Era o final da década de 1960. Eu jogava de zagueiro central no time do dente de leite do Ferroviarinho (time do Tarzan), o campo era onde é o Sesi de União da Vitória. Esse time era o “bicho papão” das partidas disputadas. Jogando por esse time só perdi uma partida, foi para o time do “Beco” no qual jogavam o Albari Chagas, Nentio Brito, Cajo, Boles, Irondi Chagas, Lacerda, Carudo, Bagrinho, piazada boa de bola.
Naquela época, como os times investiam bastante na base, o nosso futebol amador era muito forte. O campeonato tinha tantas equipes com qualidade que as pessoas iam aos jogos já no início da tarde para assistir as partidas preliminares que eram entre os juvenis dos quadros que fariam a partida principal. Dominavam nessa categoria os times do São Bernardo e Ferroviário, que montavam ótimas equipes.
Sendo jogador do dente de leite, eu buscava ascensão a um time juvenil, pois achava que tinha qualidades para tal. Assinei, então, para o juvenil do Ferroviário, mas logo vi que não teria chance de jogar, porque, além do pessoal jogar bem existia uma panela do “capeta”.
No dia do primeiro jogo da temporada, no Estádio Municipal de Porto União, contra a equipe do Juventus eu estava presente. Estávamos todos ao lado da arquibancada, embaixo dos pés de cedrinhos, aguardando a chegada de todos os atletas, para se preparar para o jogo. O nosso treinador (Nico Parisi) andava de um lado para o outro, nervoso, pois o zagueiro central titular não tinha aparecido e o jogo de estreia seria uma pedreira e, ele achava que o zagueirão não tinha reserva a altura. Lembro como se fosse hoje, o treinador chamou o meia cancha Roni (o craque do time) e disse: “Tamo fudi… o zagueiro não veio e o reserva é aquela bosta” (Eu), que estava meio distante, mas pude ouvir. O Roni então falou: “Coloca o piá, não tem outro”.
Como o beque central não apareceu, então, fui chamado para o vestiário. O roupeiro Saul, pediu para que eu escolhesse uma chuteira entre as tantas que estavam dentro daquele saco de lona. Revirei o saco e, infelizmente não encontrei nenhuma que me servisse. Então, fui obrigado a utilizar uma chuteira com um número maior. Os meus pés ficaram parecidos com pés de um palhaço, com a ponta voltada para cima devido a sobra no tamanho. Mesmo nessa condição e vítima da gozação dos colegas, lá fui eu para dentro de campo.
Foi nessa situação a minha estreia no time juvenil. Ganhamos de 3×1. Fizemos uma ótima partida e fui um dos destaques. Recordo-me de torcedores perguntando ao treinador onde ele tinha arrumado aquele “baita” zagueiro. Não saí mais do time e fomos campeões da categoria juvenil. No ano seguinte, fui alçado como titular no primeiro time e também fomos campeões.
Com a titularidade, além de chuteiras novas e engraxadas a todo jogo, também comecei a dispor de um armário individual no vestiário, igual aos craques já consagrados, Valmor, Guina, Julinho, entre tantos outros.