Do contador de histórias e escritor da periferia – Craque Kiko.
Desde piá, pelo sedentarismo e viço, Comodoro dava indícios que poderia ter problemas futuros, pois sua pressão arterial seguidamente lhe aprontava. Encontrado um doutor bom, aliás, difícil naqueles idos, com um simples medicamento e mudanças no hábito diário sua estada por este chão seguiria na normalidade, fora um ou outro percalço, um deste, após ter tomado umas biritas a mais e cair de cima da carroceria do caminhão quando voltava com muitos torcedores depois de um prélio futebolístico na localidade do Maratá. Ainda que tenha ficado com sequelas no antebraço esquerdo, a vida lhe sorria, seguia de vento em popa.
Estava um sol de lascar naquele sábado pela manhã. Dispensados da aula na faculdade para participarem do programa de incentivo para doação de sangue, muitos acadêmicos se faziam presentes naquela praça central, e, junto deles, estava o Comodoro, que aliás, cursava o último período de Economia Doméstica.
Com os alunos dando o exemplo, todos por ali doando sangue, Comodoro entrou na fila. Chegado a sua vez, teve a sua pressão arterial medida. Medida uma, duas e três vezes, a enfermeira chamou rapidamente o médico ali presente. A pressão medida estava muito baixa e com variações. Questionado se estava se sentindo bem, se não estava com vertigens, visão turva e confusão mental – ainda com ressaca da festa da noite anterior – Comodoro disse que estava se sentindo como um piá, no forte da idade. Mesmo questionando, ele foi levado na correria para um Hospital.
E, mede pressão daqui e de lá, várias vezes. Com a leitura sempre muito baixa trocaram de aparelho. As medidas continuaram baixas e instáveis. Pensou-se em colocá-lo na UTI como prevenção. Depois de tanto fuzuê, Comodoro num atino de memória começou a dar risadas. Pediu que a medição da sua pressão fosse feita pelo braço direito. 120 x 80 mmHg foi encontrado. Mais cinco medições feitas, todas iguais, consideradas normais.
Pedindo mil desculpas, tentando justificar o seu esquecimento, dizendo ser causado pelos goles ingeridos na noite anterior, afirmou que a sua pressão arterial deve ser medida pelo braço direito, pois no braço esquerdo, devido àquele acidente lá pelos cantos do Maratá, teve parafusado em seu braço uma enorme placa de platina que interfere na medição.
Levando um pito do médico e enfermeiros, Comodoro voltou para aquela praça central, não mais para doar sangue, e sim para tomar umas geladas naquele barzinho, pois com o calor nas alturas, não havia quem aguentasse.
