UM POUCO DA HISTÓRIA DO CICLISMO EM PORTO UNIÃO DA VITÓRIA
Na década de 1950, o ciclismo já fazia parte das atividades esportivas em Porto União da Vitória, onde as provas ciclísticas patrocinadas pela ZYD-3 Rádio União, que levavam o nome de seus fundadores, Abílio Holzmann e Miguel Machuca, atraiam grande público para verem os astros do pedal citadinos e de outras localidades. Especial menção se faz ao atleta local Hercílio Ronemberg que foi o astro do ciclismo naquela década, pois competindo com corredores de várias cidades sempre estava nas primeiras colocações.
A primeira prova ciclística em Porto União da Vitória, segundo relatos, aconteceu no mês de outubro de 1952 e, seu vencedor foi Raul Quadros, que corria representando a equipe do Juventus F.C. Na segunda colocação, correndo individualmente foi José Ismar. Já na terceira colocação chegou Darcílio Assunção que corria pela equipe de basquetebol Bola Preta.
A prova ciclística da Rádio União no ano de 1954 ficou marcada como uma das mais emocionantes já organizadas naquela década. As fortes chuvas que caíram na manhã deixaram com muitas irregularidades as ruas transformadas em pista ciclística, fazendo com que somente três corredores conseguissem chegar ao final da competição de fundo na tarde daquele sábado, pois com muitas bicicletas emperradas e quebradas pelo acúmulo de barro em suas rodas, tombos sensacionais e inexperiência de alguns ciclistas em pedalar na lama, obrigou a maioria a abandonar a prova.
Na primeira prova, velocidade em 10 km, o corredor de União da Vitória, Hercílio Ronemberg, estava na frente do pelotão dos primeiros colocados até faltar aproximadamente 40 m da faixa de chegada, quando ao fazer uma curva por fora na última esquina, foi surpreendido e ultrapassado pelo corredor Tufi Karbassi (representando Ponta Grossa), que fez a curva por dentro e chegou em primeiro lugar com 02 metros de vantagem.
A classificação dos primeiros colocados com direito a premiação na prova de velocidade (10 km) ficou assim distribuída:
1º lugar – Tufi Karbassi ( Hermácia – Ponta Grossa) – com o tempo de 18 minutos e treze segundos.
2°lugar – Hercílio Ronemberg (União da Vitória) – com o tempo de 18 minutos e quinze segundos.
3° lugar – Alcides Marques.
4° lugar – João Casimiro.
5° lugar – Luiz C. Bayer.
6° lugar – Carlos Korgut ( Rádio PRJ2 – Ponta Grossa).
7° lugar – Pedro Marcondes (RádioPRJ2 – Ponta Grossa).
8° lugar – Gervásio Chaves (PRJ2 – Ponta Grossa).
9° lugar – Celso Pereira.
10° lugar – Willy Scheib.
11° lugar – João Neto (A.P.C – Ponta Grossa).
12° lugar – João Hortz.
Na prova de fundo, o corredor de Ponta Grossa, Tufi Karbassi, venceu com mais facilidade chegando na frente do segundo colocado com uma diferença de quatro minutos. O representante de União da Vitória, Hercílio Ronemberg, teve sua bicicleta quebrada na primeira volta permanecendo na prova nas últimas colocações até a penúltima volta quando desistiu.
A classificação final da prova de fundo (30 km) ficou assim distribuída pelos três corredores que conseguiram concluir a corrida:
1° lugar – Tufi Karpassi (Hermácia – Ponta Grossa).
2° lugar – João Casemiro (União da Vitória).
3° Gervásio Chaves (PRJ2 – Ponta Grossa).
Com início no ano de 1960, procurando se consolidar no mercado de eletrodomésticos, os empreendedores e empresários visionários, Carlos Evaldo Unterstell e Horst Waldraff, revendedores das bicicletas Monark, proprietários das Lojas Unterstell e Comercial Bandeirante, respectivamente, começaram a patrocinar corridas de bicicletas, cujo objetivo principal era garantir um nicho no mercado, além de que, contando com a colaboração esportiva da imprensa escrita e falada, incentivavam o esporte do pedal tendo todo o apoio da população que se aglomerava em ambos lados das ruas e avenidas de todo o percurso.
