HISTÓRIAS DO CRAQUE KIKO – 30 COMEMORAÇÃO “POSTÍTULO” DO CERTAME.

HISTÓRIAS DO CRAQUE KIKO – 30 COMEMORAÇÃO “POSTÍTULO” DO CERTAME.

Coisas da bola

Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.

Qualquer semelhança será puro acaso.

“Jair da Silva Craque Kiko”

Fã daquele pessoal que peleava todo sábado num lendário campo de peladas localizado à margem direita do Rio Iguaçu, precisamente no maior bairro situado na cidade do lado paranaense, fazia algum tempo que aquele chutador de bola almejava fazer parte daquele bando de jogadores, que para participar, a figura tinha que pelear um ludopédio razoável e ser aprovado por todos os integrantes do plantel. O objetivo maior daquele grupo de amigos amantes do “Esporte Rei”, além de se apresentar dentro das quatro linhas e dar espetáculo com o balão de couro, era sempre, após uma contenda, tomar umas louras geladas e jogar uma resenha fora. A integração da turma, a convivência, a socialização e o lazer estariam garantidos, além de que, a cada trinta dias, um lauto jantar com todos os familiares firmaria uma união maior entre os integrantes.
Após um treinamento durante uma quarta-feira, em uma reunião rápida embaixo de uma das traves, aquele chutador foi aprovado de forma unanime, passando a fazer parte do esquadrão, até porque, todos o conheciam e, também, porque litigariam pela primeira vez em um certame da Liga de futebol amador das cidades irmãs. Disputando aquela competição chegaram na grande final conseguindo o cetro máximo de forma invicta, inclusive naquele sábado da decisão, o novo integrante teve o privilégio de estufar o barbante cobrando uma infração do meio da rua.
Depois do confronto decisivo, foram todos comemorar na sede do grupo, sendo que a festa maior já fora programada para o sábado seguinte. Entre umas biritas e outras, alguns boleiros campeões resolveram dar uma passada em uma “casa das primas”, localizada em uma das cabeceiras da ponte dos trens. Chegando lá, o boleiro novo percebeu que todos já eram conhecidos das damas. Uns subiram no pequeno palco e providenciaram um batuque. Outros, adentraram às demais dependências, ou seja, aos quartos onde se alugavam os “corpos”, mas que naquele momento somente eram usados para o pessoal prosear com as suas respectivas donas. Com muita conversa em som de quase grito, muita cerveja correndo solta e já inundando a razão, eles festejavam o caneco ganho acompanhados pela clientela frequentadora daquele bordel, visto que, não tinham o cacife financeiro para fechar a casa e ter a exclusividade, afinal, a dona daquele lupanar tinha que faturar.
Passava da meia noite e sem que ninguém se preocupasse com o adiantado da hora, todos alegres e com o alto poder etílico tendo “cozinhado” e tomado conta das suas cabeças, era um contentamento só, inclusive o lateral direito, tinha se escalado e assumido o balcão do bar, sobressaindo-se como um verdadeiro bartender, atendendo prontamente os pedidos dos clientes.

Em um determinado momento, adentrou ao recinto uma senhora, sendo imediatamente reconhecida pelos integrantes do esquadrão, que rapidamente “picaram a mula” se escondendo e ficando bombeando por detrás da cortina de uma porta do enorme corredor que levava aos dormitórios. Se dirigindo diretamente ao balcão, a senhora foi recebida pelo lateral barman, que prontamente ao levantar a cabeça para dar atendimento, proferiu as seguintes palavras: e tu querida, vai querer o que? Quando vislumbrou que a senhora era a sua digníssima esposa, o final da frase foi completado quase em um grito, tamanho o susto que levou. Estupefato, de cabeça baixa, contristado e sem nenhuma ação ele ouviu o maior sermão, quando era seguidamente alcunhado de “cachorro sem vergonha”, lá em casa você me paga seu “jaguara”. Ainda dando um enorme esculacho e esbravejando bastante, a nobre senhora se virou e ficou de costas para o balcão, como querendo tomar ciência total do ambiente, e percebeu, sentado num sofá ao lado da pista de danças, o extrema- esquerda com um copo de cerveja na mão, que pego de surpresa não teve tempo de se esconder junto com os demais e, teve que ouvir a maior reprimenda: e você! Que não conseguiu se esconder junto com os outros, não vai para sua casa? Quer que eu ligue para tua mulher vir te buscar? Como um raio, o ponteiro escafedeu-se do salão. Ainda aturdido pelo susto, o marido “barman” foi puxado por uma das orelhas e levado para fora daquele antro de perdição sem esboçar a menor reação, enquanto a galera que estava escondida atrás da cortina, se desmanchava em risadas.
Chegando em sua residência, a patroa, após pô-lo no “tronco”, onde, dizem por aí, a chibata entrou em ação, teve como segunda providência ligar para as demais esposas contando do flagrante dado naquele conventilho. Como consequência da “deduração”, alguns participantes do esquadrão foram convidados por suas patroas a nanar algumas noites fora de seus quartos, dormindo no chão ou inaugurando o sofá como cama de dormir. Diante dos fatos escancarados, numa reação imediata dos boleiros, a festa de comemoração do triunfo no certame foi cancelada, mas o cotejo atado foi mantido, onde só apareceram para pelear os boleiros solteiros. Alvos de muitas gozações dos não casados, que afirmavam que quem mandava na casa eram as mulheres, o pessoal de aliança na mão esquerda, mais tarde voltou à porfiar, só que imediatamente após os cotejos, retornavam “correndinho” para suas casas.
Esse tipo de história na fuzarca, embora tenha sido uma dentre muitas, e em razão disso, alguém (mulher) afirmou, que o homem não foge à sua natureza, é “caco baixo”, as infrações do mesmo naipe continuaram e, devido a reincidência, alguns boleiros tiveram que pagar uma pensão alimentícia arbitrada por um “capa preta”.
Recentemente, sentados à sombra daquele grande pé de cinamomo, relembrando às várias passagens das suas vidas até então, ao som de muitas gargalhadas, o barman lateral direito fumando um charuto cubano e o narrador desta bebericando uma graspa, com a anuência do amigo ala, foi dada a permissão para que o acontecido fosse escrito, mas sem citar nomes. Ambos, “Cabeça Branca”, ajustaram, que tirariam uns dias de descanso na fazenda de um deles, levariam um gaiteiro e um tocador de viola, umas amigas para fazer companhia, assariam uma carninha, literalmente, e…. a vida que seguisse o seu rumo, até quando quisesse…

Texto publicado no Jornal Caiçara em 11/02/2022.

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