Quase sempre, tudo acontece durante a reunião de amigos, que encostando o umbigo no balcão de um botequim começam a lembrar de fatos e histórias do nosso futebol. E na conversa vai, conversa vem, os pensamentos são arremetidos a um passado às vezes não muito distante, mas que nos enchem de prazer em lembrar.
Após ter ouvido o fato que vou relatar e ter participado dele como torcedor, embora moleque, o faço baseado também em conversas que tive com alguns protagonistas do acontecido.
Corria o ano da graça de 1970 e nosso futebol amador era o ponto alto do esporte em nossas cidades, não só pela ótima organização dos diretores da LERI (Liga Esportiva Regional Iguaçu), mas principalmente pela ótima qualidade técnica dos elencos das nossas agremiações.
E naquele domingo, o tapete verde do Estádio Municipal de Porto União mais uma vez seria palco de uma decisão de campeonato. Se enfrentariam Avahí e São Bernardo. O esquadrão alvinegro da Lagoa Preta, por ter uma melhor campanha jogaria por um simples empate para ser bicampeão, pois ganhara o título no ano anterior, enquanto o quadro avahiano necessitava da vitória para erguer o caneco.
Devido a importância do embate e para não dar margens à futuras reclamações, para arbitrar o cotejo foi trazido um mediador de outra cidade, que em cima dos lances procurava executar o seu trabalho de forma imparcial. Mal sabia ele, que os boleiros das nossas cidades, além de serem bons de bola, também eram Expert em malandragem e catimba.
O prélio transcorria bem disputado, catimbado e com vários atletas com os nervos à flor da pele. Quando próximo da metade da primeira etapa, após a cobrança de um tiro esquinado pelo São Bernardo, um defensor de miolo de zaga do Avahi, Getúlio, cortou a trajetória da pelota para fora da sua grande área. A redonda encontrou o meia atacante adversário, Abilhôa, que arrematou para o fundo das redes do arqueiro avahiano, Sergio Nei.
O guapo juntamente com um zagueiro pegaram a redonda de dentro do gol e chamaram o apitador mostrando para ele que a bola estava vazia e portanto o gol não poderia ser validado, o que principiou um início de sururu. Diante da pressão e dos argumentos dos atletas do tricolor avahiano o tento foi anulado.
Após os ânimos desapoquentados, a contenda prosseguiu com o quadro do São Bernardo mais postado em sua defensiva, enquanto o Avahi partia com tudo em busca do tento da vitória. Já no último minuto do tempo final, em um tiro de canto cobrado pelo ponteiro esquerdo do Avahi, Carlos Alberto, o ponta de lança Farias escorou de cabeça e fez o gol do título.
Até hoje os torcedores e jogadores da velha guarda do São Bernardo questionam, e com razão, o título ganho pelo escrete avahiano. Na realidade a bola somente esvaziou já dentro do gol avahiano, pois foi furada por um zagueiro de miolo de área. Este zagueiro estava jogando com um prego escondido no calção. Tal jogador, já tinha furado duas bolas em um outro jogo de outro campeonato.
Nesta decisão, eu ainda piá, estava assistindo a partida em cima das cabines de rádio que ficavam na parte superior das arquibancadas do Estádio Municipal e me lembro do gol anulado e do gol do Farias. Só não sabia do causo da bola furada. Somente fiquei sabendo após conversas em nossa Boca Maldita, um botequim, que é frequentado por boleiros que fizeram parte do nosso grande futebol amador.
Após ouvir as histórias fui pesquisar e falei com vários protagonistas daquela decisão e, todos foram unânimes em afirmar que o título foi “garfado”.