No início daquela famosa década de 1970, quando o Fantasma da Fronteira, Associação Atlética Iguaçu ainda assustava os esquadrões considerados “grandes” do futebol profissional paranaense, o balão de couro tinha rolado naquele domingo cinzento no já famoso Estádio da Caixa D’água. Era um prélio considerado muito difícil, pois os visitantes pertencentes ao quadro do Norte do Paraná estavam fazendo uma campanha arrasadora e vinham invicto no certame. Num baita cotejo, talvez a melhor atuação do Iguaçu até aquela tarde, os contrários foram batidos inapelavelmente, onde os destaques da Pantera Iguaçuana foram o arqueiro Roque, com defesas monumentais e, o dianteiro Bráulio, autor dos dois tentos na contenda. Como prêmio ao boleiro escolhido como melhor dentro das quatro linhas, um par de sapatos foi ofertado por uma loja do centro das cidades irmãs.
Na segunda-feira, o diretor de futebol do Iguaçu ao passar pela manhãzinha em frente daquela loja, foi indagado sobre o nome do melhor jogador do cotejo. Deu sua opinião pessoal afirmando categoricamente que tinha sido o guarda-valas Roque, tanto é que mais tarde o arqueiro foi acionado para que passasse na loja para apanhar a premiação. Após o goleiro Roque ter saído da loja levando o par de sapatos, eis que chega o ponta de lança Bráulio para buscar o “seu sapato”, pois tinha sido escolhido pela Rádio União como o melhor em campo. Avisado que o sapato já teria sido entregue ao goleiro Roque, que segundo informações de um diretor tinha sido escolhido como o melhor jogador, Bráulio ficou possesso e exigia o seu prêmio, inclusive mostrava a autorização da emissora para a retirada do calçado. Sem receber o prêmio, de mãos vazias e puto da cara, o atacante Bráulio foi conversar com o goleiro Roque no intento de pegar os sapatos.
Como o imbróglio já estava feito devido a opinião particular do diretor, os dois atletas quase foram às vias de fato. O atacante xingava o arqueiro de frangueiro e rouba bicho, e este, acusava o atacante de só jogar cheio de “erva” na moringa e sempre tinha o intento de ver dentro do palco verde o arco íris em preto e branco.
Vendo que as coisas poderiam ir de mal a pior, pois o arqueiro e o ponta de lança estavam com nervosos na copa dos paus, prenunciando que iam se atracar numa luta corporal, os boleiros que presenciavam a discussão, interviram. Sorrateiramente foram até o armário do guarda-metas e pegaram o par de sapatos e, deram um pé para ele e o outro pé para o atacante. Há quem “jura” até hoje que os sapatos não foram usados, pois cada um, por birra, não abriu mão do seu pé do pisante.