RASTROS DA TRAIÇÃO

RASTROS DA TRAIÇÃO

Causos da vida real são relatos de fatos vividos, histórias contadas por amigos ou frutos da minha imaginação. Qualquer semelhança será puro acaso.

Do contador de histórias e escritor da periferia – Craque Kiko

Ele era um fulano de muitos amigos, muito querido e boa praça. Dono de muita grana. Detinha muitas posses. Varava a meia idade. Sempre metido a galã, querendo satisfazer o seu lado de macho, comprou um apartamento no centro daquela cidade, no último andar daquele majestoso prédio, e pôs lá para morar a sua amante, daquelas linda de morrer, que conhecera em uma famosa casa noturna da capital. Passaria a escritura do apartamento para o nome dela e a sustentaria. Ela podia fazer o que quisesse da vida, desde que tivesse segredo absoluto sobre ele. Mas nas sextas-feiras, a partir do final da tarde até o raiar do sol na madrugada seguinte, ela seria toda dele, dos pés aos fios de cabelos. Ele a usaria e abusaria conforme lhe conviesse.

A vida seguia de vento em popa, a esposa daquele fulano, diziam na surdina, metida a rainha da cocada preta, há tempos lhe traia. Seus amigos do peito sabiam. Se, para evitar o constrangimento ou não, nunca comentaram com ele. Fofocavam entre si – que ele sabia –, mas preferia fazer de conta não ter conhecimento. Enfim, ele não estava nem aí para as fugidas regulares da dona patroa.

Em quartas-feiras, reunido com os amigos de paleta, ele e mais seis, após o horário comercial, lá nos fundos de um bar e café, também no centro, molhavam a palavra, jogavam conversas fora e cada um mentia sobre as suas peripécias amorosas. Ele então, se vangloriava deliciosamente em contar os seus feitos dentro de uma alcova. Os amigos lhe passavam um pito para que maneirasse, pois não estava mais na idade de tamanhas travessuras sexuais. Mesmo reunidos lá no fundo, as altas risadas dos sete tomavam conta de todo aquele ambiente.

Dez horas da noite de uma sexta-feira Santa, tocou o telefone na casa de um dos seus amigos. Este, na correria, ligou para outro e saiu no passo de corredor. Às 22:15 todos os seis, por aquele elevador, se dirigiam ao último andar. Lá estava ele, sobre aquela cama com os quatro pés quebrados, deitado igual a Adão no Paraíso, peladão, com as nádegas para cima, finadinho da silva. Deixara a vida terrena quando ao procurar saciar a libido, fazendo pura pose, tentara pular de cima do guarda-roupas sobre a amante. Uma veia do seu coração estourou. Teve um “Au revoir” na hora.

Após narrar o fato, dizendo que naquela noite ele quis “fazer” diferente, a amante se escafedeu do local. Pensamentos a mil sobre o que fazer para retirar o cadáver dali. Seria um baita escândalo, a família dele tinha um nome a zelar. Com muitas notas de dinheiro, como cala-boca, os amigos compraram pessoas. Vestiram o defunto e o levaram para uma casa de carteado clandestino e simularam que ele morrera sentado jogando uma cacheta.

Anos passaram. Pensando não haver mais problemas, um daqueles amigos já beirando a senilidade, bem veterano, após ter ingerido muitos Camparis, abriu a matraca. O proseio caiu no ouvido da esposa do falecido. O fuzuê foi armado. Sentindo pela primeira vez uma galhada e a dor da traição, ela foi tirar satisfação com a amante. Queria para si o apartamento dado pelo esposo. Foi uma baixaria naquele prédio.

Ações tramitaram nas várias instâncias da dita justiça. Mesmo a amante tendo a escritura do imóvel, o poder financeiro fez com que o processo chegasse na instância maior. E lá, os julgadores, há dois anos não decidem. O processo sofre pedidos de vistas, um após o outro.

E, nisso tudo neste continente varonil, enquanto a amante e a viúva esposa esperando uma definição continuam se digladiando, ainda mais que entrou na jogada um jovem varão, cuja amante faz figa e jura de pés junto que é filho do falecido.

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