O final de semana prometia ser espetacular. A Associação Atlética Iguaçu receberia no Enéas Muniz de Queiroz a equipe coxa branca. O áureo cerúleo era o caçula do campeonato paranaense daquele ano e contava com o décimo segundo jogador com atuação garantida, a torcida. A certeza de casa cheia era evidente, tamanha era a repercussão daquela partida, pois a imprensa falada, escrita e televisiva noticiava que o embate poderia ser antológico, devido à qualidade das equipes.
De madrugada, eu já estava entregando o jornal Gazeta da Fronteira, veículo de comunicação novo que estava procurando o seu espaço no mercado. Com mais de quinhentos exemplares para entregar, eu teria de dar duro para executar tal tarefa, pois teria de terminar a entrega antes do início da peleja.
Cansado, mas com o trabalho executado antes da bola rolar, lá fui para a Vila Famosa. Dirigi-me para a cerca de madeira que foi feita logo atrás da caixa d’água, local pré determinado para entrar de “ratão”, pois não tinha dinheiro para pagar o ingresso. Chegando no local, encontrei a piazada conhecida já providenciando o acesso, ou seja, entrando no estádio por baixo das privadas construídas junto da cerca. Enquanto alguém ficava olhando para ver se ninguém vinha utilizar as patentes (nesse caso específico quem nos avisava era o amigo Parafuso, que estava em cima de sua bicicleta e tinha visão para dentro do estádio), outros entravam por baixo, saindo no buraco da tampa que era destinada às pessoas sentarem para fazerem as necessidades fisiológicas. Uma vez lá dentro, era só alegria.
Foi um baita jogo. O goleiro Jairo do Coritiba fez vários milagres com defesas mirabolantes. O Dito Cola, meia cancha do Iguaçu, acertou um pombo sem asa na gaveta. O “golquiper coritibano” foi buscar e caiu com ela nos braços. Que defesa linda! Em toda a minha vida de atleta foi o melhor goleiro que vi jogar, e olha que andei jogando por muitos rincões.
No final da partida, em uma cobrança de escanteio, no gol dos fundos, o centroavante do Coritiba, o cabeludo Hélio Pires, acertou uma cabeçada na gaveta esquerda do goleiro iguaçuano, decretando um a zero no placar. E ficou nisso.
Terminado o cotejo, fui para casa tomar um banho, pois ao entrar no estádio, devo ter encostado em algo fétido (merda) e tinha encontro marcado com uma namorada em frente ao Cine Ópera. Como eu só tinha o pó no bolso, ela me pagaria a entrada para assistirmos o filme de sucesso da época, Love Story. Assistido o filme, fui levá-la para casa e, ao passar um pontilhão em frente da sua residência, resvalei e caí dentro da valeta. Foi para acabar…