HISTÓRIAS DO CRAQUE KIKO – 6 – PENETRAS NO BAÚ CLUBE DE CAMPO

HISTÓRIAS DO CRAQUE KIKO – 6 – PENETRAS NO BAÚ CLUBE DE CAMPO

Coisas da bola

Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.

Qualquer semelhança será puro acaso.

“Jair da Silva Craque Kiko”

Entre um bate bola e outro durante o recreio no curso ginasial no Colégio Cid Gonzaga, atei um prélio amistoso com um colega de curso para ser duelado no campo da Encruzilhada, hoje bairro São Sebastião, no domingo pela manhã. Por volta dás 9 horas, eu e mais dez meninos naquele domingo, de bicicleta nos deslocamos até o local do confronto. Durante o percurso de 7 km, além do jogo de camisas, também era levado no porta bagagem de uma bicicleta, as merendas dos jogadores, pois tinha sido combinado que após a contenda, alguns de nós pararíamos em uma bodega de beira de estrada para comprar umas gasosas e forrar a pança com as merendas.
O prélio não saiu como esperávamos, porque mesmo contando no elenco com uns piás bons de bola, o campo inclinado favoreceu ao quadro da casa, que sabendo dos atalhos para chegar ao arco contrário nos enfiou uma balaiada de tentos.
Pós vareio de bola, oito meninos rumaram de volta para suas casas, no quase centro de Porto União da Vitória. Eu, o Carlos e o Nego Beto, conforme combinado, para aproveitar a proximidade, tínhamos programado para ir tomar banho em uma piscina no Baú Clube de Campo. Mesmo não sendo sócios, entraríamos de ratão pelo meio do mato, onde as nossas bicicletas ficariam escondidas.
Passamos a tarde toda daquele domingo nadando junto com os sócios frequentadores e imaginamos que “ninguém” tinha percebido que éramos penetras, até porque, pensávamos, nenhuma viva alma imaginaria que alguém fosse se deslocar do centro da cidade até lá para tal. Já na boca da noite, após torcermos os calções encharcados e trocarmos a roupa no meio do mato, percebemos que as nossas bicicletas tinham sumido. Sem saber o que fazer, nervosos e preocupados em como voltar para casa e como explicaríamos o sumiço das nossas “magrelas”, tomamos a decisão e ir até a portaria do Clube e contar para o porteiro o acontecido. Após ouvir o nosso relato, principalmente que erámos penetras e que as nossas bicicletas sumiram, o porteiro nos disse que teria sido mais fácil e honesto se nós tivéssemos pedido para passar o dia lá, porque logo de vista ele tinha percebido que não fazíamos parte do quadro associativo, até porque ele conhecia todos os sócios. Quando nos viu lá dentro, tomou a iniciativa de ir até o mato procurar as nossas bicicletas e as guardou em um cômodo ao lado da portaria. A sorte de vocês, disse ainda o porteiro, é que fiquei com dó, porque a essa hora vocês estariam pelados, pois também ia esconder as roupas, mas vi que seria uma grande judiaria. Após aplicar um sermão, nos disse que se o fato voltasse a se repetir, não devolveria as bicicletas e teríamos que fazer faxina em todos os banheiros.
De posse, novamente, das magrelas, cansados, já noite adentro, pela estrada de chão rumamos com destino aos nossos lares. Pedalando pelo rumo naquela escuridão, seguidamente, caíamos e levávamos um solavanco quando passávamos por cima dos vários buracos naquela via vicinal. Quando estávamos mais ou menos na metade do caminho de volta, devido aos esforços feitos naquele dia, da locomoção, no prélio naquele campo inclinado e, principalmente, pela natação durante toda à tarde, as cãibras apareceram e começaram a ser um tormento para nós três. Andando um pouco a pé e empurrando as magrelas, um pouco pedalando, foi um legítimo parto “natural complicado”, até chegarmos em nossas casas lá pelas onze horas da noite.
Como não aparecemos em casa antes do anoitecer, os nossos pais foram atrás de informações para saber do nosso paradeiro e, após saberem que nós três tínhamos rumado até o Baú, em um carro pertencente ao pai do Nego Beto eles se dirigiram até o Clube de Campo, onde ficaram a par da nossa façanha. Sem percebermos, a nossa volta estava sendo monitorada pelos nossos pais, que de propósito, não nos ajudaram no retorno e deixaram que sofrêssemos as consequências para aprendermos a fazer a coisa certa. Ouvindo um sermão daqueles e prometendo que a deixaria a par das minhas atividades, a minha mamãe massageava as minhas pernas com mentruz e álcool, que me proporcionou um pequeno alívio, mas no dia seguinte as dores se acentuaram e passei a semana toda travado.

Matéria publicada no Jornal Caiçara em 27/02/2021.

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