DO COTEJO ÉPICO ENTRE JUVENTUS E OLARIA SURGIU A ALCUNHA DE MARACANÃ DO OESTE

DO COTEJO ÉPICO ENTRE JUVENTUS E OLARIA SURGIU A ALCUNHA DE MARACANÃ DO OESTE

Culminando com uma reforma total no Estádio Municipal de Porto União, os mentores do esporte Rei, aproveitando o giro dos “bariris” pelo sul do país, presentearam o público torcedor das cidades irmãs, Porto União e União da Vitória, com um prélio intermunicipal, onde o esquadrão do Distrito Federal, Olaria Atlético Clube, peleou contra o tricolor pó de arroz do Juventus F.C.

Com uma massa torcedora nunca antes vista pelas bandas do bairro Tocos, naquela tarde de sábado, 09 de abril de 1955, no recém remodelado Estádio Municipal de Porto União, adentraram àquele tapete verde que ficaria conhecido a partir dali, como Maracanã do Oeste, o campeão do ano Santo, Juventus F.C. e Olaria Atlético Clube da cidade do Rio de Janeiro para medirem forças numa refrega futebolística.

A pelota rolou e os bariris encontraram pela frente um oponente seríssimo, que nos primeiros instantes estava aflito e errando muitos passes e se desfazendo rapidamente da redonda, com medo da fama da turma do Rio de Janeiro, mas caiu na real e percebeu que seu antagonista era feito de carne e osso e não era o bicho papão.

Dando show e fazendo misérias no certame carioca e nas excursões pelo país, o excelente onze do Olaria penou para abiscoitar um triunfo, principalmente porque pela vez primeira saia atrás no marcador. Em um combate inicialmente equilibrado, onde a raça e entusiasmo dos juventinos contrastaram com a técnica apurada do esquadrão da Vila Bariri, o quadro de Porto União mexia pela primeira vez no marcador. Em um lance de arrojo do extrema esquerdo Dinha, que se desvencilhou do contendor Osvaldo e deu um passe açucarado na marca penal, o dianteiro Ari Maltauro numa fusilada de primeira acertava o canto baixo direito do arqueiro carioca, Fernando, inaugurando a contagem balançando o véu da noiva e fazendo os torcedores irem ao delírio, isso aos 15 minutos da etapa inicial.

Com bom toque de bola e jogadas de efeito, os olarienses não se preocuparam com o escore adverso e, aos 35 minutos, em lances lindos, o extrema esquerdo Mário, após fazer um carnaval na “becaria” do Juventus, quase embaixo da risca da meta não foi fominha e, de garrão, serviu seu companheiro ofensivo Arlindo, que não teve trabalho difícil para mandar a redonda ninar e decretar a igualdade, 01 a 01. Mesmo na voluntariedade juventina e na técnica dos visitantes o placar não foi mais mexido na primeira metade.

Já no início da etapa derradeira percebeu-se a inteira supremacia dos cariocas, que aos 03 minutos pulava à frente do marcador, com um lindo tento feito pelo ótimo ponteiro esquerdo Mário. Muito vigiado pelo beque juventino Ivo Hercílio Wolff, o único que lhe fazia frente, Mário nessa jogada, inteligentemente e de forma inesperada ludibriou Ivo e, da entrada da pequena área, de costas para os três paus, numa puxeta acrobática, por cobertura burlava a vigilância do guardião Canela e derrubava a sua meta, fazendo 02 a 01. Com o belo tento, o ponteiro reverenciou os aplausos que recebeu dos torcedores das arquibancadas, dos posicionados no barranco e dos que estavam empoleirados em cima de suas bicicletas encostadas no muro, onde podia-se visualizar somente as suas cabeças. Aliás, é bom que se frise, com os vinte “mangos” cobrados para adentrarem ao estádio, se todos as cocorutas visíveis no muro passassem pela bilheteria, com certeza mais alguns mil seriam contabilizados na renda.

