AMOR DA POMBA GIRA

AMOR DA POMBA GIRA

Coisas da bola

Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.

Qualquer semelhança será puro acaso.

“Jair da Silva Craque Kiko”

Já passava do meio-dia quando o meu amigo afrodescendente, Sebastião, chegou a minha casa dizendo que precisava falar comigo urgentemente. Disse-me que tinha ido no saravá fazer uma consulta com o Preto Veio, para saber se ganharíamos a partida de domingo, e que encontrou no saravá a minha namorada, por quem eu estava perdidamente apaixonado, fazendo um “trabalho pra me amarrar”. Não acreditei, falando para o Tião que ela não era disso. Ele jurou de pé junto que era verdade. Conhecendo o amigo como só eu, acreditei, pois ele era uma pessoa muito correta. Tião trabalhava na Chevrolet onde lavava veículos e eu fazia cobranças de bicicleta e a nossa amizade ia além das quatro linhas, e também jogávamos futebol no mesmo time. Esse relato do meu amigo foi em uma quinta-feira. A próxima sessão do saravá seria na sexta e acertamos que iríamos juntos, até porque, eu não manjava nada desse tipo de coisa. Chegou a dita sexta-feira e a noitinha, eu e o amigo fomos até o centro espírita que se localizava na Rua Cruzeiro, no bairro Santa Rosa, próximo da casa de prostituição chamada de Xeringa (os homens daquela época sabem onde era). Lá chegando com a sessão já iniciada sentamos no último banco vago na parte dos fundos da sala. O pessoal do bumbo mantinha um ritmo brando enquanto as mulheres vestidas de branco no meio da penumbra cantavam e dançavam lentamente no centro da sala. Tamanho foi o meu susto quando uma dessas mulheres começou a se debater e deitada no chão como se estivesse tendo ataque epilético emitia sons esquisitos. Tião, então, cochichou-me que ela fora possuída por uma entidade chamada de Pomba Gira, uma prostituta. Já restabelecida, a mulher veio em minha direção e, trazendo um copo cheio de champanhe misturada com pétalas de rosa, dirigiu-me a palavra falando que se eu não acreditasse que também não abusasse, e que eu tinha ido buscar uma pessoa e levaria outra. Nem me dei conta do falado, simplesmente fiquei extasiado tamanha a beleza daquela mulher vista de perto. Tomei aquela champanhe oferecida num só gole e guardei uma pétala de rosa que ela me deu. Para encurtar a história virei frequentador daquele local só para tomar a champanhe e contemplar a imagem daquela mulher linda, pois toda a quarta e sexta-feira lá estava na certeza de que aquele copo de champanhe e aquelas pétalas de rosa eram só para mim. A minha namorada descrita no início da história teve de sair da minha vida, pois as quartas e sextas-feiras eu era da Pomba Gira. Nos outros dias da semana, eu pertencia àquela mulher que conheci no saravá.

 

 

Comente pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *