Sendo bairrista, curioso pela história da minha terra e amante do futebol das antigas, vivo fazendo turnês pelos Sebos (livrarias que compram, vendem ou trocam livros usados) na procura de alfarrábios que contenham escritos sobre tais fatos. Em uma peregrinação por um estabelecimento desse naipe na cidade de Porto União, na primeira “bisoaiada” na prateleira, me deparo com aquela obra meio carcomida escrita no ano de 1955, por um personagem muito conhecido já naquele tempo não muito recente, José Cleto. Com os olhos esbugalhados e olhando de esguelha à procura do vendedor para melhor informação sobre aquele volume, tentei folhear o dito livro para me inteirar da sinopse e percebi que ele nunca tinha sido folheado, pois de quatro em quatro páginas elas estavam todas interligadas, não tinham sido cortadas após a impressão. Em uma edição de 1000 exemplares, àquela de número 492, trazia a rubrica do autor e nunca foi lida. Rapidamente, sem querer saber de mais nada, me dirigi até o balcão e pela quantia de R$ 19,90, fiz a aquisição e fui, rapidamente, para casa na ânsia de iniciar a leitura, que durante aquele final de semana, degustei.
Primeiramente, com a posse de uma régua e uma tesoura, com o máximo de cuidado fui cortando e separando a parte superior daquelas páginas amareladas pelo tempo para que pudesse ter acesso à leitura e, a cada folha lida a afobação para chegar, rapidamente, à seguinte era grande. Coincidindo com a época de agora, grande parte do teor enunciado, na maioria das vezes de forma hilária através de uma máquina de ler pensamentos, inventada pelos dois protagonistas da história, era versada sobre política e eleições, em que o autor através de metáforas e usando nomes fictícios, alguns, facilmente, identificáveis, narra fatos do legislativo e executivo municipal, estadual e nacional, de uma população, que para quem acompanhou e é esclarecido, politicamente, terá a facilidade de perceber que tem tudo a ver com a nossa querida e, antigamente, contestada terra, que em anos anteriores o autor, galhardamente, comandou, sem conluio de tampinhas e aventureiros que por aqui vieram acoitar-se. Também, para fazer alusão às cidades irmãs, o autor descreve o roubo e assassinato de um frei, pároco local, fato acontecido na catedral da cidade. A par do progresso da terra descrita, a linda cidade protegida pelas serras verdes, margeada pelo caudaloso e pitoresco rio em forma de ferradura, além dos homens de bem, receberia também, ladravazes de tudo, da honra alheia, da tranquilidade social e da dignidade da Pátria.
Naqueles idos de 1955, percebe-se que já grassava a corrupção e, a crassa ignorância do eleitorado, bem como, de alguns mandatários, que aproveitando a lei vigente daquele período, que já possibilitava o predomínio do poder econômico, fazendo com que a votação de estrangeiros e analfabetos, a repetição de votos numa mesma eleição e fraudes de toda a espécie, fizessem com que o básico fosse tirado daquele povo.
Mesmo que homens de bem tentassem através da justiça fazer valer o direito da população, a impunidade através do poderio financeiro imperava e, entre um desmando aqui, outro acolá, em toda a nação, muitos salafrários começaram a se perpetuar no poder, do legislativo para o executivo municipal e estadual, chegando um deles, ao ápice do comando da nação, que após muitos desvarios e pelo insurgir de grande parte das forças militares, que aliadas a várias facções de partidos políticos com aspirações ao poder, o chefe supremo, “máximo” da nação, não suportou a pressão e deu cabo a sua própria vida.
Trazendo lá de trás para agora e, com certeza, na frente, percebe-se que tudo meio que continua e continuará como dantes, se não pior. Com uma corrupção sistêmica, pois a impunidade tem dado margem para tal, grande parte do povo do “Gigante pela própria natureza”, vai aos poucos chegando a um grau mais elevado de pobreza, enquanto que nos paraísos fiscais ou mesmo dentro das cuecas de alguns, jorra dinheiro como se fosse água em abundância. Está faltando e muito, na saúde, educação e segurança… principalmente, para a classe menos abastada, mas não faltam benesses para os legisladores em causa própria, também, salários nababescos para os homens encarregados de fazer justiça, até auxílio toga eles tem, pode isso Arnaldo? É um tal de prende e já solta, dizem que está na constituição, mas o ladrão de galináceos, fica.
Que cada um faça o seu juízo, preferencialmente, antes dar o seu sufrágio, mas, com certeza muitos não o farão, pois ainda, o voto de cabresto, xixadas, uma “verbinha” aqui outra ali, poderão fazer a diferença na hora da contagem dos votos e… tudo ficará para sempre, porque aqui, nesta “Terra adorada entre outras mil”, o para sempre, contrariando os versos de uma famosa canção, nunca se acaba e, os acrídeos daqui, juntamente, com o enxame dos que vem de lá, em nuvens, devoram tudo quanto possam e mais um pouco.
Matéria publicada no Jornal Caiçara em 16/10/2020.