FERROVIÁRIO E.C. TENTANDO ACABAR COM A FALTA DE TÍTULOS – 1970

FERROVIÁRIO E.C. TENTANDO ACABAR COM A FALTA DE TÍTULOS – 1970

O esquadrão bicho papão de títulos do já lendário Estádio da Caixa D’água, Ferroviário E.C., desde 1964, quando foi campeão paranaense da 1ª Taça Paraná de futebol amador, agonizava e estava em jejum de conquistas por seis anos seguidos, fato inédito na sua existência até aquela data, pois desde a sua fundação em 1° de maio de 1944, nunca passou dois anos consecutivos sem levantar um caneco. Tentando parar com essa má fase, a diretoria comandada pelo presidente Clodoveu Santana Mendes, com visão de futuro, naquele ano de 1970, tentou reerguer o famoso quadro da Estação Ferroviária e saiu em busca de novos elementos bons de bola para compor o elenco.

Embora que, no pós 1964, a categoria de juvenis do Ferrinho era a força máxima nessa modalidade e vinha triunfando em tudo o que disputava, o quadro principal já deixava a desejar, principalmente porque alguns craques estavam em final de carreira e, mesmo o elenco mesclado por contendores dos aspirantes e juvenis, não estavam mais rendendo dentro das quatro linhas, muitos estavam peleando somente com a fama.

Por ter colocado em seu círculo de amizades o comandante do 5° Batalhão de Engenharia e Combate de Porto União, amizade essa, que começou quando as duas instituições comemoraram juntas os seus aniversários no dia 1° de maio, o Sr. Clodoveu passou a ser amicíssimo do comandante do Batalhão e, obteve, no fio de bigode, a palavra dele, que naquele ano daria força para Ferroviário E.C. nas contratações dos soldados bons de bola que viriam tirar o serviço militar, pois em anos anteriores, um clube da elite da sociedade, através do antigo comandante, era privilegiado nesse quesito.

Nem bem chegaram os conscritos para o serviço militar, a diretoria do Ferroviário foi avisada pelo comando do batalhão sobre uns jovens, futuros praças que tratavam a redonda com carinho e estavam à disposição para serem observados. Para tanto, o ex-craque e ícone do esquadrão dos trens, Nilson Gilson Parise (Nico), agora técnico do quadro, ficou indo durante uma semana toda observar os treinos dos jovens milicos. Catedrático que fora dentro do tapete verde, seus olhos brilharam ao ver o desempenho de um arqueiro, um beque de área e um dianteiro. Após prosa com o comandante e acerto com os atletas na verba a ser dispendida nas suas contratações, os três soldados se bandearam para defender as cores do Ferroviário E.C.

Com treinamentos em todos os finais das tardes em dias de semana, o esquadrão começou a pegar um bom conjunto, onde lances ensaiados aliados às características individuais de cada jogador, começaram a fazer a diferença nos confrontos atados. Era um elenco bastante renovado, mesclado e muito leve, tendo como principal característica a movimentação constante do seu onze dentro do palco verde. A sua meia cancha e sistema ofensivo eram compostas por jogadores fininhos e muito lépidos, que deixavam as cozinhas contrárias batendo cabeça, pelos deslocamentos e qualidade técnica.

Em preparação do esquadrão para embates pelo certame da L.E.R.I – Liga Esportiva Regional Iguaçu, várias cotejos amistosos foram realizados, onde os triunfos sorriram, sendo considerado o tira teima final do quadro, um prélio na cidade de Mafra, contra o Peri Ferroviário da cidade do mesmo nome. Tendo como palco o Estádio Ildefonso Mello, conhecido como Baixada Mafrense, localizado nos fundos da Estação Ferroviária, em uma tarde de domingo que chovia a cântaros, os esquadrões duelaram. Penando durante todo o prélio, a cozinha do Ferroviário sofria constantemente a fustigação dos dianteiros contrários. O guapo do quadro dos trilhos de União da Vitória, o milico contratado, se via em papos de aranha fazendo defesas monumentais para guarnecer o seu arco, defendendo fuziladas de perto e de longa distância. Voou mais que piloto de avião e pegou até sombra na chuva. Como se diz na gíria futebolística, “estava largo”, naquele domingo não estava para o amor, mas sim para o jogo.

Mesmo sofrendo muita pressão, a agremiação de União da Vitória também atacava os mandantes e, em uma bola espirrada da sua zaga, um legítimo chutão de um beque, na velocidade o meia atacante, o outro milico contratado, encarou sem medo o arqueiro do Peri que saia da meta para tentar interceptar o arremate, deu um toque enjoado para dia de chuva e agasalhou a redonda embaixo do “véu da noiva”. Com esse tento, e com o seu guarda redes pegando tudo e garantindo a sua meta, o Ferroviário E.C. de União da Vitória saia triunfante nesse prélio pelo escore mínimo, 01 tento a 00.

