Causos da vida de fato.
Do contador de histórias e escritor da periferia – Craque Kiko.
A velha não ia com sua fachada, descobriu. Pegou-a em flagrante, pela fresta de uma porta entreaberta. Ela falava para a sua linda filha:
– O que você quer com esse nanico barrigudo?
A filha falou:
– Mãe! Ele é o homem que estou amando, tem tudo do que gosto e preciso.
Ele se sentiu ao máximo ouvindo aquilo. Puxa! Ele só tinha a sua Caloi 10 com pneus linguiça, que às vezes, a transportava sentada no cano. Estufou o peito de felicidade, ao deduzir que dava muito amor, e que ela se apaixonara de montão. Mas, ouvindo aquele comentário, a velha ficara com a barra suja com ele. Pensou, respirou fundo e disse para si mesmo:
– O que é dessa “veia jararaca” está guardado.
Em uma segunda-feira, perto da hora da boia, de supetão ele chegou na morada da sogra. Vendo a porta aberta, entrou na cozinha. Fez uma buia, ninguém apareceu. No fogão, a lenha era um brazido só. Fervia uma chaleira de ferro cheia de água. Sobre uma tigela de alumínio, duas vinas, já assadas, exalavam aquele cheiro que mexiam com a gula, fazendo as suas lombrigas se revirarem na pança. Não resistiu às vinas, sem mastigar muito engoliu apressadamente. Nisso, ouviu aqueles passos que arrastavam as chinelas na calçada da varanda. Era a sogra conversando com o cãozinho de estimação, Frederico, que remexendo muito o toco do rabo, sentia que as suas vinas estavam prontas e no ponto para serem degustadas.
Ao lhe fitar diante do fogão, antes mesmo de o cumprimentar, ao ver a tigela vazia, a sogra perguntou pelas vinas do guaipeca. Se sentindo um vira-lata, ele não respondeu, somente passou a mão direita na pança dando a entender que aquelas vinas já eram. Com os olhos parecendo bolinhas de vidro, lhe encarando, com um sorriso sarcástico, ficou claro o que ela pensou:
– Esse cara não se toca que não vou com a lata dele e vem aqui comer o rango do meu cachorro.
Dando uma desculpa qualquer ele armou a capa dali e na correria passou em um supermercado nas redondezas. Comprou sete quilos de vina. Retornou e entrou aos bufos naquela cozinha, colocou as vinas sobre a mesa. Falando de modo também sarcástico, disse:
– Peço desculpas por estar com pressa e não poder comer. Como um raio, vazou dali.
Falaram a posteriori, que aquela atitude sua mexera com as estruturas da velha.
Os anos andaram. Mesmo sem nunca mais colocar as chancas por lá, a velha percebeu que ele fazia a sua filha muito feliz. Então, resolveu começar a puxar-lhe o saco. E, em uma sexta-feira, já sabedora que ele adorava uma buchada, ligou e o convidou. Ele confirmou a ida. Ela fez uma panelada. Espera daqui, espera dali. Ele não deu as caras. Literalmente, se ela pudesse, o jogaria para os cães.
Demorou muito, além do esperado, mas pelo comportamento ilibado, ele passou a ser o genro querido. Hoje, ele e a sogra, são unha e carne.





