Recém promovido a titular na equipe do Ferroviário Esporte Clube no início da década de 1970, andava eu na ponta dos pés, pois jogar no futebol amador naquela época era a glória para qualquer atleta, tendo em vista a qualidade das equipes de nossas cidades.
Paralelo ao futebol amador da cidade acontecia um campeonato no interior do município de Porto União. Um vizinho meu, que possuía um sítio convidou-me para atuar pela sua equipe e, só jogaria quando não tivesse jogo pelo Ferroviário, esse seria o acordo. Como gostava de jogar bola, após pensar por uns dias, aceitei o convite.
No interior, o comentário correu solto devido à dita contratação do atleta da cidade, pois o meu vizinho me encheu a “bola” dizendo que eu era um craque, o que jogou uma baita responsabilidade para mim.
Chegou, então, a data da minha estreia. Logo após o almoço, utilizando uma Rural, veículo existente na época, nos deslocamos até a comunidade interiorana. Lá chegando, fui bem recebido, sendo tratado como alguém muito importante. Todos queriam conhecer o atleta do Ferroviário. Fomos, então, nos fardar embaixo das árvores, ao lado de um pequeno riacho. Recebi o uniforme, que era composto por meias com listras vermelhas e pretas na horizontal, calção preto, camisa vermelha e preta (igual a do” Framengo”) e um lenço vermelho. Fiquei intrigado com aquele lenço e perguntei ao treinador para que servia aquilo e ele me respondeu que era para colocar na cabeça, fazia parte do uniforme do time e teria que ser usado. Após ter me uniformizado, com ajuda do meu vizinho, amarrei o lenço na cabeça. Eram feito quatros nós nas pontas para fixar bem, quem já usou esse tipo de adereço sabe como é.
Após a preleção do treinador atravessamos a sanga e entramos em campo, com os pés já molhados. As coisas inusitadas não parariam por aí. Os postes das traves eram feitos de troncos de árvores com uma forquilha na ponta para assentar o travessão. Como os travessões eram abaulados, era aí que o time da casa levava vantagem. Na nossa trave, o nosso goleiro virava o travessão com a parte abaulada para baixo, o que diminuía a área da meta. Na meta adversária, o travessão era virado com a parte abaulada para cima, o que aumentava a área da meta. Ficavam duas pessoas, uma ao lado de cada poste para não deixar o goleiro adversário mexer no travessão.
Começou, então, a peleja. O juiz não apitava qualquer falta. O jogo era muito viril e por sorte ninguém se machucou dentro de campo. Empatamos em 1 a 1. Adivinhem quem fez os gols? Eu, sim, eu mesmo. Fiz um gol de falta a favor e um contra. O acontecimento maior viria após o jogo. Quando atravessávamos a sanga para retirar o uniforme, um jogador do nosso time empurrou um atleta contrário, que caiu no riacho e se machucou. A partir desse fato, o pau comeu e começou uma briga generalizada. Jogadores, torcedores e policiais se tramaram na pancada. Só lembro de ouvir tiros e de ver um torcedor dar uma facada tirando um pedaço do nariz de uma pessoa. Com medo saí correndo e fui parar lá na ZBM (zona do baixo meretrício) que ficava nas proximidades, onde fiquei esperando o meu vizinho. Já na boca da noite, ele apareceu trazendo as minhas roupas. Entrei no veículo e viemos embora. Nunca mais recebi convite do time. Mas tinha uma certeza, eu ali não voltaria mais por conta própria.