UMA PRIMEIRA E GRANDE DOR

UMA PRIMEIRA E GRANDE DOR

Era um 19 de outubro. O telefone fixo tocou. Do outro lado da linha o mano mais novo avisava que o papai não passara bem e estava no hospital. Pela maneira e pelo tom da voz ao dar a notícia, pela minha experiência de vida, percebi que o negócio era grave. Saí na correria para o hospital. Afobado e com a respiração a mil, na portaria perguntei em qual quarto ele estava. A moça atendente, sem nenhuma experiência ao dar uma notícia ruim, disse: Ele está no necrotério. Senti minhas pernas bambearem. Orientado onde ficava, fui na correria para lá.

Naquela repartição fria e solitária, ao adentrar vi aquilo que jamais imaginei presenciar. Tremi na base. Meu amado papai, ainda no viço da idade, estava deitado de barriga para cima com as pernas encolhidas e com as mãos esticadas para frente, finado da Silva. Sim, dele herdamos o sobrenome Silva. Tomado de aflição o choro alto e incontido tomou conta daquela repartição. Lágrimas nunca derramadas naquela quantidade não consegui conter. Que dor terrível, jamais imaginada que pudesse ter igual.

Às quatro da manhã, com dois cachorros veadeiros e mais um amigo, com sua Belina de cor verde, pela rodovia se dirigiram até as nossas terras pelos lados do Passo da Galinha, no município de General Carneiro. Cachorros soltos nas pegadas dos veados, papai e o amigo foram ficar nos carreiros na espera que a caça passasse por ali. Já ia para o meio dia e nada dos bichos serem acuados pelos cães. Era hora de fazer a merenda. Sentados ao pé de dois pinheiros, papai e o amigo iam salgar as barrigas. Após, abrir a garrafa de gasosa para tomar um gole pelo gargalo, ouviu-se um suspiro forte. O coração do meu amado papai dera a última batida e o ar de seus pulmões fugiram. Infarto fulminante. Do jeito que ele estava – sentado com as costas encostado no pinheiro, com as pernas encolhidas e as mãos segurando o gasosão, ele deixou esta vida terrena.

O velório foi muito concorrido. Veio povo de todos os cantos. Não se acreditava que o Acir tinha ido embora. Lembro ainda, antes que se baixasse o caixão dentro da sepultura, coloquei as minhas mãos em sua testa fria e me despedi do meu querido papai. Adeus meu querido papai.

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