A COSTELA QUE O ZECA NÃO QUIS.

A COSTELA QUE O ZECA NÃO QUIS.

Causos da vida real são relatos de fatos vividos, histórias contadas por amigos ou frutos da minha imaginação.

Do contador de histórias e escritor da periferia – Craque Kiko.

Não se sabe porque cargas d’água, Zeca sonhou a noite toda que comia uma costela bem suculenta. Tanto é, que ao se levantar, como sempre fazia, às seis da manhã, sua barriga roncava pelo agito das lombrigas. Teve que esperar o famoso e grande açougue localizado bem no centro abrir as suas portas. Às oito horas, quando seu Miguér levantava a porta de correr, ele se fazia presente na frente. Precisava saciar aquela tremenda vontade. Um pedaço de três quilos, comprou.

Pedalando rápido a sua magrela como se estivesse participando de uma corrida, na ligeireza chegou no seu barraco localizado num dos cantos do grande rio. Colocaria logo no forninho do fogão a lenha que ardia, pois, costela demora para ficar assada. Mas, sentiu o certo odor ao salga-la, diferente do cheiro natural. Aproximou o nariz e quase chamou o “ugo”. Sentiu um verdadeiro fedor. Com o polegar e o indicador da mão direita tampando as narinas, aproximou as vistas. Ficou possesso com o que viu. Aquela costela já estava azulando. Estava estragada. Louco da vida, pedalando mais rápido, voltou ao açougue para devolver a dita costela que estava deteriorada.

Sapateando e dando murros no balcão, seu Miguér, não queria de jeito maneira aceitar de volta aquela carne. Afirmava que a vendera em bom estado de conservação. Já puto da cara, Zeca pegou aquela carne e levou até um veterinário amigo seu, companheiro de pelejas futebolísticas. Feito uma análise, o laudo foi de “costela apodrecendo” juntamente com um produto que não se conseguiu identificar de momento.

Também em pedaladas rápidas, Zeca foi até a delegacia de Polícia. Ao delegado sentado jogando dominó com um preso explanou o golpe. Lavrou uma queixa. O delegado liberou a viatura rural Willys e mandou um tira ir buscar o açougueiro Miguér. Em frente aos homens da lei, o açougueiro ao olhar para aquela costelona, testemunhou que os vermes já se deliciavam dela. Não aceitando e não querendo perder o valor recebido pela carne em estado de putrefação, o açougueiro disse ao doutor delegado que aquela costela não fora comprada no seu açougue, e não entendia porque o chamaram ali. Exigiu que o Zeca provasse a acusação, questionava: cadê a nota fiscal? Mesmo com aquela fuzarca na delegacia, de momento aquele imbróglio ficou sem solução…ficou o disse pelo não disse. As lombrigas do Zeca ficaram nas saudades, ele perdera a carne, e em suas caraminholas murmurava para si, açougueiro “corno fia daquilo”.

Mas, como tudo nesta vida não fica escondido, um dia se descobre a verdade e ela vem com força à lume, e, como que emergindo das profundezas … a motivação daquilo tudo, como uma “m” atirada em um ventilador, fedeu de todo.

O Zeca nas escondidas, pensando que ele nem de longe desconfiava, a tempos, se apaixonara e vivia bolinando a dona patroa do seu Miguér, que aos olhos alheios, era um “pitelzinho de potranca”. Só que o Miguér andava na desconfiança e contratou um detetive particular vindo das Curitiba. O retrato tirado na surdina expunha a traição. Miguér relutava em acreditar que a patroa soltava a marrequinha para aquele fulano que morava em uma verdadeira tapera. Como vingança, naquela manhã, quando o Zeca foi ao seu açougue, além de vender a carne estragada, também colocou veneno. A sorte foi que o Zeca, mesmo com as bichas agitadas, não consumiu a dita costela.

Nos dias de agora, aproveitando a melhor idade, amasiado, Zeca vive com a ex-patroa do Miguér, não no canto do grande rio, mas no andar superior daquele baita sobrado onde era o açougue. Não aguentando o peso na testa, Miguér finou-se com o mesmo veneno que tinha colocado na costela.

O contado aqui é vero, pois ao narrador deste acontecido, dando risadas, seu Zeca mostrou o retrato tirado pelo detetive, onde ele e antiga patroa do finado Miguér foram pegos abraçados peladinhos, igual a Adão e Eva no Paraiso.

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