequenos, aquelas crianças já tinham percebido que o Papai Noel era o seu papai, pois, antes do saco de presentes aparecer no portão, ele sumia por um tempo da barbearia. Com o que tinha amealhado pelo seu trabalho de fígaro durante todo o dia, usando alguns aqueles vinténs, ele saia na surdina para comprá-los. E, naquele Natal, quando a noite já começava a cobrir as cidades grudadas pelos trilhos ferroviários, o papai não tinha sumido da barbearia e o Papai Noel não tinha deixado o saco atrás do portão.

O filho mais velho e um pouco mais ladino, tinha atinado que durante todo aquele dia de expectativa não tinha entrado nenhum freguês na barbearia, portanto pressagiou que não teriam presentes. Por ele, até que se conformava, mas vendo a expectativa dos seus maninhos, que seguidamente iam a passos rápidos meter as vistas atrás do portão, sentiu que eles teriam uma dor maior que a sua nos seus coraçõezinhos.

A dor maior naquele final de tarde foi do mais velho, quando viu o seu papai ir tomar água do balde que estava em cima da pia na cozinha. Oculto pela cortina de uma porta, viu as lágrimas da mamãe ao ouvir o seu marido dizer que, novamente as crianças ficariam sem presentes. Logo após, ouviu o barulho da grande porta da barbearia ao ser fechada e o seu papai sair pedalando rapidamente a bicicleta de marca Prosdócimo.

A noite já entrara forte. Se preparando para irem para a cama, ouviram o barulho de um automóvel que acabara de estacionar em frente da barbearia. Era a família da irmã mais nova da esposa do barbeiro, moradora da cidade de Canoinhas, que de surpresa apareceu para passar o Natal ali. A fisionomia preocupada e assustada da mãe das crianças mudou para uma alegria sem igual, quando começaram a descarregar do automóvel várias cestas de natal e presentes para todos.

Mais contentes ficaram aqueles guris, quando por volta das onze horas da noite, o papai barbeiro retornou e chegou perguntando para eles se o Papai Noel não tinha pintado por ali. Entendendo o recado, a piazadinha azulou o pé para verificar atrás do portão, e lá estavam, dentro de um enorme saco vermelho, os maiores e melhores presentes de Natal que ganharam em toda a vivência.

Com todos os integrantes daquela família com os cantos da boca chegando perto das orelhas, como se estivessem exalando alegria e muita felicidade, fazendo parte da celebração natalina, como de costume, à meia noite, todos foram à tradicional missa do galo na igreja matriz no Alto da Glória.

Tempos depois, aquele primogênito descobriu que naquele Natal, o seu papai tinha saído de bicicleta e ido até a casa de um compadre que tinha uma bodega perto da Lagoa Preta, no Bairro São Bernardo, em União da Vitória. Fora lá para emprestar algum boró para comprar os presentes para seus pequenos herdeiros. Além de emprestar o “tutu”, o compadre foi junto até a casa de um amigo que era dono da loja Gabriel Nemes. Mesmo já estando comemorando o Natal com seus familiares, muito sensibilizado o homem foi até a sua loja e vendeu os presentes, pois pensava, que uma criança ficar sem receber um presente de Natal era um grande pecado.

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