PROVA CICLÍSTICA UNTERSTELL
Um visionário e patriota, que com o apoio da marca de bicicletas Monark, Carlos Evaldo Untertell, além de ser o principal patrocinador da Prova Ciclística Unterstell, também distribuía através da sua Loja toda a premiação aos primeiros colocados.
Com três categorias distintas, feminino, aspirantes e titulares as provas sempre seriam realizadas no mês de aniversário da Loja que foi criada em agosto de 1948. Portanto, a primeira prova foi realizada no ano de 1960 e comemorava o décimo segundo ano de fundação das Lojas Unterstell.
Com idade mínima de 16 anos no feminino e 18 no masculino e, podendo usar bicicletas tipo passeio sem adaptações especiais, onde era facultativo diminuir o peso com a retirada de para-lamas, porta-bagagem e acessórios, essa competição marcou época, sendo inclusive considerada uma das corridas mais importantes do estado Catarinense, sempre contando com corredores de Blumenau, Lages e da tradicional equipe da Fundição Tupi de Joinville, que era composta por atletas de renome nacional.
Com meses de antecedência, os corredores, sempre após um dia de trabalho, treinavam por várias horas no percurso definido, onde 50% era estrada de chão e o restante de calçamento de paralelepípedos. Na semana que antecedia as provas, as ruas eram patroladas pelas máquinas da Prefeitura de Porto União e logo em seguida era passado um rolo compressor para dar maior firmeza no solo, proporcionando melhores condições para que os ciclistas pudessem desenvolver com segurança uma maior velocidade, salvo quando no dia da prova São Pedro abria as torneiras, aí a técnica era deixada de lado e os competidores concluíam a prova no braço e na raça.
Num percurso de 04 km, a competição teria a sua largada em frente da Lojas Unterstell localizada na rua Frei Rogério esquina com a rua Matos Costa (calçamento) e seguiria pela avenida Getúlio Vargas (chão batido), rua Joaquim Nabuco (chão batido), avenida João Pessoa (chão batido), rua 7 de Setembro (calçamento), rua Prudente de Moraes (calçamento), rua XV de Novembro (calçamento), Praça Hercílio Luz (calçamento), rua Siqueira Campos (calçamento) e rua Matos Costa (calçamento) chegando até o ponto de largada defronte às Lojas Unterstell na rua Frei Rogério.
Ciceroneada por uma caminhonete da Loja, onde em cima da carroceria uma pessoa acionava manualmente uma sirene durante todas as voltas, sempre com início às 08 horas era dada a largada da categoria de aspirantes, que deveria percorrer 06 voltas (24 km) no percurso estipulado. Logo após o término dessa categoria seria realizada a prova do feminino que deveria percorrer três voltas (12 km) no circuito. Como última prova e fechamento da competição seria dado a largada da tão esperada categoria de titulares, onde participavam os melhores atletas, tanto das cidades irmãs como de outros municípios, que percorreriam 15 voltas (60 km) no trajeto definido.
Em vários pontos estratégicos onde tinham ramais telefônicos, as emissoras de rádio deixavam seus repórteres esportivos que passavam as informações ao narrador posicionado perto do palanque da largada, levando emoções ao público, que com seus rádios de pilhas ouviam a narração e ficavam a par da posição dos corredores volta por volta.
Com uma “mesa de árbitros” situada em frente da loja e fiscais dispostos em pontos estratégicos ao longo do percurso, o número de voltas era controlado e os competidores eram fiscalizados, sendo que aqueles que cometessem fraudes seriam desclassificados independente da classificação obtida. É importante frisar que meia hora antes da largada de cada categoria era feita uma revisão e fiscalização das bicicletas. Uma bicicleta que sofresse uma avaria durante a prova poderia ser substituída por outra de iguais condições.
Com numeração no peito e costas, os competidores poderiam utilizar uma camiseta de cor branca e calção com cor de livre escolha, salvo aqueles que representariam um clube e usariam a camisa do mesmo.