Lá pelos 08 minutos, o meia direta bariri, Toledo, após uma furada inconcebível e medonha do beque Conrado ampliava o escore. Inconcebível porque errou da bola sem mais nem menos, onde nem a justificativa de gramado ruim pôde dar, pois de tão perfeito que estava, parecia como um legitimo tapete verde. Com a vantagem de 03 a 01, o comandante carioca se deu ao luxo de sacar os seus principais renomes para poupá-los visando os outros embates que teriam nessa excursão, agora pelo lado paranaense. Diante disso, se recuperou e cresceu dentro das quatro linhas o quadro juventino, passando a fustigar a meta bariri conseguindo o outro tento através do extrema esquerda Dinha. Da entrada da grande área, na meia lua pelo lado direito do seu ataque, Dinha, de três dedos, atirou de repente pegando o guapo Fernando desatento, abrandando a desigualdade e encostando no marcador, 03 a 02. Logo em seguida, o canhão do Municipal, que atuava ofensivamente pela marginal direita juventina, Romeu João Savi, que reaparecia no onze depois de longo tempo no estaleiro, fez estremecer o poste direito com um tremendo tiro do meio da rua e, no rebote, firme como um rochedo, mesmo deitado, o bom guarda valas Fernando encaixou o “caroço”. Com lances bons de lado a lado foi finalizado o prélio com o triunfo do Olaria por 03 tentos a 02.

Pela turma do Juventus, as figuras salientes foram Almir, Valfrido, Colita, Dinha e Ivo, que assombrou pela sua cabal exibição, numa gala quase total e, não foi titubeado em lhe darem a nota máxima da contenda, pois foi um baluarte, não se importando com os cartazes contrários, desbotáveis, sem dúvidas.

Destacaram-se com certa relevância no bando bariri as figuras do arqueiro Fernando, o beque Jorge, e os dianteiros Maxwell, Arlindo e Mário. Encheu os olhos dos torcedores de Porto União da Vitória o centro médio Olavo, que deu um show e merece um capítulo a parte: há muitos anos no juvenil do Madureira do Rio de Janeiro, apareceu um moleque moreninho e meio estrambólico, que tanto ditava cátedra futebolística como distribuía botinadas. Esse moleque cresceu e ascendeu aos titulares do esquadrão que revelou Jair da Rosa Pinto ao mundo do esporte bretão. Envergando agora a jaqueta do Olaria Atlético Clube, com vinte e poucos anos de idade, leva a fama de ser o contendor mais violento do futebol carioca. Contam ainda, que certa vez um indivíduo lhe pediu um autógrafo e Olavo lhe soltou uma tremenda bicuda na canela, deixando uma marca roxa de suas travas. Depois falou ao fulano: estou lhe dando um autógrafo desse tipo porque esqueci a caneta no vestiário. Portanto, foi grande o espanto com que o vimos atuar, onde como capitão do seu quadro Olavo esbanjou categoria e foi um exemplo de disciplina e respeito ao seu litigante. Inquirido sobre a sua má fama, com simplicidade redarguiu: sou um legitimo contendor e dou sangue pelo meu esquadrão e, se as vezes me torno violento é devido ao meu temperamento, as vezes explosivo. Ainda aproveitando a oportunidade, disse, quero dar os parabéns pelo excepcional gramado e ao brilhante Estádio, pois foi o melhor em que atuamos fora do Rio de Janeiro e pode ser considerado como o Maracanã do Oeste.

Ficha técnica do confronto:

Juventus F.C. 02 x 03 Olaria Atlético Clube.

Estádio Municipal de Porto União – 09 de abril de 1955 – sábado.

Renda – Cr$ 22.850,00.

Mediador – Acistocilio Rocha (do Rio de Janeiro), com ótima atuação.

Tentos: Balançaram as redes pelo Juventus, Ari Maltauro e Nestor de Andrade (Dinha) ambos com 01 tento cada. Pelo Olaria, Arlindo, Mário e Toledo, também, todos com 01 tento.

Formou o Juventus F.C.: Raul Canela, Conrado e Ivo Hercílio Wolff. Almir, Valfrido dos Santos e Walmor Goia. Romeu João Savi, Danilo, Ari Maltauro, João Colita Junior e Nestor de Andrade Dinha.

Jogou o Olaria: Fernando, Osvaldo (Renato) e Jorge. Moacir, Olavo e Dodô. Toledo (Osires), Arlindo (Tião), Gaúchinho (Rafael), Maxwell (Carlito) e Mario (Eltes).

Obs:  Esse texto fará parte do livro Balão de Couro – Prélios de uma época memorável.

Comente pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *