CLÁSSICO FUTEBOLÍSTICO E JOGO DE CACHOLA

CLÁSSICO FUTEBOLÍSTICO E JOGO DE CACHOLA

Durante toda a semana, nos programas esportivos, todas emissoras de rádio de Porto União da Vitória davam ênfase ao grande amistoso futebolístico que ocorreria no domingo no Estádio da Lagoa Preta (Bernardo Stamm), entre os esquadrões do Jacaré da Lagoa Preta (São Bernardo F.C.) de União da Vitória, e o da cidade catarinense de Luzerna. Como era de se esperar, apesar do grande temporal ocorrido na parte da manhã, grande público compareceu para ver aquele que deveria ser um baita jogo de futebol. E foi. Sentado na arquibancada de madeira e comendo pipoca comprada com dinheiro que o meu pai tinha emprestado do meu tio Eduardo, eu vi o time da casa vencer pelo escore de 1 tento a 0, golaço feito do meio da rua através de um “tirambaço” dado pelo lateral esquerdo Amaro Canhoto, que fez um coador da rede.

Como sempre naquele Estádio, após a contenda, os homens mais velhos, inclusive o meu pai, foram jogar “cachola” no meio do mato e eu, menino de tudo, fiquei encarregado de vigiar e avisar caso a polícia chegasse, pois esse tipo de jogo era proibido. Vários homens de cócoras e posicionados em círculo, faziam as suas apostas. No centro do círculo, uma moeda era colocada na ponta de um pedacinho de madeira posicionada como uma gangorra. O jogador da vez, com um dedo indicador batia na ponta oposta onde estava a moeda, que subia e, ao cair no chão, dependendo se cara ou coroa, o apostador mais próximo onde ela caiu, se tivesse acertado o lado, levada todo o dinheiro apostado. Caso o jogador mais próximo errasse o lado que a moeda caiu, o jogador seguinte era acionado até que alguém acertasse.

A polícia chegou de surpresa e eu, com medo e tremendo mais que uma vara verde, não tive tempo de avisar. Foi aquela correria geral. Tudo se acertou quando um percentual do jogo foi repassado aos homens da lei, que a partir dali fizeram vistas grossas. O jogo de azar foi até o anoitecer, quando todos foram para suas casas, uns só com o pó do bolso e, outros com os bolsos estufados de dinheiro, caso do meu pai, que naquele dia não estava para o amor e sim para o jogo. Quando chegamos em casa, a minha mãe, preocupada com o adiantado da hora, nos esperava em frente ao portão. Mais preocupada e nervosa ficou quando contei o causo da batida policial e da correria da “homarada” para o meio do mato. Após dar um sermão no meu pai, se acalmou um pouco quando, sentados em torno da mesa da cozinha, meu pai retirava as notas amassadas de dentro dos bolsos e eu ajudava a contar aquela porção de dinheiro ganho naquele jogo de azar. Eu nunca tinha visto tanto dinheiro. Não esqueço quando meu pai, na segunda-feira, logo pela manhã, pegou sua bicicleta e se deslocou até a casa do meu tio e devolveu o dinheiro que tinha emprestado para me levar assistir à partida de futebol. Também não esqueci que logo que ele retornou, abriu rapidamente a barbearia, porque já tinha um freguês esperando para cortar o cabelo.

Texto publicado no livro Apócrifos da Biografia de Um Desconhecido, de autoria do Craque Kiko.

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