HISTÓRIAS DO CRAQUE KIKO – 39 A TANGUINHA DELATORA.

HISTÓRIAS DO CRAQUE KIKO – 39 A TANGUINHA DELATORA.

Coisas da bola

Coisas da bola são relatos de fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outros frutos da minha imaginação.

Qualquer semelhança será puro acaso.

“Jair da Silva Craque Kiko”

O início da primavera estava chegando e o céu ensolarado no começo daquela manhã era prenúncio de mais um final de semana lindo. O clima estava colaborando e a programação fora mantida. Um torneio de futebol suíço seria realizado para angariar fundos para a construção de uma pequena ermida naquela vila interiorana. Esquadrões famosos das cidades vizinhas haviam confirmado a presença. Caminhões com as carrocerias entupidas de jogadores e torcedores se deslocavam para aquela famosa vila do interior. O churrasco no fogo, cheirava. Tudo conspirava para ser um baita domingo festivo.

A primeira e esperada atração antes do torneio, logo pela manhã, seria um jogo de futebol entre as autoridades daquelas cidades vizinhas. Advogados, juízes, promotores, empresários, contabilistas, prefeitos, presidentes das câmaras municipais, entre outros convidados, dariam espetáculos dentro das quatro linhas maquiados e vestidos como se fossem mulheres. Aquele atleta que estivesse melhor caracterizado como uma dama receberia um troféu, ganharia o almoço e de “nhapa” levaria para a sua esposa um enorme corbeille de flores. Vale salientar, que na semana anterior ao prélio “feminino”, os protagonistas conversavam entre si e trocavam ideias sobre as suas vestimentas. As costureiras das cidades vizinhas ficaram abarrotadas de serviço, porque a “homarada” queria estar nos trinques e saía atrás das indumentárias. E era, aperta mais a cintura do meu vestido, corta e faz desse longo uma minissaia, dessa calcinha faça uma tanga, preciso de um par de meias longas, quero um espartilho, onde acho um corpete que me deixe sexy…

Um grande público se acomodava na pequena arquibancada improvisada e em volta da pequena cerca que circundava o tapete verde, pois a promoção tinha sido amplamente divulgada nas emissoras de rádio das cidades e a curiosidade era grande. Com o entorno das quatro linhas também apinhado de expectadores não autorizados, que invadiram, houve um leve entrevero porque estavam atrapalhando a visão da massa que estava na arquibancada e ao redor da cerca. Meio a contragosto, os penetras saíram do entorno do campo e o gramado ficou livre para aquela “chutação” de bola, inusitada naquele quase fim do mundo. As “craques” aos poucos, foram chegando. Era uma gozação só. Cada um vestido a caráter, usando roupas femininas emprestadas das esposas, namoradas, filhas ou mães.

Após o pipocar do foguetório e apresentação dos astros para a torcida, a contenda foi iniciada. Faz-se necessário relatar que, a peleja mesmo sendo pela parte da manhã, o álcool já porejava nas mentes. O garrafão de graspa passava de boca em boca. Nenhuma“craque” se furtou de dar ao menos duas grandes bicadas no gargalo e todos já estavam chumbeados, porque tudo era uma festa. Foi dado o pontapé inicial e o cotejo virou uma bagunça só, com muitos erros nos chutes e também muitos tombos. Eram gritos e risadas dentro e fora do tapete verde. A alegria e felicidade estava presente em todos por ali.

Em um banzé num dos ataques, um beque e um dianteiro tropeçaram e caíram um por cima do outro e, os demais atletas, todos “cozidos” também foram se pinchando, ocasionando um amontoado de pessoas. A torcida vibrava e ia à loucura. Aconteceu que nesse monte de corpos do “sexo frágil”, o vestido de um atleta levantou deixando à mostra a calcinha de sua mulher que ele estava usando. Um outro, vendo aquela tanguinha, apontando com o dedo indicador começou a gritar dizendo que conhecia muito aquela peça íntima. Diante do comentário, de forma generalizada, o pau comeu feio e fedeu sangue. Os familiares das “damas briguentas” invadiram o gramado e a coisa cheirou mal deveras. Foi cacete para todo o lado.

Devido ao enorme fiasco o torneio teve que ser cancelado. Várias “jogadoras” foram parar no hospital. Foi chamada a força policial e o imbróglio foi levado para dentro de uma delegacia de polícia. Sendo acusado de calúnia e difamação, durante o interrogatório o atleta que no prélio falou que conhecia aquela calcinha, abriu o jacaré para o “doutor delega”. Disse, que andava bolinando o corpo da dona daquela tanguinha já fazia bastante tempo – que todo mundo sabia, até o dono da “galhada” que se fazia de desentendido. O fato só gerou a confusão porque ele reconheceu a peça íntima, e como estava com o fióte cheio de pinga abriu o bico fazendo aquele comentário na hora do jogo. O chifrudo se obrigou a tomar uma providência e partiu para a bordoada para não ser chamado de corno manso.

Após vários depoimentos, aos poucos o novelo que era grande, foi se desenrolando e apareceu podre de meio mundo. Vendo que a coisa estava ficando desgovernada, até porque, apareceram fatos libidinosos de muita gente considerada de bem, até de um pregador da palavra (para não ser linchado pelas pessoas, roubou a secretária da paróquia e armou o paletó. Mais tarde contraiu matrimônio). O delegado sentindo o odor da grande podridão que começava a infestar o ar resolveu encerrar as investigações, também com medo de que algumas de suas façanhas fossem jogadas no ventilador.

Diante do acontecido, fica uma dica para os machões de plantão e metidos a fazer “refeição fora de casa”. Quando forem jogar uma partida de futebol vestidos de mulher, nunca usem a tanguinha ou samba-canção da sua patroa, vai que alguém conheça a peça íntima. Terá fuzarca na certa.

Teto publicado no Jornal Caiçara em 14 de janeiro de 2023.

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