Terminada a peleja, os jogadores do elenco visitante se banhavam em seu vestiário, quando apareceu um torcedor dizendo que queria falar com o maior goleiro que vira pelear até aquele dia, inclusive queria lhe dar todo o dinheiro do prêmio que tinha ganho, quando assinou um bolo esportivo (palpite) prevendo que o Peri perderia por 01 tento a 00. O arqueiro do Ferroviário ficou muito faceiro, pois vindo do oeste catarinense para servir o batalhão, nunca tinha visto tanta nota de dinheiro em suas mãos. Até se fez um pouco de rogado e não queria aceitar o “me faz rir”, mas guardou correndo tudo as notas no bolso.

No outro domingo, já pelo certame da L.E.R.I., o Ferroviário enfrentaria no palco do Estádio da Caixa D’água, o forte esquadrão do Avahi, que também tinha montado um timaço, pois queria ganhar o caneco da L.E.R.I. e repetir o feito do Ferroviário na Taça Paraná. Já no sábado pela manhã, São Pedro abriu as torneiras e um violento “pé d’água” se abateu sobre as cidades irmãs até às 11 horas do domingo.

Com inspeções no gramado do Estádio do Ferroviário para ver se oferecia condições para a realização do prélio, uma dúvida pairou no ar entre arbitragem, presidentes da Liga e dos dois antagonistas. Embora o campo tivesse uma boa drenagem, pois dificilmente empoçava água, a previsão para à tarde era de mais aguaceiro. Reunidos com seus staffs e capitães dos elencos, em baixo das traves e várias partes do gramado, todos deliberavam. Os avahianos eram contrários a realização da contenda. Pelo lado do comboio dos trens, representando os jogadores, o capitão era contrário a realização da contenda, pois como o onze da Vila possuía jogadores leves e muito técnicos, seriam extremamente prejudicados pela atual condição do gramado, ainda mais se chovesse. Craques como Aguinaldo, Julinho, Rotta, Clarêncio, Pingue e Roni teriam seu futebol prejudicado. Alegava o capitão, o elenco contrário tinha atletas com bom porte físico, pesados, que levariam vantagem com o gramado pesado. Citou os jogadores, Daniel Stafin, Getúlio Dal Castel, Mauro Silva, Mário Emílio, Luiz Jorge Côas, Luizinho Gomes e Carlos Alberto. Contrariando o capitão, o presidente do Ferroviário, Sr. Clodoveu, queria aproveitar a boa fase do esquadrão, principalmente porque no combate anterior lá na cidade de Mafra, abaixo de chuva, tinham conseguido uma grande vitória. Após deliberações, com peso maior, por ser o presidente do clube mandante, o presidente Clodoveu optou pela realização do duelo. Rapidamente as bandeiras dos dois Clubes e da Liga foram hasteadas em cima da famosa caixa d’água, sinalizando para os torcedores moradores das adjacências que o balão de couro ia rolar naquela tarde. A casa ficou cheia, não só pelo confronto dos favoritos ao caneco, mas também, porque o avante Luiz Jorge Côas, craque campeão da Taça Paraná pelo Ferroviário, devido alguns entreveros, preferiu se bandear para o onze avahiano. Dizem uns desportistas remanescente à época, que ele se vendeu, não tinha amor no coração pelo quadro da Estação, ficou “jurado”.

Para preservar o tapete verde, a contenda sopa entre os aspirantes foi cancelada. Com os quadros em suas posições, o mediador trilou o seu apito dando a largada na porfia e, São Pedro, novamente abriu as torneiras. Mesmo com a ótima drenagem, ficou praticamente impossível de rolar a bola no gramado. Vantagem tirou a turma do Avahi, que logo de cara abriu o placar através de uma bola centrada na área. E foi assim, em praticamente mais quatro chuveirinhos na grande área do time da estação, mais quatro tentos eram assinalados. Praticamente o guapo do Ferroviário, aquele que tinha fechado o arco lá em Mafra no domingo anterior, só conseguiu pegar na redonda para ir apanhá-la nos fundos da sua rede. Em questão de um domingo para outro, ele tinha ido do céu ao inferno, coisas da posição ingrata que ocupa um arqueiro. Tomando uma sacola de tentos em seu reduto, o Ferroviário viu sua chance de acabar com o jejum e abiscoitar o caneco ir para as cucuias. Somente no ano de 1973 o Ferroviário conseguiu ser campeão, justamente no último certame patrocinado pela L.E.R.I. que deixaria de existir. Já o Avahi, com essa magnífica vitória deu um passo importante que lhe levou à conquista do certame de 1970, chegando ao bi em 1971, mas infelizmente para nós torcedores de Porto União da Vitória e amantes do ludopédio, não conseguiu o triunfo máximo em uma Taça Paraná.

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