A título de premiação para os primeiros lugares de todas as categorias seria dada uma bicicleta, sendo que, em algumas provas da categoria feminina, em vez de uma bicicleta, a atleta primeira colocada ganhava uma máquina de costura. Como exemplo, citamos as premiações da 10ª Prova Ciclística Unterstell (1969) que comemorava o 21º aniversário da Loja.
Aspirantes:
1° lugar – Uma bicicleta Monark modelo 2001 barra simples – Aro 28 para homem.
2° lugar – Um rádio portátil Voltix – 1 faixa de onda.
3° lugar – Um farol 06 volts – marca Aprilia.
4° lugar – Um pneu Cliper – Aro 28.
5° lugar – Uma câmara de ar Dunlop.
Os dez primeiros colocados receberiam uma medalha.
Feminino:
1° lugar – Uma máquina de costura marca Elgin – B3 – Móvel Jurema com 05 gavetas.
2° lugar – Um Lustre modelo Coluna.
3° lugar – Um jogo de facas marca Mundial.
4° lugar – Um pneu Cliper aro 28.
5° lugar – Uma câmara de ar Dunlop.
As dez primeiras colocadas receberiam uma medalha.
Titulares
1° lugar – Uma bicicleta marca Monark modelo 2001 – barra circular – Aro 26.
2° lugar – Um rádio ABC modelo Canarinho.
3° lugar – Um jogo para Uísque marca Multividro.
4° lugar – Um pneu Cliper aro 28.
5° lugar – Uma câmara de ar Dunlop.
Os dez primeiros colocados receberiam uma medalha.
O clube com o maior número de ciclistas até o 10° lugar, nas três categorias, receberia um jogo de camisas.
Os ciclistas aspirantes classificados na prova anterior, até o terceiro lugar, participavam no ano seguinte na categoria de titulares.
PROVA CICLÍSTICA DA COMERCIAL BANDEIRANTE
Comemorando o seu quarto aniversário de fundação, a Prova Ciclística Comercial Bandeirante teve seu início também no ano de 1960, sempre no mês de agosto. No início seus percursos levavam até cidades vizinhas como Porto Vitória, São Mateus do Sul e Matos Costa e contava em média com 100 corredores. Na primeira corrida até Porto Vitória, os atletas deram a largada pela manhã, almoçaram na vizinha cidade e retornaram no período da tarde. Nos anos seguintes passaram a ser realizadas em ruas e avenidas de União da Vitória. Sempre a largada e chegada era em frente da loja que se situava na rua Carlos Cavalcanti n° 141, fazendo frente com a Casa Petri, e num percurso de 06 km e 800 m, onde 02 km e 200 m era estrada calçada com paralelepípedos e 04 km e 600 m estrada de chão batido, seguia pelas ruas Carlos Cavalcanti (calçamento), rua D. Pedro II (calçamento), cruzava a rua Prudente de Morais e entrava na rua Marechal Deodoro até o Posto Líder (chão batido), rua Leopoldo Sass (chão batido), rua Padre Saporite (chão batido), avenida Bento Munhoz da Rocha Neto (chão batido), avenida Manoel Ribas (calçamento), rua Carlos Cavalcanti até a loja da Comercial Bandeirante (calçamento). Nas primeiras provas no circuito dentro da cidade eram dadas 20 voltas perfazendo um total de 136 km, sendo á época, uma prova muito difícil de ser completada.
Nas primeiras corridas havia participação da categoria feminina onde todos largavam juntos. A posteriori as categorias masculino e feminino foram separadas.Também crianças acima de oito anos ate 15 anos tiveram criadas para si uma prova que não foi muito difundida, até porque, existiam poucas bicicletas para elas. A título de premiação era dado ao primeiro lugar Cr$ 1.000,00 (mil cruzeiros). O segundo lugar ganhava Cr$ 500,00 e o terceiro Cr$ 200,00. No decorrer dos anos também começou a ser dado troféus para os três primeiros colocados. Todos os participantes eram agraciados com uma medalha.
As corridas da Comercial Bandeirante foram realizadas praticamente em toda a década de 1960, a partir daí, com o aparecimento de bicicletas importadas, muitas do Japão, as corridas deixaram ter apoio do fabricante das bicicletas Monark.
Um fato hilário contado pelo Sr. Horst Waldraff foi quando da largada da primeira prova no ano de 1960. O prefeito de Porto União incumbido de dar a largada não tinha um foguete (rojão) para fazê-la. Um expectador que se fazia presente na largada, sacou da cinta um revólver calibre 38 e emprestou para o prefeito que deu a largada dando um tiro para o alto.
Um outro fato, também sobre a primeira corrida, foi quando um corredor se acidentou seriamente precisando ser levado para um hospital, inclusive toda as despesas médicas foram bancadas e uma ajuda de custo durante seis meses foi dado pela Comercial Bandeirante.
Com o passar dos anos, mesmo com parcos recursos, o ciclismo foi ficando mais difundido graças aos vários e abnegados atletas, que não só a nível local, tem dado mostras de seus talentos divulgando o nome de Porto União e União da Vitória, pois em competições que disputam são sinônimos de pódio, inclusive seus adversários, tremem na base quando tem conhecimento que os ciclistas das cidades irmãs estarão nas competições.
Destacaram-se ao longo dos anos nas Prova Ciclísticas Unterstell e Comercial Bandeirante os corredores, entre tantos:
Eurico Stürmer, Lauro Marques Soares, Olindo Santos, Paulo, Alípio Moisés Sonego, Jamil, Machado (Joinville) e Pedro Rivadávia dos Santos.
DOIS ASTROS DO PEDAL DA VELHA GUARDA
Pedro Rivadávia dos Santos
Quando começou a participar das provas, Pedro Rivadávia dos Santos, com poucos treinamentos começou a se destacar, porque trabalhava durante todo o dia fazendo entregas de mantimentos com uma bicicleta de carga para o armazém Casa Becker, o que lhe proporcionava um melhor preparo físico que lhe ajudou quando venceu a prova por várias vezes.
Eurico Stürmer
Sempre nas primeiras colocações, além da forte resistência física tinha uma arrancada sensacional nos sprintes dados na chegada para concluir a prova, o que lhe garantiu várias vitórias.
Década de 1970 em diante…
Sempre contando com organizadores e ciclistas abnegados amantes desse esporte, os Azes do pedal de Porto União da Vitória procuravam, mesmo com dificuldades, praticar e competir em várias cidades catarinenses na década de 1970, tanto é, que a maior prova ciclística do Estado de Santa Catarina teve uma de suas etapas realizadas em Porto União no ano de 1975. Sob o comando do diretor do SESI de Porto União, Rui Santos, foi realizada a prova ciclística Superintendente Osvaldo Pedro Nunes que era desenvolvida em duas categorias: passeio e especial. Na categoria passeio competiam somente atletas estreantes.
Em um percurso de 60 km onde foram percorridas 30 voltas no circuito composto pelas ruas Sete de Setembro, Matos Costa e Siqueira Campos, os corredores de Porto União da Vitória tiveram um bom desempenho. Representaram o Município os ciclistas Lauro Marques de Souza, Augusto Milczuk, Casemiro Ochaz e Elias Soares.
No final dos anos 80 e até meados da década de 1990, com o funcionamento da Liga Regional de Ciclismo, muitas competições foram realizadas e ano após ano vários ciclistas despontaram, só que devido aos poucos recursos não foram além de beliscar de perto as primeiras colocações, principalmente em jogos abertos onde os municípios adversários, além do apoio aos seus corredores locais também importavam outros craques do pedal. Muito se deve ao Rogério de Lima que mesmo com dificuldades comandou a liga local de ciclismo nesse período.
DOIS ASTROS DO PEDAL CONTEMPORÂNEO
Com o passar dos anos, o ciclismo foi ficando mais difundido graças a vários atletas, que não só a nível local, tem dado mostras de seus talentos divulgando o nome de Porto União e União da Vitória, pois em competições que disputam são sinônimos de pódio, inclusive seus adversários perdem o sono na véspera da prova quando tem conhecimento que os ciclistas Diego Gabrislosviski e Gilberto Engroff estarão nas competições.
Diego Gabrislosviski
Gilberto Engroff
Fotos das Provas Ciclísticas Unterstell
Fotos das Provas Ciclísticas da Comercial Bandeirante